domingo, 30 de junho de 2024

Euro 2024 (Oitavos-de-Final. Jogos 1 & 2).

"Ó Orlando, tu foste um grande combatente anti-fascista...e isso é ponto assente, mas foste também um bocado fascista...ou não?". "Tu  és um homem de esquerda...és um homem de esquerda, e há que dizer isto com frontalidade, apesar de seres também fascista, estavas ligado á direita, veneravas Salazar, e eras o que a gente chamava na altura um pulha-pidescos, não é?". Serve isto para introduzir os curiosos casos de Bryan Cristante, Stephan El Shaarawy e Gianluca Scamacca, que são jogadores profissionais de futebol e, simultaneamente, não são jogadores profissionais de futebol. Mas não coloquemos nestes indefinidos casos de ocupação profissional as traves mestras do insucesso retumbante da campeã da europa neste Euro 2024. As razões prendem-se com fatores muito mais abrangentes, mormente e nomeada, os de caráter de rasganço no tecido espácio-temporal que fez os jogadores e responsáveis técnicos italianos acordarem não a 29 de Junho de 2024, mas sim a 29 de Junho de 1978. E ao acordarem nesse dia, e ao saberem que tinham um jogo nesse dia de 1978, comportaram-se como uma seleção italiana de 1978 se portaria: com um catenaccio rigoroso, de muito boa ocupação de espaços defensivos, de ferrolho tático intransponível, e de ocasionais mas certeiras saídas em transição ofensiva ("contra-ataque", em 1978). Estaria tudo muito bem, se o seu adversário, a Suiça, não tivesse permanecido, injustamente, a 29 de Junho de 2024. Se nos parece que a Itália de 2024 já teria dificuldades em jogar contra esta muito interessante Suiça de 2024, imagine-se as dificuldades que uma seleção terá de lutar contra outra que está, literalmente, quarenta e seis anos temporalmente á sua frente, com todas as mordomias e avanços táticos, tecnológicos e mesmo mentais daí aderentes. Apesar de tudo isto, se em vez do Cristante, do El Shaarawy e do Scamacca lá estivessem o Roberto Bettega, o Marco Tardelli e o Paolo Rossi, um milagre poderia ter acontecido, e estaríamos agora, possivelmente, a glorificar uma espantosa passagem da Itália-78 aos quartos-de-final do Euro-2024.


Thunderstruck, canção dos AC/DC. Lightnin', filme de John Ford. The Tempest, peça de teatro de William Shakespeare. Roll of Thunder, Hear My Cry, livro de Mildred D. Taylor. Rolling Thunder, filme de John Flynn. Riders on the Storm, canção dos The Doors. Thunder, filme de Fabrizio De Angelis. Abelhas e Trovoada ao Longe, livro de Riku Onda. Raios e Coriscos, programa televisivo da RTP. Pára-Raio, canção de Djavan. Thunder, canção dos Imagine Dragons. Trovoada, canção de Milton Nascimento e Gilberto Gil. Lightning McQueen. Lightning, filme de Mikio Naruse. E assim sucessivamente.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 13).

Data: 30 de Novembro de 1872. Localização: West of Scotland Cricket Ground, Glasgow, Escócia. Assistência: 3000 espetadores. Árbitro: Willy Keay, da Escócia. O quê: Escócia-Inglaterra, primeiro jogo entre seleções nacionais na história do futebol. Resultado: 0-0. Data: 26 de Junho de 2024. Localização: Mercedes-Benz Arena, Estugarda, Alemanha. Assistência: 55 mil espetadores. Árbitro: Anthony Taylor, da Inglaterra. O quê: Ucrânia-Bélgica, jogo da 3º jornada do Grupo E do Campeonato Europeu de Futebol 2024. Resultado: 0-0. Seria fastidioso e inútil, neste exato momento, alavancar todos- ou mesmo só 3%- os progressos que a Humanidade conseguiu, nas mais diversificadas áreas, entre esse 30 de Novembro de 1872 e o dia 26 de Junho do ano corrente. Diremos que apesar das revoluções proletárias, do Baumbach e do peixe cozido sem sal, estamos hoje munto melhor do que há cento e cinquenta e dois anos (pelo menos eu e Portugal estamos.). Mas apesar de todas estas conquistas a pulso, de toda a distribuição massiva da eletricidade e da água canalizada, do congelamento das carnes e dos Lumière, da expansão dos pioneiros amaricanos para oeste e dos decotes que a Scarlett Johansson (💓) e a Thora Birch (💓) usaram na premiere do Ghost World, apesar de tudo isso e munto mais, ainda se mantem a escandalosa ineficiência de homens graúdos não conseguirem, durante mais de cem minutos, enfiarem uma bola dentro de uma baliza de 7,32 metros de largura e 2,44 metros de altura. Não admira que os norte-americanos gozem com o soccer e com os empates- ainda mais a zero- que este providencia. Conselho: cada jogo deve começar 1-0 para a equipa com menor valor de mercado segundo o Transfermarkt. Se a equipa mais forte empatar, fica reduzida a dez jogadores. Temos a certeza de que a ocorrência de empates será muito menor. E não esquecer o grandioso baile promovido pelo Nicolau II, antes da barbárie.


