É mais complicado dizer "desculpa" ou "amo-te muito, meu amor" na língua materna do que proferir as mesmas palavras num idioma exterior. Pelo que vi no jogo de ontem entre a Holanda e a Dinamarca, parece que o mesmo sucede na categoria "asneiredo". Affelay, dos laranjas, depois de enviar a bola por cima da barra, profere um curioso "PUTA MADRE!!", uma obscenidade típica dos arredores de Eindhoven. Um pouco mais tarde, o seu colega Van Persie sai-se com um ufando "FUCK!", evidente manifestação de pesar nas ruas de Roterdão. No futebol como noutras coisas, até a línguagem já adquiriu propriedades globais. Quanto ao jogo, uma menção para o Robben: até a minha vóvó já sabe o que vais fazer mal pegas a bola na esquerda.
"Tivemos azar."; "resultado injusto."; "não fomos nada inferiores."; "continuamos de cabeça erguida."; "há que continuar a trabalhar."; "estamos orgulhosos."; "temos de manter esta atitude.". Um discurso usual, sobretudo naqueles jogos da Taça de Portugal em que uma equipa da 3º divisão vai a um dos campos dos principais clubes e perde por apenas um ou dois golos e sente uma natural satisfação por isso, já que pensaria ser passada a ferro, o que só não acontece porque os jogadores dos principais clubes nesses jogos passam mais tempo a pensar nas jantes dos carros e nas cintas de ligas das suas louras platinadas esposas (toma dinheiro amor, vai ao shopping). Assim sucedeu ontem, com os alemães a pensarem mais em descomunais orgias na floresta negra do que em jogar à bola contra uma selecção que seria, essa sim, passada a ferro por aquela outra que em 2000, com a equipa B, espetou três secos a estes mesmos SS. Quanto ao "melhor jogador do mundo", há a informação de que fez um hat-trick contra o Brasil.
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