A História da Humanidade desenrola-se por modas. Houve a moda de lascar paus e a de fazer fogo com os mesmos, a moda dos faraós e dos filósofos gregos, a de ir tomar banhos em termas e a de migrações bárbaras que acabaram com o Império Romano, ou ainda mais comezinhas como a de usar calças à boca dél sine, etc, etc. Actualmente sobressaem os reinados do Poker e, no panorama áudiocagalhão, o dos programas de comida, vulgo "programas com chefs de cozinha e seus alimentos moleculares espumosos para deixar de boca à banda qualquer sujeito que meta os costados no Eleven ou cujo maior sonho na vida é ser enrabado pelo Ferran Adrià no El Bulli". Se o primeiro não me interessa, até porque sei ler e escrever, já o segundo diz-me muito, pois gosto de comida, gosto de ver gente a cozinhar e gente a comer. Vi um episódio do Hell's Kitchen e ia chamando o INEM. É um programa de comida onde se tem aversão aos alimentos e às suas texturas. Mal surge um plano de um trata-se logo de encarreirar para outro, numa montagem Tony Scottiana (uma rameira audiocagativa que é muito, mas muito pior do que o irmão, ao contrário do que muito boa gente pensa, e que, estranhamente, começa a ver aos poucos as suas bostas incensadas por qualquer ordem pós-moderna e coiso) susceptível de estilhaçar as lentes mais poderosas. A câmara cospe, há por lá um cabrão que também cospe como se fosse a reencarnação do sargento do Full Metal Jacket e parece que há choros e modos desesperados. É, a par do Dia Seguinte, o pior programa da história do áudioVasconcelos. Vi uns minutos do Master Chef e, embora afastado da cacofonia do outro, também há rapidez a mais. Não vale um décimo dos velhos programas da Vacondeus ou do Chef Silva: comida numa mesa, plano fixo com enquadramento ao centro, e cá vai disto. Uma vez bati uma a ver um programa do Chef Silva. E em pequeno devorava com os olhos um livro do Chef Silva. Parece que o estou a ver, de barrete branco e cara bolachuda (o Silva, não o livro). No Reservations, pese embora o delírio da comida exótica, do retrato de comunidades sociais e económicas, da possível hilaridade das situações e do carisma do Bourdain, também resvala para uma moderada epilepsia filmica. O cheiro a medo de ser chato e entediante deve cagar de alto a baixo as calças dos produtores, realizadores e montadores destes programas. Estes cretinos deveriam ter estado no plateau do Hereafter, no momento em que o Eastwood se preparava para fazer milagres com o Damon, a filha do Ron Howard e mais umas guloseimas de que já não me lembro. Comia agora 70 croquetes.
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