Se uma pessoa quiser manter os mínimos de sanidade mental, é bastante prudente não ler os critérios de desempate entre seleções com o mesmo número de pontos numa fase de grupos. Sobretudo num grupo onde todas as quatro seleções terminam com o mesmo númaro de pontos. Roménia-1 Eslováquia-1.


Época escolar 1993/1994. Torneio de futebol inter-turmas. 9ºA vs 9ºD. O 9ºA já estava apurado para os quartos-de-final. Nos três jogos anteriores do seu grupo, contava com três vitórias, 142 golos marcados e 3 sofridos. Além disso, era a turma sexualmente mais desejada pelas meninas. O 9ºD precisava de ganhar para também se qualificar. Era uma turma modesta, embora não horrível. No meio da mediania generalizada, um craque, o Luís dos óculos, que com o seu pé esquerdo podia fazer miséria a qualquer minuto. O 9ºA, já descansado da vida e tremendamente confiante da sua muito maior qualidade, deixa os seus três melhores jogadores no banco, onde se preocupam mais em cortejar as colegas de escola, sobretudo a lindíssima Marisa dos Sedosos e Encaracolados Cabelos Louros. Logo no início, 1-0 para o 9ºA. Tédio generalizado, bocejos, "no antigamente as turmas davam mais luta". Contudo, algo muito rapidamente mudaria. Assim, durante o período temporal que mediou entre os do banco desviarem o olhar da Marisa para a Mónica do Rabinho Jeitoso, os ogres maus do 9ºD fazem 2-1. E depois o 3-1. E sem o Luís dos Óculos estar num nível estratosférico. A contragosto, os três mágicos do banco arrastam-se para dentro do campo, mas a vontade não é muita, e além do resultado ser desfavorável a solidariedade alheia é muito forte. Os proletários a fazerem frente aos Senhores. 4-1. Ainda se reduziu para 4-2, mas estava feita história, e o 9ºD, pela primeira vez depois de 1431, passava a fase de grupos. Até as doces ninfetas foram parabenizar os valentes conquistadores. Menos a Marisa, que ficou encostada a um poste, distante e matreira, a ser seduzida pelos mesmos três marmanjos que tinham estado no banco. 


Consultar o zerozero.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 12).

Na nossa memória futebolística, a maior e duradoura impressão que a seleção austríaca de futebol nos tinha deixado até hoje prendia-se com...os cromos da caderneta do Itália-90. Sim, essa do avançado Toni Polster. Havia por lá um cromo de um jogador austríaco que era uma espécie de santo graal, uma miragem impossível de se materializar, um desejo ainda maior do que aquelas carteiras que traziam um prémio á escolha (um malote, um porta-chaves, e, claro, o maior deles todos, uma bola Mikasa). Eventualmente esse cromo calhou a alguém, que logo tratou de o esconder da cobiça das vistas e dedos  alheios, encetando a partir daí possíveis e vantajosas trocas comerciais ("este cromo por essa Mikasa+mais as cuequinhas de seda da tua irmã"). Pois bem, essa simples memória de antanho é agora adjudicada a uma outra bem mais gloriosa, a do dia 25 de Junho de 2024, quando a Áustria, liderada por uma exibição assombrosa de Marcel Sabitzer- o seu golo é a prova da máxima do Albert Camus: futebol é inteligência em movimento-, venceu os Países Baixos, ex-Holanda, e alcançou não só a qualificação para os oitavos-de-final, como o fez em primeiro lugar do grupo, á frente do seu adversário de ontem bem como da entediante França. Por isso, cromo austríaco mirífico e sebastiânico do Itália-90: já não precisa de se sentir tão solitário no agreste alojamento da minha mente. Também me recordo do Itália-Áustria do mesmo mundial e do golo do Squillaci. E do golo do Paulinho Santos em Viena, em 1995. Afinal, meu querido cromo, você está bem mais acompanhado do que eu pensava.


