sexta-feira, 22 de julho de 2011
Jesper Ganslandt, realizador dardennizado
Depositava em Jesper Ganslandt todas as esperanças: ele ia conseguir-me muito dinheiro; ele ia impedir o Porto de ganhar campeonatos; ele ia tornar-se no maior cineasta sueco depois de Bergman. Depois de visto "Apan", sua segunda ficção, imagino que haja alguns quinhentos iguais a ele para disputar o trono de Ingmar. No centro do filme, um homem com tendências psicopatas. Evita-se a catástrofe, evitando-se explicações, não mostrando a acção de onde a narrativa parte (o filme começa com o tipo a acordar todo ensanguentado), conseguindo-se até alguns momentos muito bons na deambulação do personagem pelos espaços urbanos, quando até nos esquecemos, por momentos, o que está para trás e nos limitamos a segui-lo sem que nada de importante se passe. E o senhor que interpreta o personagem principal, cujo nome encontrarão no IMDB, se pesquisarem pelo título do filme, é extraordinário. Mas o Jesper terá ambições, o que não o faz caso único no panorama cinematográfico, embora se dilua nessa mesma voragem ambiciosa. É agora mais um entre os frequentadores de festivais. A sua câmara colada ao actor principal fá-lo-á, na melhor das hipóteses, o novo Dardenne. Com mais metáforas, o grande pecado de "Apan," que quer dizer macaco. A metáfora animal, a caução do último plano em que alguém diz que o personagem principal seria o único tipo normal (como se alguém fosse ver isto?), o filme a sacar um grande tema tornam o mesmo na maior decepção dos últimos anos. Jesper Ganslandt, realizador de "Farväl Falkenberg", um dos maiores filmes da década passada, em que Jesper pegava nuns amigos e ficcionava as suas próprias vidas, uma verdadeira e majestosa ficção do real. Há aquela teoria de que em primeiros filmes há a vontade de falar de muita coisa, ressentindo-se os mesmos com isso. Teoria de merda. Acho que em cineastas aparecidos nos últimos 40/50 anos, na generalidade, os melhores filmes são os primeiros. Resta esperar que o Jesper me consiga dinheiro e impeça o Porto de ganhar títulos.
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