sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011.

1- Hereafter
2- United Red Army
3- Offside
4- Gianni e le donne
5- Essential Killing
6- Midnight in Paris
7- E o Tempo Passa
8- Film Socialisme
9- La piele que habito
10- Tio Boonmee

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"o realizador leva a água ao seu moinho" e também a "um bom porto".




Como "tema", Network estará sempre imperturbável aos desmandos do tempo, pois a televisão foi, é e enquanto existir sempre será uma das maiores lixeiras criadas pelo ser humano- o que de bom já foi feito até hoje na história da tv não deve corresponder a 0,001% do total de segundos captados e tratados analógica ou digitalmente e ainda esse facto de haver gente que prefere dizer que é "banqueiro" ou "dirigente desportivo" a "jornalista televisivo", quando lhes perguntam a profissão-, a par do Starbucks ou de um agente financeiro. O filme de Lumet dá-nos a sordidez, oportunismo e hipocrisia do mundo televisivo (ganda Dunaway, sete foditas naquela boca), sempre à procura do melhor anzol para pescar audiências, nem que para isso tenha de apoiar um "messias" (Peter Finch) que combate, em delírio live, os grandes impérios financeiros que suportam essa mesma tv, e que dará origem, já vai o filme adiantado, ao seu melhor momento, um monólogo trovejante de Ned Beatty (ainda com o rabinho a fumegar) sobre a inexistência de fronteiras no mundo financeiro, vamos dar as mãos. Tirando esse momento de incandescência linguística, o resto é oscar material da mais cristalina ordem: "excelentes interpretações" (o William Holden nasceu a beber whisky), "argumento sólido", e "realização escorreita" do Sidney, que tem um punhado de melhores filmes do que este, embora esses não sejam nem tão "sólidos" nem tão "escorreitos". Este filme necessitaria de não ser "tão equilibrado" nem de cumprir exemplarmente o "caderno de encargos". Mais vinagre e terrenos escorregadios.

sábado, 24 de dezembro de 2011

coiso, acho eu.



O menino Jesus segundo São Cronenberg.


Quanto à lista de "melhores filmes do ano", à excepção óbvia do número 1 (They Live!), só irei revelar os restantes dez ou mil e quatro filmes (à Filipe Furtado) em dia anterior ao final do ano, com grande espectáculo de luz e cor e banda filarmónica de Torres Vedras a acompanhar. Lista só possível de ser organizada depois de nos últimos dois meses ter tido actividade infernal a sacar, a ver ou um outro filme no cinema e a comprar dvds pirateados, depois de um limbo espiritual reservado a intensa punheta e a uma extrema dor de cabeça provocada por Retardado Relvas, Senhor Merkel, Anão Sarkozy (e respectiva puta Bruni, uma representante exemplar da corrente estética "Hello Kitty", onde também se insere a filha do Coppola e a Joanna Newsom, etc), a "volutabilidade dos mercados" e o Djalma a titular. Antes de desejar bom natal, uma perguntinha: também posso fazer broches e bater punhetas aos gajos da Flor Caveira? Bom Natal

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Listas (iii)

A minha. Mais ou menos isto, sem ordem:

- Road to Nowhere, Hellman
- Tree of Life, Malick
- Film Socialism, Godard
- Tio Boonmee, Apichas
- Aurora,Puiu
- E o Tempo Passa, Alberto “o cinema acabou” Seixas Santos
- Restless, Van Sant
- Offside, Panahi (não vi aquele que não era um filme)
- Hereafter, Eastwood
- Merde, Carax
- Meek’s Cutoff, Reichardt

Uma merda de lista. Senão vejamos: Carax (um filme de 2008!), Panahi (um filme de 2006!!), Apichas (o cineasta da moda), Puiu (o cinema romeno estava na moda antes do Apichas - ainda que o Puiu e o Porumboiu sejam verdadeiramente do caralho), Godard (com um filme que vi apenas uma vez e que simplesmente me impressionou), Reichardt (até tenho alguma vergonha, mas gosto dos filmes dela).

Depois, vá lá, há três grandes filmes americanos: Van Sant, Malick e Hellman (gajos que filmam há 25, 40 e 50 anos, respectivamente).