Por recomendação papal, não perdemos um segundo que seja a visionar o França-Polónia. Nem sequer os resumos. 


Quando o Romário disse recentemente que os avançados atuais são muito burros e que hoje em dia ele marcaria mais de dois mil golos, impõe-se que se façam duas correções. A primeira: não são os avançados que são burros, mas o mercado futebolístico que é deficiente e os dirigentes dos clubes que têm um parafuso a menos. Os jogadores fazem o melhor que conseguem com os atributos futeboleiros que o sopro divino lhes forneceu. Que culpa têm dois trolhas da bola como o Vlahovic e o Hojlund dos excessos de confiança depositados neles por uma enorme quantidade de pessoas ao longo dos anos, e que culminaria com o passe do primeiro a ser comprado por 70 milhões de euros pelo Manchester United e o do segundo por 80 milhões pela Juventus? Eles limitam-se a aproveitar a tolice do mundo e a rechear os bolsos com preciosos dinheiros para comprar revistas de cinema. A segunda correção: Romário não marcaria mais de dois mil golos se jogasse hoje. Estaria mais perto dos mil oitocentos e vinte e quatro.


Por recomendação médica da Ordem dos Cavaleiros Hospitalários, não vimos nem um segundo do Inglaterra-Eslovénia. Nem os resumos. Mas parece que foi muito mau. E um sinal de que os tempos mudaram: "antigamente", uma medíocre seleção inglesa era logo arrumada na fase de grupos de uma competição internacional. Agora, uma miserável seleção inglesa é primeira no seu grupo. 

terça-feira, 25 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 11).

Até aos cinquenta e cinco minutos do Itália-Croácia de ontem, aventurávamos a questão: como é que um país que nos últimos oitocentos anos deu-nos grandiosos papas, Dante Alighieri, as galés genovesas, os mercadores de Pizza, os implacáveis doges de Veneza e as suas armadas, Giotto, Rafael, Miguel, Leonardo e demais mestres renascentistas, Florença, os vinhos da Toscânia, alguma da melhor comida do mundo, praias e mares que até fazem chorar os olhos, a Laura Morante, Benito Mussolini, algum do mais importante cinema já feito até hoje, a dupla Al Bano & Romina Power, a Laura Pausini, a Monica Bellucci, o Rocco Siffredi, o Pavese, o Silvio Berlusconi, a Giorgia Meloni, a vespa, a pizza, as lavadeiras e os becos napolitanos, a língua mais musical do mundo, como é que um país destes produziu a seleção mais cobardolas da história do futebol, uma seleção de cornos e medricas que anda em perfeito contraste com a efusividade artística e social de uma nação? Isso leva-nos á resposta que nos surgiu após ponderada reflexão. Qualquer homem que é homem e que tenha nascido entre 1970 e 1980 viu com certeza o filme Lionheart, onde o Van Damme, no final, tem uma luta épica com um calígula intitulado "Átila". Este Átila, de tão imponente, nem se importa de nos primeiros minutos levar porrada da grossa do Jean Claude; os pontapés do belga não lhe provocam as mais ínfimas sacudidelas na roupa. No público, os vilões, dizem, por entre sorrisos: "he's toying with him". Mal acaba a brincadeira, o mauzão começa a desfazer Van Damme em postas. É esta crueldade, esta manipulação das aparências, este regozijar na ilusão adversária que faz da seleção italiana de futebol uma muito séria candidata a ser vítima da justiça do TPI. Não foi bonito enganar o mundi e a seleção croata durante cinquenta e cinco minutos, simulando fraqueza e retardamento futeboleiro, fabricando na mente dos croatas a certeza absoluta de que não só iriam ganhar o jogo como o fariam sem grande esforço; pior ainda foi, a partir do golo do Modric, encostar a equipa dos balcãs ás cordas, não a permitindo respirar, falhando passes e decisões de propósito para a facada do último minuto ser ainda mais dilacerante. E ainda mais desumano: fazê-lo com um épico cepo como o Scamacca em campo.


