terça-feira, 25 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 11).

Até aos cinquenta e cinco minutos do Itália-Croácia de ontem, aventurávamos a questão: como é que um país que nos últimos oitocentos anos deu-nos grandiosos papas, Dante Alighieri, as galés genovesas, os mercadores de Pizza, os implacáveis doges de Veneza e as suas armadas, Giotto, Rafael, Miguel, Leonardo e demais mestres renascentistas, Florença, os vinhos da Toscânia, alguma da melhor comida do mundo, praias e mares que até fazem chorar os olhos, a Laura Morante, Benito Mussolini, algum do mais importante cinema já feito até hoje, a dupla Al Bano & Romina Power, a Laura Pausini, a Monica Bellucci, o Rocco Siffredi, o Pavese, o Silvio Berlusconi, a Giorgia Meloni, a vespa, a pizza, as lavadeiras e os becos napolitanos, a língua mais musical do mundo, como é que um país destes produziu a seleção mais cobardolas da história do futebol, uma seleção de cornos e medricas que anda em perfeito contraste com a efusividade artística e social de uma nação? Isso leva-nos á resposta que nos surgiu após ponderada reflexão. Qualquer homem que é homem e que tenha nascido entre 1970 e 1980 viu com certeza o filme Lionheart, onde o Van Damme, no final, tem uma luta épica com um calígula intitulado "Átila". Este Átila, de tão imponente, nem se importa de nos primeiros minutos levar porrada da grossa do Jean Claude; os pontapés do belga não lhe provocam as mais ínfimas sacudidelas na roupa. No público, os vilões, dizem, por entre sorrisos: "he's toying with him". Mal acaba a brincadeira, o mauzão começa a desfazer Van Damme em postas. É esta crueldade, esta manipulação das aparências, este regozijar na ilusão adversária que faz da seleção italiana de futebol uma muito séria candidata a ser vítima da justiça do TPI. Não foi bonito enganar o mundi e a seleção croata durante cinquenta e cinco minutos, simulando fraqueza e retardamento futeboleiro, fabricando na mente dos croatas a certeza absoluta de que não só iriam ganhar o jogo como o fariam sem grande esforço; pior ainda foi, a partir do golo do Modric, encostar a equipa dos balcãs ás cordas, não a permitindo respirar, falhando passes e decisões de propósito para a facada do último minuto ser ainda mais dilacerante. E ainda mais desumano: fazê-lo com um épico cepo como o Scamacca em campo.


Espanha-1 Albânia-0. 

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