Sobram os dois que mais me apetecem destacar por terem sido chutados para canto (não sei se fizeram os melhores filmes): Eastwood e Seixas Santos. Seixas Santos nem foi chutado para canto - enfiaram o filme num cofre e afundaram-no algures no Pacífico, fazendo com que nem toda a gente acredite que ele tenha verdadeiramente existido. Seixas, a filmar há 35 anos (15 anos antes do cinema ter acabado, 20 anos depois), fez um filme pós-apocaliptico, mas silencioso e se quiser ter uma obra "redonda" não faz mais filme nenhum.

Eastwood, cineasta com os colhões sempre no sítio. Tentando resumir: justeza na maneira de filmar sentimentos de frente (sempre). Também sempre a distância certa; vide travelling atrás final, aliás, mais um plano final maravilhoso como já nos habitou há muito. Pró Ano Há Mais.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Listas (ii)

A do ípsilon, claro. Encabeçada por esse filme que, segundo o não-editor, é "uma oportunidade para crescermos enquanto espectadores", que "nos oferece um espaço de reconhecimento", que, infelizmente, só não "conjuga a crítica e o público". Ainda assim, o vencedor é José Gil: "Canijo tem o ritmo do cinema de hoje".

Menos do que a lista em si, é intrigante atentar a alguns comentários de balanço, que parecem prometer um número 1 para 2012: o inevitável filme do Tocha - que apesar das salas cheias no Doc ninguém viu (presunção minha, claro). Parece então que o filme está programado para um ciclo do MOMA, o que vem legitimar a coroação, ainda sem oferecer pensamento sobre o filme. Mas repare-se na evidência da necessidade dessa legitimação; aquele "pois é" do não-editor (na legenda da fotografia de Tocha), contente por "É na Terra, Não é na Lua" estar ao lado de filmes de Akerman e outros big shots de que agora não me lembro. Aquele "pois é", tenho a convicção, está abaixo dos escritos do Mourinha. Esperemos pela estreia, esperemos pelos textos, esperançosamente com menos adjectivos do que aquele que já tivemos do Augusto Seabra uma semana antes do início do Doclisboa. Augusto Seabra, programador do Doc, apresentador da sessão do filme do Tocha no Doc... Em círculo, até ao próximo ano.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Listas (i)

Já cheira a listas. A primeira que me apetece fazer é a dos realizadores dos filmes actualmente em exibição no decrépito King: Van Sant, Almodovar, Von Trier. O decrépito King tem passado muitos filmes decrépitos, vindos de lado nenhum (mentira: vindos desses festivais mundo fora), romenos, uruguaios, parece a equipa do Benfica. E de repente três canonizados assim de uma vez, tudo muito contente, viva o decrépito King a voltar aos seus grandes dias. Uma tristeza ainda maior, digo eu. O Van Sant é do caralho.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Bombas

Telmo Correia diz que, no dicionário, austeridade significa rigor e folga significa ausência de trabalho. Se fosse hoje vivo, Fassbinder inverteria o seu aforismo mais conhecido.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cartaz arejado e variado

http://cinecartaz.publico.pt/Cinema/17541_medeia-monumental

Se este gajo não tivesse um festival do caraças a começar daqui a dias (hoje?), era ir lá por uma bomba (salvando primeiro a menina dos óculos grandes).

domingo, 30 de outubro de 2011

Postzinho

À Flor do Mar é o melhor filme de sempre e o Doclisboa é uma palhaçada do caralho.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Hei-de entrar nas casas
também
como o luar

A ver as faltas de roupa interior
e de cama

os rostos preocupados
com os avisos da luz e da água

com a máquina de petróleo apagada
jornais nas paredes
e um pássaro na varanda
a cantar
ao lado duma flor