Espanha-1 Albânia-0. 

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 10).

Arquiteto. Cineasta. Vidreiro. Soldador. Ator porno. Pescador. Rebocador. Pasteleiro. Cozinheiro. Apicultor. Crítico cinematográfico. Analista de dados de risco. Coveiro. Advogado criminal. Senhorio. Tenente-Coronel. Barbeiro. Maquilhador. Caixa no supermercado. Gerente de um stand de automóveis. Depilador. Modelo. Dentista. Cirurgião. Escritor. Controlador aéreo. Curador. Escultor. Professor primário. Caixeiro-Viajante. Proxeneta. Traficante de seres humanos. Político. Afinador de piano. Carpinteiro. Bagageiro. Joalheiro. Polidor de pedra. Geneticista. Fadista. Obstetra. Sapateiro. Porque é que o Kai Havertz teve de escolher ser jogador de futebol?


Colocar no chrome "the rise and fall of the hungarian football".

domingo, 23 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 9).

Geórgia vs Chéquia foi um jogo da 2ª jornada do Grupo F do Euro 2024. Disputou-se no Volksparkstadion, em Hamburgo. Georges Mikautadze, aos 45+4 minutos, de grande penalidade, adiantou no marcador os georgianos. Aos 59 minutos, Patrik Schick igualou para os chéquios/checos/o caralho que os foda. O resultado não sofreria alterações até ao final. 


14 de Junho de 1996. City Ground, Nothingham. 2ª Jornada do Grupo D do Euro 1996. Portugal-1 Turquia-0. Golo de Fernando Couto, aos 66 minutos. 24 de Junho de 2000. Amsterdam Arena, Amesterdão. Quartos-de-Final do Euro 2000. Portugal-2 Turquia-0. Golos de Nuno Gomes, aos 44 e 56 minutos. 7 de Junho de 2008. Stade de Genevè, Genebra. 1º Jornada do Grupo A do Euro 2008. Portugal-2 Turquia-0. Golos de Pepe, aos 61 minutos, e de Raul Meireles, aos 90. 22 de Junho de 2024. Signal Iduna Park, Dortmund. 2ª Jornada do Grupo F do Euro 2024. Portugal-3 Turquia-0. Bernardo Silva aos 22 minutos, Samet Akaydin aos 29, na própria baliza, e Bruno Fernandes, aos 56, deram a vitória a Portugal. Conclusão: Euros. Junho. Portugal quatro vitórias e zero derrotas, Turquia zero vitórias e quatro derrotas. Portugal oito golos marcados e zero sofridos, Turquia zero golos marcados e oito sofridos. Não há sultões que lutem contra Santo António, São João, São Pedro e um exército inquebrável de pimentos tostados e sardinha assada. 


Se você nem dormiu particularmente bem na noite anterior; se passou demasiado tempo a estimular-se fisicamente a ver diversas atividades de índole amorosa na Rússia dos anos 2000, e já, se sabe, depois do...golo, vem a soneira; se você comeu frango assado ao jantar, bem picante, o que teve como consequência a ida regular ao frigorifico para ir buscar uma e outra mine, o que logicamente incrementou a dolência corporal; e se, no fim disto tudo, ainda foi beber um shot de bagaço...e ainda assim conseguiu ficar entretido a ver um jogo do Euro 2024, então isso só prova duas cousas: que você não é normal (o que já sabíamos), e que o Bélgica-Roménia foi um ´celente jogo da bola, onde esta foi geralmente muito bem tratada por todos, inclusive pelo Onana (que a par do De Bruyne, foi o único que não cantou o hino belga). Os guarda-redes, sobretudo o romeno, também estiveram em evidência, impedindo que o resultado final fosse qualquer cousa como 7-2 para os chocolateiros. Agora, á entrada para a última rodada, todas as equipas no Grupo E têm três pontos. Os meus palpites para os dois jogos que faltam. Bélgica-Ucrânia: 1. Eslováquia-Roménia: 1X2.

sábado, 22 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 8).

