terça-feira, 18 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 4).


O súbito e inexplicável desaparecimento de uma pessoa é matéria romanesca de primeira qualidade, sendo o combustível de obras-primas literárias e cinematográficas. E a incessante procura por essa pessoa durante dias, semanas, meses, anos e mesmo décadas é ainda mais fascinante. Serve esta introdução para dar a conhecer o estranho eclipse material do cidadão ucraniano Mykhailo Mudryk, rapaz ucraniano nascido a 5 de Janeiro de 2001 em Krasnohrad, perto de Kharkiv. Data de 15 de Janeiro de 2023 o seu último aparecimento em público, aquando da assinatura de um contrato futebolístico com o Chelsea. É um ano e meio sem qualquer capacidade de drible, sem qualquer assistência, sem qualquer golo e sem nada da enorme relevância que Mykhailo teve no Shakhtar Donetsk. A Ucrânia sente muito a sua falta, como se constatou ontem no jogo contra a Roménia. Por falar nestes: não é por estar, aos sessenta e dois minutos, a vencer por 3-0 com um Hagi em campo que tudo agora seja um monte de rosas e que os bons velhos tempos dos dráculas de 1994 estejam de volta para assombrar o mundi. No caso do jogo de ontem, foi uma mera questão conjuntural de tremenda eficácia, frangalhadas do Lunin e do já debatido caso-Mudryk.


Num campeonato da europa até agora previsível, a falha no sistema: a Eslováquia a vencer a Bélgica. Para isso contribuiu o Jeremy Doku, que além de não fazer corno no ataque ainda providenciou preciosa ajuda para o golo eslovaco; o Lukaku, que falhou golos como já não se via desde o Jean Pierre Papin no Mundial de 1986; a rude maquinaria defensiva dos eslovacos, que aliada a uma tranquilidade tática a meio-campo- herdada dos sombrios dias da cortina de ferro- impediram qualquer descontrolo emocional dos ex-checos; e o VAR, que anulou, e muito bem, dois golos aos belgas. 


O Áustria-França foi uma cópia quase fiel do Sérvia-Inglaterra do dia anterior. A equipa mais forte a fazer os mínimos possíveis para vencer, e a equipa mais fraca a tentar munto mas a não conseguir. Também ficámos com a nítida sensação de que muitos jogadores da equipa francesa- bem como de outras seleções- estão fisicamente esgotados, depois de uma intensa época futeboleira e da enorme quantidade de fodas que deram nas suas várias mulheres durante um ano inteiro. Posto isto, este jogo trouxe-nos á consciência o quão velhos já estamos. Explicação: "somos do tempo" em que uma seleção só jogava com um equipamento alternativo quando o equipamento do adversário fosse semelhante. Por exemplo, Portugal fora contra a Bélgica e contra a Checoslováquia jogava sempre de branco. E num equipamento branco minimalista, sem adornos e rodriguinhos estilísticos. Se estivéssemos em 1986, o jogo de ontem teria uma Áustria de camisa branca, calção preto e meia preta, e uma Franca de camisa azul, calção branco e meia vermelha. Com uma bola Adidas Azteca como instrumento de jogo. E o Inspetor Varatojo a apresentar os livros da coleção Vampiro na RTP2.

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