António Reis, Poemas Quotidianos, edição do autor

14 de Outubro de 2011

O plano fulcral do Luzes no Crepúsculo, senhor Kaurismaki, não era o das mãos, já uma vez o escrevi. O plano fulcral era o do protagonista a sorrir na prisão enquanto o sol lhe batia nas ventas. São duas da tarde e preparo-me para o percurso Rato-Chiado, apenas 18 horas depois das medidas de austeridade. Vou ao quiosque comprar o jornal e apesar de não ter ninguém à minha frente demoro um minuto a ser atendido. No jornal Vasco Pulido Valente dá porrada no Barreto, o Zé Manel Fernandes tem uma crónica filha da puta, o Cintra Torres é outro que eleva o Canijo e o Bruno Prata não tem crónica, o que me deixa chateado, porque, na verdade, um gajo quer é bola. A caminho, as mulheres continuam atraentes, ousadas na forma de vestir, demasiado tímidas na arte da troca de olhares. No jardim do Príncipe Real não deslumbro o Botelho, eventualmente porque se acabou de deitar, mas já lá há um grande ajuntamento de panascaria com os seus portáteis, os seus cães, os seus tons de vozes irritantes e os seus cus rotos. A luz de Lisboa é maravilhosa (cliché), o calor de Outubro dá esperança que um dia tenhamos 365 dias destes por ano e apetece parar já ali, ou num banco ou num dos dois estabelecimentos que vendem cerveja dos três que lá existem no jardim. Pedir cerveja, receber, pagar, sorver. O sabor da cerveja. O dia está mesmo óptimo e vejo as pessoas a gozarem o sol. Sigo e ainda vejo a Leonor Areal a sair de uma loja de chineses, acontecimento que registo e decido escrever num blogue. Também muita gente ao sol no jardim São Pedro de Alcântara. No Estádio já há malta e o Fernando já está com o seu eterno ar aborrecido. Mais tarde, A Doce Vida esgota na Cinemateca e há um certo estabelecimento comercial que tem o melhor dia de vendas desde há meses. O Benfica ganha 2-0, descontraidamente. Estamos fodidos, não é? Mas estamos também bronzeados. Amanhã vou andar para o Bairro Padre Cruz, onde já tive jogo de futsal. Ganhámos 3-1. Fui expulso.

a arte de se ficar português.



Do atavismo.

trabalhem, malandros!


Família portuguesa festeja calorosamente o Natal de 2012.

um Roddy Piper em cada passeio.


Representante e sabujozinho do senhor Merkel anuncia Orçamento de Estado de 2012 para a Parvónia.




sábado, 8 de outubro de 2011

Ata-me.


Já não via esta beleza há vinte anos, desde uma sessão da noite de um qualquer Sábado, ainda era o Kiki titular no meio campo do FCP. Só Pedrito para transformar um amour fou potencialmente carregado de clichés psicológicos em ligeira (q.b) e colorida massa melodramática (escrevi massa como poderia escrever caneta), contrabalançada minimamente pela langorosa Morriconada sonora. E, convenhamos, jamais se pode desconsiderar um filme em que duas mulheres baixam as cuecas e sentam-se na sanita. Uma delas é Loles León, que tem um momento de bailado capaz de nos fazer ajoelhar e de agradecermos o oxigénio que recebemos.

James Benning.



Twenty Cigarettes (2011)

Deve ser uma maravilha. Mal espero o dia em que o James desembarque numa qualquer tasca portuguesa para captar em tempo real a jantarada de arroz malandro com jaquinzinhos por parte de um velho de oitenta e seis anos, avesso a pressas por necessidade física. Punhetarei mentalmente (no mínimo), de certeza.

os métodos contraceptivos...


...são a maior invenção humanitária desde que o Homem descobriu que também podia foder à canzana ou de lado, e não apenas à missionário.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Melville, o Jean-Pierre

Devo ter perdido o último dia de praia deste ano. O calor é maravilhoso. Em Un Flic, não, o tempo é chuvoso - bela despedida do cinema de Melville, um dos grandes aqui na minha pequena casa, um ano antes de quinar. É filme de velho no despojamento. Argumento? Narrativa? Não percebo nada disso. Sei que temos uns 15 minutos de um assalto ao banco no início, meia dúzia de diálogos, mas uma atenção imensa a olhares, esperas, chove a cântaros, a compostura dos ladrões nas suas gabardines é um primor. Também há um polícia e é aqui que entra o Alain Delon, também um dos maiores, e que vai entrar no meu próximo filme. A certa altura no filme há outro momento de gatunagem num comboio, aonde os gatunos chegam de helicóptero (ambos os transportes, em plano geral, fazem-me lembrar os Thunderbirds - e é uma delícia). Aí uma meia hora nisto. Planos atrás de planos, uma fala ou outra, muito barulho do comboio, muito barulho do helicóptero. Genial. Em suma, polícia, ladrões e uma gostosa Deneuve numa estória de camaradagem, apesar dos diferentes lados da lei, apesar da ambiguidade e da derisão como diz o Delon, citando Vidoq. Personagens? Antes, silhuetas na paisagem. Ai esse Michael Mann (um dos maiores, também, são todos os maiores) que vai buscar ao Longo e ao Hopper, boraí ao CCB, tem Álvaro de Campos?, já tenho 18 anos!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

mizé no abismo. 1993.