Enquanto os jogos entre as seleções de maior cotação têm sido excelentes chamadas para o reino de Hypnos, os encontros mais "piquenos" do Euro 2024, pelo contrário, têm providenciado diversão diurna bem superior, sobretudo aqueles que envolvem o mais leve traço de rivalidade regional. Um Eslováquia-Ucrânia, á primeira vista, não se encaixaria nesta questiúncula das pelejas entre vizinhos, mas desde que o russófilo...perdão, o pragmático Robert Fico ganhou as eleições legislativas eslovacas e prometeu acabar com toda a ajuda militar á Ucrânia (duas pistolas enferrujadas e um tanque sem lagartas), o ambiente entre as duas nações ficou mais crispado. Posto isto, o jogo foi civilizado e não houve os excessos medievais do anterior Eslovénia-Sérvia. Limitou-se a haver futebol de ataque, com o Trubin, nos primeiros dez minutos de jogo, a fazer mais defesas do que aquelas que o Lunin tinha feito nos noventa minutos do jogo contra a Roménia. A Eslováquia lá marcou, numa semi-frangalhada do guardião do (censurado). A partir daí, mesmo com o contínuo e prolongado exílio de Mudryk, a Ucrânia começou a lutar pela vida, imaginando já a desonra de totalizar zero pontos em duas jornadas; uma afronta ao país, ainda por cima numa altura destas. Empate e a dez minutos do fim, com um trabalho fulgurante de receção e finalização que felizmente não mostrou em Portugal, o Yaremchuk fez o 2-1 final, impedindo os traidores da NATO de amealharem já preciosos seis pontos. Na última jornada a Eslováquia joga contra a Roménia e a Ucrânia defronta a Bélgica.


Gosto muito de mulheres polacas. E do Roman Polanski. E do Lech Walesa. E dos mestres austríacos musicais. E o Haneke tem alguns grandes filmes. Os do Ulrich Seidl fazem-me rir. Mulheres austríacas não estou muito a par, mas se a média for 40% deste calibre...Mas nada disto foi suficiente para me fazer gastar energias visuais num Polónia-Áustria. Ganharam os austríacos 3-1, e os polacos já foram eliminados. Boa viagem. 


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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 7).

Uma das costumeiras perguntas do molhado adepto de futebol: e se as seleções da Croácia, da Sérvia, da Eslovénia e do Montenegro se juntassem e fizessem uma única equipa? Ai Jesus que ninguém a pararia. Num espaço de meia dúzia de anos venceriam quatro europeus, dois campeonatos do mundo, uma Taça Davis e um Leopardo em Locarno. Por incrível que possa parecer, essa junção de países diferentes relativamente perto uns dos outros já sucedeu no passado; deram-lhe o nome de Jugoslávia (eu lembro-me, ainda tenho aqui a caderneta do Itália-90 para me certificar de que não foi tudo um sonho). Ora, essa Jugoslávia, pese embora os seus méritos, teve uma presença modesta em Mundiais (melhores resultados: 4º lugar em 1930, logo na primeira edição, e 1962), e nos Europeus foi duas vezes finalista vencida (1960 e 1968). Vá lá, venceu os Olímpicos de 1960. Numa seleção de pouco gabarito (Malta ou Inglaterra, por exemplo) seriam muito bons resultados, mas para uma equipa que albergava um vastíssimo conjunto dos melhores jogadores da europa*, o desiderato é frustrante. As razões podem-se encontrar nos minutos finais do Eslovénia-Sérvia de ontem, quando por momentos pressentimos o renascimento de nova guerra nos balcãs: copos de cerveja a voar para cima do Oblak, jogadores sérvios e eslovenos a empandeirarem-se violentamente uns aos outros, mulheres sérvias no público a prometerem ás eslovenas que as "esganariam lá fora", etc. Ora, se isto acontece num espaço aberto e televisionado, o que será que acontecia no balneário fechado e privado da seleção jugoslava? E isto mesmo com o unificador, grandioso e anti-soviético Tito aos comandos da nação.

* e, como se sabe através do documentário Rocky IV, todos os atletas para lá da cortina de ferro drogavam-se, para assim aumentarem a sua performance desportiva. E mesmo assim os jugoslavos não ganharam nada!


Há duas hipóteses para a mediocridade da seleção inglesa neste Euro: hipótese 1) a seleção inglesa está cansada e vergastada de tantos e sucessivos êxitos futebolísticos recentes. Os seus jogadores já não sentem a mesma motivação e pouco se empenham depois de açambarcarem euros e mundiais em catadupa. É compreensível: uma vez, numa tarde, comemos uns quarenta caranguejos e durante um ano nem os podemos ver á frente. Hipótese 2) a seleção inglesa é medíocre. A qualidade dos seus jogadores é insuficiente para construir um todo superior e aventuramos a teoria especulativa, através de minucioso estudo da linguagem corporal, de que alguns daqueles jogadores nem se podem ver á frente. Há ainda uma remota terceira possibilidade de explicação para tais fracas prestações, e que é a seguinte: as tiras de bacon e as bananas fritas que os jogadores ingleses comem ao pequeno-almoço, almoço e jantar estão avariadas.


Acantonamento recuado dos seus jogadores num espaço de vinte metros; incapacidade de se libertar da pressão adversária; muita dificuldade em ultrapassar o meio-campo inimigo de forma jogável; ter no seu núcleo jogadores como o Cristante: meus senhores e minhas senhoras, está encontrado o primeiro finalista do Mundial de 1994. E do Euro 2024 também.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 6).

A  seleção da Croácia já foi como a da Albânia: jovem, fresca, cheia de ganas de participar pela primeira (ou neste caso, a segunda vez) numa grande competição internacional. Em que cada ação atacante e cada remate são celebrados como um clímax desportivo. Mas vinte e oito anos depois de ter participado no Euro 1996, e duas grandiosas gerações de jogadores depois, a Croácia já evidencia um acelerado processo de puta gasta de Euros & Mundiais, em que devido ás altas expectativas que lhe são colocadas em cima, o seu desempenho nunca parece muito bom, por mais satisfatório que seja. Por exemplo, a Albânia venderia metade das suas praias para ter no seu elenco um avançado como o Kramaric, que na Croácia dos dias de hoje é apenas mais um Karadas que por ali anda. Além do mais, a discrepância de performance dos croatas em mundiais e europeus leva-nos a concluir que sofrem do mesmo mal daqueles tenistas que levam tudo á frente em Wimbledon mas em Roland Garros olham babados para uma raquete antes do primeiro serviço. 

Apesar de nova vitória, não foi ainda desta que a Alemanha provou que não é um tigre de papel. Estamos em crer que bastaria a Hungria ter um Puskás a avançado e uma Marta Mészáros como média-ofensiva e o resultado de ontem teria sido diferente. Se calhar...estaremos a romancear e a idealizar demasiado as seleções alemãs do antigamente (como aqueles jovens "revolucionários" que, sem se rirem, romanceiam e idealizam outros jovens "revolucionários" que mais tarde transformar-se-ão em dejetos humanos ditatoriais), mas estamos em crer que no meio do "cinzentismo", "pragmatismo", "realismo" e "frieza" teutónicas não havia espaço para providenciar tamanhas veleidades como os magiares tiveram ontem. Só mudaremos de opinião quando a equipa da casa defrontar uma seleção de futebol que não tenha deixado de ser relevante no mundo da bola nos anos setenta do século XX. E aquele avançado da Hungria, o Martin Ádám? Deslarguem-no a ele e a um pau de marmeleiro no Donbass e a guerra na Ucrânia termina em duas horas.

Por motivos de descanso ocular, não nos foi possível visionar esse muito apelativo Escócia-Suiça. Ficou 1-1, o que significa que houve empate. Um ponto para cada equipa. 

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 5).