Cada vez mais saborosos. E dez anos antes do filmito da pinxexa, o Murray já era grande. O cinema acabou há dezoito anos. Merda, eu bem escrevi.

zona de conforto.


Regressar sempre a. Não sei o que tem estreado. Um dia destes e ainda fico com o síndrome Seixas Santos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

o bacalhau quer-se sequinho.


Assim como a maior parte dos filmes. Da primeira visão, só resultaram na minha precipitada mente conceitos como "banalidade" e "academismo". Duas revisões posteriores (sempre gostei de pleonasmos) e apodera-se da minha pessoa a admiração pelo descarnamento, pela quietude, pela tensão milimetricamente orquestrada. Um filme para ver em qualquer véspera de natal. A acompanhar o bacalhau. E as batatas. E a couve.

domingo, 18 de setembro de 2011

o Miguel Sousa Tavares americano.


É conhecida a frase de Truffaut sobre John Huston: O pior Hawks é mais interessante do que o melhor Huston. O que não se sabe é que o François estava a dizer (ou a escrever, who cares) esta parvoeira com um único fito em mente: cona. É verdade. É a cona que regula o mundo. François (e qualquer gajo com os colhões cheios dele) sabe que estas bordajeiras caem sempre bem em meninas impressionáveis com jovens impositivos. Daí a catrefada de mulherio que o homem teve. Ou acham que ele escrevia e dizia (como o Jean Luc) estas sensacionais one-liners com convicção cinematográfica? Não, senhor. Conita. Molhadinha. Não se esqueçam disto da próxima vez que estiverem na Cinemateca e na esplanada, na mesa ao lado, estiver sentada uma boazuda desejosa de ser esventrada por um gajo que prefere comer um cagalhão do Ford a ver um minuto que seja do Van Sant. Bom, quanto a esta Fat City, é das melhores colheitas Hustonianas, dos, meu deus virgem maria, anos 70 e já com o studio system fora do campo de visão, para grande desgosto de John, que o adorava, o que é natural, eu gosto muito é de alheira, embora nunca tenha provado a de Mirandela. Bares de lonely people, ginásios bolorentos, ruas poeirentas, pensões minúsculas e desarrumadas, canção melancólica de Kris Kristofferson: sim, é uma obra com e sobre os vencidos, com um Stacy Keach a pingar derrotismo por cada poro. Filme de ruas e de balcões de mármore. E a aridez fotográfica de Conrad Hall. Qualquer segundo de Fat City é superior a cinquenta milhões de Tarkovskys. Cadé o mulherio?

domingo, 4 de setembro de 2011

Domingo

Tinha dado a melancolia Domingueira como atingindo o seu grau mais elevado, aquando de um trabalho em que entrava à meia-noite. Para chegar ao mesmo, apanhava o 759, passando dessa forma na estação de Santa Apolónia, onde, aos Domingos pelas onze e tal, via filas enormes para os táxis, que levariam as pessoas às habitações de segunda a sexta-feira, de onde acordarão para ir para a universidade ou, na maior parte dos casos, para o trabalho. Era o ponto alto do travelling de dez minutos dentro do autocarro.

O travelling ganhou finalmente som. Da minha sala, num prédio de uma rua que ao fundo tem um concentrado de, pelo menos, 230 filhos da puta, ouço as rodas das malas de viagem a trepidar na calçada portuguesa, calçada que tanto incomoda os meus gastos ténis em dias de chuva. Todos os Domingos e a partir das 21h, mais coisa menos coisa, e até à meia-noite, uma da manhã, ouvem-se as rodas a confrontarem-se com a calçada.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

oitocentos e quarenta e três. em cada esquina. "para meter órde neste país".


Não são de espantar os quase cinquenta anos que este país esteve sob jugo salazarista. O Dr. Salazar, como os aliens do They Live!, também nos mandava obedecer, casar e reproduzir (ou obedexer, caxar e reproduxir, pois não concebo nenhum admirador do Salazar que não fale axim e que não viole ovelhas numa média de três por semana), mas literalmente, e sem subterfúgios publicitários, ou, como se dizia na altura, "António Ferro". A insídia hipnótica daquela voz de seminarista, a par de uma capacidade oratória sem par, transformava qualquer anti-corporativista em súbdito das Casas do Povo, e daí eu não me ter espantado quando ao fim dos dez minutos iniciais de Fantasia Lusitana eu já me ter metamorfoseado em menino da mocidade portuguesa, com o general Carmona, ao meu lado, a acariciar as minhas pernas de veludo, o grande babão. Os discursos do "maior português de todos os tempos" (para mulheres de buço, padres pedófilos, taxistas, taberneiros e o blogue 31 da Armada) e poster abundante na cave do Dr. Rui Ramos não constituem, todavia, a única cousa digna do meu interesse no filme de João Canijo, pois também há por lá a melhor interpretação de sempre e ao vivo da "Saia da Carolina", com geniais planos à Leni a acompanhar, e ainda os tão hilariantes quanto extraodinários panfletos de propaganda a propósito de qualquer inauguração a cargo do Dr. Presidente do Conselho e da sua excepcional capacidade geopolítica, que nos salve a todos dos horrores dos sindicatos, aleluia. Apesar disto, fiquei a saber o mesmo sobre o delírio lusitano de tempos idos, um país a brindar as alegrias e espantos do estrangeiro (famoso) perante as coisinhas bonitas do país (como o pastel de Tentúgal). A catadupa de imagens parece ter sido escolhida num jogo de dados, e isto já para não referir a impossibilidade de prestar atenção máxima ao bailado extenuante das palavras e suas imagens, pois embora tenha nascido no século XX, o meu olhar está mais perto da lassidão dos humanos medievais. Curiosa radiografia do Portugal dos piquenos, mas por aqui prefere-se o grande Canijo ficcional.

sábado, 20 de agosto de 2011

"anda cá que o pai unta-te. "


"Adoro cús e mamas". Isto disse o Verhoeven (quase Deus) na altura da estreia do Showgirls. Imagino-o a babar-se todo para cima do micro e com a mão dentro do bolso. Go Go Tales é o adoro cús e mamas do Ferrara (Deus, por Bad Lieutenant e o Invasion of Body Snatchers, o melhor filme "sci-fi" dos anos noventa, a par do Starship Troopers), um mostruário de belíssimas peidas, tetas formosas e menos formosas, maquilhagem, sensualidade e javardice, com a câmara escarrapachada nos corpos, num rodopio desconcertante de sons e imagens, pegando numa personagem, deixando-a em nenhures e pegando noutra, e torna-se óbvio que o Abel andou a ver obstinadamente o Noite Escura do Canijo, na sua apropriação (fiel? nunca foi a nenhum) do ambiente alternadeiro . Mas Go Go Tales não é só isto, seus tarados. Também me disseram que é uma "comovente homenagem à resistência do indivíduo face ao poderio do soberano Dinheiro", e "qualquer coisa o Cassavetes e o The Killing of Chinese Bookie sim senhor". Eu cá gostei.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cinema em modo férias

Pois bem, passaram-me dois filmes pelas vistas: revisão de "Harold and Maude", que continua com uma certa graça, mas que cheira a mofo como tudo (como muito cinema dos louváveis, maravilhosos, adultos anos 70 e quase todos os Hal Ashby, a maior parte dos quais nunca vi?); e um filme, jesus cristo, chamado "O ano em que os meus pais foram de férias", de um tal brasileiro-alemão chamado Cao Hamburger (espero que o tipo tenha sofrido de bullying q.b. com este nome e como futuro realizador de merda) e que é nada menos do que terrível, em que até há a mais originalíssima de todas as originais vozes off, que começa e acaba da mesma maneira. Para juntar àquela merda da Suely. Eu que não achei piada ao Bressane, prefiro ver 20 vezes qualquer um filme dele a estas genialidades. Continuo de férias. Próximo post: Bud Spencer.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

fast food.


A História da Humanidade desenrola-se por modas. Houve a moda de lascar paus e a de fazer fogo com os mesmos, a moda dos faraós e dos filósofos gregos, a de ir tomar banhos em termas e a de migrações bárbaras que acabaram com o Império Romano, ou ainda mais comezinhas como a de usar calças à boca dél sine, etc, etc. Actualmente sobressaem os reinados do Poker e, no panorama áudiocagalhão, o dos programas de comida, vulgo "programas com chefs de cozinha e seus alimentos moleculares espumosos para deixar de boca à banda qualquer sujeito que meta os costados no Eleven ou cujo maior sonho na vida é ser enrabado pelo Ferran Adrià no El Bulli". Se o primeiro não me interessa, até porque sei ler e escrever, já o segundo diz-me muito, pois gosto de comida, gosto de ver gente a cozinhar e gente a comer. Vi um episódio do Hell's Kitchen e ia chamando o INEM. É um programa de comida onde se tem aversão aos alimentos e às suas texturas. Mal surge um plano de um trata-se logo de encarreirar para outro, numa montagem Tony Scottiana (uma rameira audiocagativa que é muito, mas muito pior do que o irmão, ao contrário do que muito boa gente pensa, e que, estranhamente, começa a ver aos poucos as suas bostas incensadas por qualquer ordem pós-moderna e coiso) susceptível de estilhaçar as lentes mais poderosas. A câmara cospe, há por lá um cabrão que também cospe como se fosse a reencarnação do sargento do Full Metal Jacket e parece que há choros e modos desesperados. É, a par do Dia Seguinte, o pior programa da história do áudioVasconcelos. Vi uns minutos do Master Chef e, embora afastado da cacofonia do outro, também há rapidez a mais. Não vale um décimo dos velhos programas da Vacondeus ou do Chef Silva: comida numa mesa, plano fixo com enquadramento ao centro, e cá vai disto. Uma vez bati uma a ver um programa do Chef Silva. E em pequeno devorava com os olhos um livro do Chef Silva. Parece que o estou a ver, de barrete branco e cara bolachuda (o Silva, não o livro). No Reservations, pese embora o delírio da comida exótica, do retrato de comunidades sociais e económicas, da possível hilaridade das situações e do carisma do Bourdain, também resvala para uma moderada epilepsia filmica. O cheiro a medo de ser chato e entediante deve cagar de alto a baixo as calças dos produtores, realizadores e montadores destes programas. Estes cretinos deveriam ter estado no plateau do Hereafter, no momento em que o Eastwood se preparava para fazer milagres com o Damon, a filha do Ron Howard e mais umas guloseimas de que já não me lembro. Comia agora 70 croquetes.

a merda.

O Vitor Belanciano, no seu artigo sobre aquele sujeito eslovaco ou esloveno, escreveu duas vezes merda. Duas vezes. Já não ficava tão chocado desde que tive conhecimento da amizade da Paula Bobone com o Max Monteiro.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

o Dennis Farina entrou numa das melhores séries dos anos oitenta, o "Crime Story", do Michael Mann.


Treze anos depois da sua estreia vejo, finalmente, o filme que relançou a carreira de Steven Soderbergh (o único realizador que conseguiu filmar Sasha Grey sem lhe captar o pito) e que iniciaria o seu ziguezague entre objectos "experimentais" e coisas "comerciais". Confirma-se, em retrospectiva, a coisa que mais me agrada no cinema deste tipo: a sua aversão a histerismos de qualquer espécie, sejam formais (mesmo quando a câmara "mexe") ou literalmente verbais (mesmo quando as personagens gritam parece que o fazem sempre com classe, uns Aimares ou uns James Rodriguez do grito), esteja a tratar de ladrões de casinos ou de revolucionários comunistas, e o Soderbergh poderia até colocar o Guevara do Del Toro na acção do Oceans' Eleven que ninguém daria por isso, tal é o ponto comum da coolness entre as suas personagens. Em Out of Sight o mais notável exemplo deste relaxamento é a cena do Clooney e a Lopez na bagageira do carro, espécie de screwball comedy ao ralenti. Cineasta do décor e do detalhe, com "muito cinema" no seu âmago (mamã, não quero tanto cinema!), um filme deste sujeito nunca me parece desinteressante e este, em particular, é daqueles para se ver com um charuto na boca e um copo de martini na mão, algures num hotel numa ilha "paradisíaca" e rodeado por uma menina em bikini. Já posso abrir a boquinha, sugá daddy? Caluda, puta, que estou a ver um Soderbergh.

sábado, 30 de julho de 2011

Strictly bench material

"Strictly bench material." É o que alguém diz ao personagem de Christopher Lloyd em "Eight Men Out", John Sayles, colheita de 1988, quando este diz que fora jogador de baseball em tempos. Fez-me lembrar o início da minha curta e intermitente carreira de jogador de futsal, no Grupo Desportivo dos Bons Dias, em que os meus colegas diziam que já havia uma marca do número 4 (homenagem a Ruud Gullit) no banco de tanto tempo que eu passava lá encostado. É claro que sempre fui melhor do que muitos que jogavam mais tempo do que eu (de verdade) e depois de na última jornada ter jogado o jogo todo e ter sido o melhor em campo, mudei-me para o Atlético Clube de Odivelas, onde seria muitas vezes titular e conseguiria o terceiro lugar na distrital de Lisboa, à frente do meu clube anterior. Toma, caralho! Adiante. John Sayles. Também ele, imagino eu, considerado, na indústria de cinema e na história do cinema, strictly bench material. Até há uma semana atrás, não tinha visto nenhum dos seus filmes. Depois de ver o primeiro, "Matewan", colheita de 1987, apareceram-me rapidamente e sem eu saber como mais uns quantos no meu portátil. "Matewan" é extraordinário, cinema sem personagens principais, logo todos personagens principais, em que as narrativas paralelas de Sayles, controladas na perfeição, sempre a andar para o lado, são o território cinematográfico perfeito para emergirem personagens cozinhadas em lume brando (por Sayles e por actores excelentes como Chris Cooper, Mary McDonald, Kevin Tighe e, acima de todos, um impressionante Will Oldham de 17 anos). Mas é esta capacidade de narrar, de contruir planos de cinema (os enquadramentos da cena de tortura; a greve, eventualmente um pico narrativo, mas que não é quase preparada, quando damos por isso, já está; toda a sequência de Oldham a avisar a população através de um sermão metfórico), de construir um cinema silencioso que fazem de John Sayles strictly bench material. Um novo génio por semana nos jornais e festivais e John Sayles a fazer cinema há quase trinta anos sem ninguém ligar patavina. Ah, o cinema.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Bresson de pijama.


De Carlos Reygadas apenas tinha visto Stellen Licht, filme que me agradou há uns anitos, embora não esteja muito certo que me sucedesse o mesmo actualmente. Bom, pior que Batalla en el cielo não será. Uma obra onde a austeridade é austera porque alguém deve ter dito ao Carlos, enquanto se comiam uns burritos e se apalpavam umas mamas de uma mexicana qualquer, que Epá, austeridade é que é, é isso que anda para aí a dar nos festivais internacionais de prestígio. Há quem coma austeridade desde a manhã até se ir deitar. Ao que o Carlitos perguntou Mas basta? Mesmo que seja artificial e meramente poseur? E logo surgiu a resposta de uma das kengas mexicanas: Claro. Basta que se assemelhe a algo parecido com contemplação e rigor, a mil léguas do tenebroso cinema amaricano, para teres a vida ganha, hombre. Agora dá-me no cú enquanto me chamas de Clara Ferreira Alves. E pronto. Há sopa religiosa e a inevitável redenção, brochedo e um plano de cona que poderia substituir como designação o famoso travelling de kapo (e por aqui também há um travelling circular a pedir meças ao mais exuberante aluno de uma escola do audiovisual), uma foda com uma gorda que despertará o mais saboroso fetichismo dos gajos que adoram ver badochas a serem comidas por trás, que maravilha, e modelos bressonianos a tentarem serem modelos bressonianos. Mais valia terem filmado, em plano fixo, o Jorge Campos a tocar concertina vestido com uma daquelas suas t shirts de cegar novamente um cego.

eles chegaram e já lavram.


Daniel Day-Lewis presenceia um "incêndio de grandes proporções que continua a lavrar com grande intensidade". Espera-se que o fogo "se acerque das localidades vizinhas, num cenário dantesco de caos e catástrofe". Salve-se quem puder.

intemporal.

Benjamin Franklin afirmou que nesta vida que levamos só há duas coisas certas: a morte e os impostos. Se ainda fosse vivo, acrescentaria: e o Vasco Câmara, de quinze em quinze dias, a agitar a gloriosa bandeira dos "anos 70" (e "anos 80" desde que ainda tragam o aroma da década anterior).

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Lê, Viegas, lê.

Photobucket

Para rapidamente se manter a par da época no que diz respeito à temática "Cinema e Público", aconselha-se a leitura desta novíssima novidade da Ática, colheita de 1957, ao Ministro Viegas. Comprei-o num alfarrabista de rua na Ericeira e cheira menos a mofo do que as primeiras ideias cinematográficas do Ministro Viegas.

Berton Churchill, 1939.


what is good for the banks is good for the country.

A genialidade fordiana é tão magnânime que, através do seu olhar, até alimárias como os Ricardos Salgados, os Ulrichs e os Van Zellers me pareceriam invertebrados simpáticos.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

morte aos feios.


Apenas li, com paciência e estoicismo de Job, as primeiras noventa páginas. Um mar de gente bonita, glamourosa, praias "lindíssimas", festinhas burguesas, arraiais de compras compulsivas (malinhas e vestidinhos), paixões de ninfetas, vivendas jardinadas nas encostas da Riviera e termos como "possua-me!". Espantoso como a filha do Coppola barbudo ainda não adaptou isto para o seu mundinho cinematográfico. Poderia contextualizar a acção para os tempos modernos e colocar a ninfeta a passear pelas praias de Cannes com uma mala da Hello Kitty (com cameo do Vasco Câmara).

sábado, 23 de julho de 2011

o preciosismo do Whitaker a colocar o cd encontra-se no top-10 dos maiores rituais do século XX.


A "função social" do cinema também se vê por aqui: só obras como Stranger Than Paradise, Ghost Dog ou Broken Flowers me obrigarão a levantar o cuzinho do sofá e a ir tirar a carta de condução. Ver estes Jarmuschas quase que me faz compreender a fetichização automobilística da maioria dos portugueses, incapazes de fazer uma conta de dividir sem ser por máquina calculadora, mas peritos nas cilindradas e nas propriedades da embraiáge e dessas caralhadas à Vettel. Ainda por cima agora, com o aumento dos preços dos transportes colectivos de pobres.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Jesper Ganslandt, realizador dardennizado

Depositava em Jesper Ganslandt todas as esperanças: ele ia conseguir-me muito dinheiro; ele ia impedir o Porto de ganhar campeonatos; ele ia tornar-se no maior cineasta sueco depois de Bergman. Depois de visto "Apan", sua segunda ficção, imagino que haja alguns quinhentos iguais a ele para disputar o trono de Ingmar. No centro do filme, um homem com tendências psicopatas. Evita-se a catástrofe, evitando-se explicações, não mostrando a acção de onde a narrativa parte (o filme começa com o tipo a acordar todo ensanguentado), conseguindo-se até alguns momentos muito bons na deambulação do personagem pelos espaços urbanos, quando até nos esquecemos, por momentos, o que está para trás e nos limitamos a segui-lo sem que nada de importante se passe. E o senhor que interpreta o personagem principal, cujo nome encontrarão no IMDB, se pesquisarem pelo título do filme, é extraordinário. Mas o Jesper terá ambições, o que não o faz caso único no panorama cinematográfico, embora se dilua nessa mesma voragem ambiciosa. É agora mais um entre os frequentadores de festivais. A sua câmara colada ao actor principal fá-lo-á, na melhor das hipóteses, o novo Dardenne. Com mais metáforas, o grande pecado de "Apan," que quer dizer macaco. A metáfora animal, a caução do último plano em que alguém diz que o personagem principal seria o único tipo normal (como se alguém fosse ver isto?), o filme a sacar um grande tema tornam o mesmo na maior decepção dos últimos anos. Jesper Ganslandt, realizador de "Farväl Falkenberg", um dos maiores filmes da década passada, em que Jesper pegava nuns amigos e ficcionava as suas próprias vidas, uma verdadeira e majestosa ficção do real. Há aquela teoria de que em primeiros filmes há a vontade de falar de muita coisa, ressentindo-se os mesmos com isso. Teoria de merda. Acho que em cineastas aparecidos nos últimos 40/50 anos, na generalidade, os melhores filmes são os primeiros. Resta esperar que o Jesper me consiga dinheiro e impeça o Porto de ganhar títulos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Médias, Super Bock

Com peixe, com carne, mas acima de tudo a ver bola com tremoços, amendoins, caracóis e com marisco, quando há dinheiro. Gelada, nem mini (se tiver que ser, vai), nem meio litro (se tiver que ser, vai). Ai tão bom. Filmes? Foda-se.

bazookas ou minis?

Bar aberto.