O melhor jogo do Euro 2024 no jogo de menor cartaz da primeira jornada. Futebol daquele estranho em que um jogador, quando recebe a bola já no meio campo adversário, faz a imediata rotação para a frente, lançando fogo grego- perdão, turcos- sobre o reduto inimigo. Lances de perigo a cada dois minutos. Grandes golos. E, ainda mais emocionante, homens da bola em pleno 2024 a não chorarem depois de passarem uma hora e meia á chuva. O que também não se estranha quando um país é governado com punho de ferro por um Erdogan e o outro, se Deus Nosso Senhor for bondoso, livrar-se-á das garras hipócritas do velho Ocidente e, por conseguinte, entrará nos caridosos braços da novíssima Rússia; a Lei dos Agentes Estrangeiros é só o primeiro passo. Real Madrid 2024/2025: Vinicius Jr, Kylian Mbappé, Rodrygo, Brahim Diaz, Endrick, Arda Guler: o equivalente aos elencos femininos dos filmes das German Goo Girls período 2002-2008.


E hoje, é chegada a vez de apresentar uma das melhores equipas de futebol sem baliza: é Portugali. Aleixo sismógrafo. Quanto á Checoslov..., República Ch..., Chéquia: é hoje por hoje muito pior que a sua vizinha Eslováquia, provavelmente a pior de todas as vinte e quatro seleções do Euro, e uma afronta aos antepassados gloriosos e futeboleiros da nação checa. Basta enunciar que o seu jogador de melhor cartaz, Patrick Schick, teria dificuldades em ser o apanha-bolas da Rep. Checa do Euro 2004.

terça-feira, 18 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 4).


O súbito e inexplicável desaparecimento de uma pessoa é matéria romanesca de primeira qualidade, sendo o combustível de obras-primas literárias e cinematográficas. E a incessante procura por essa pessoa durante dias, semanas, meses, anos e mesmo décadas é ainda mais fascinante. Serve esta introdução para dar a conhecer o estranho eclipse material do cidadão ucraniano Mykhailo Mudryk, rapaz ucraniano nascido a 5 de Janeiro de 2001 em Krasnohrad, perto de Kharkiv. Data de 15 de Janeiro de 2023 o seu último aparecimento em público, aquando da assinatura de um contrato futebolístico com o Chelsea. É um ano e meio sem qualquer capacidade de drible, sem qualquer assistência, sem qualquer golo e sem nada da enorme relevância que Mykhailo teve no Shakhtar Donetsk. A Ucrânia sente muito a sua falta, como se constatou ontem no jogo contra a Roménia. Por falar nestes: não é por estar, aos sessenta e dois minutos, a vencer por 3-0 com um Hagi em campo que tudo agora seja um monte de rosas e que os bons velhos tempos dos dráculas de 1994 estejam de volta para assombrar o mundi. No caso do jogo de ontem, foi uma mera questão conjuntural de tremenda eficácia, frangalhadas do Lunin e do já debatido caso-Mudryk.


Num campeonato da europa até agora previsível, a falha no sistema: a Eslováquia a vencer a Bélgica. Para isso contribuiu o Jeremy Doku, que além de não fazer corno no ataque ainda providenciou preciosa ajuda para o golo eslovaco; o Lukaku, que falhou golos como já não se via desde o Jean Pierre Papin no Mundial de 1986; a rude maquinaria defensiva dos eslovacos, que aliada a uma tranquilidade tática a meio-campo- herdada dos sombrios dias da cortina de ferro- impediram qualquer descontrolo emocional dos ex-checos; e o VAR, que anulou, e muito bem, dois golos aos belgas. 


O Áustria-França foi uma cópia quase fiel do Sérvia-Inglaterra do dia anterior. A equipa mais forte a fazer os mínimos possíveis para vencer, e a equipa mais fraca a tentar munto mas a não conseguir. Também ficámos com a nítida sensação de que muitos jogadores da equipa francesa- bem como de outras seleções- estão fisicamente esgotados, depois de uma intensa época futeboleira e da enorme quantidade de fodas que deram nas suas várias mulheres durante um ano inteiro. Posto isto, este jogo trouxe-nos á consciência o quão velhos já estamos. Explicação: "somos do tempo" em que uma seleção só jogava com um equipamento alternativo quando o equipamento do adversário fosse semelhante. Por exemplo, Portugal fora contra a Bélgica e contra a Checoslováquia jogava sempre de branco. E num equipamento branco minimalista, sem adornos e rodriguinhos estilísticos. Se estivéssemos em 1986, o jogo de ontem teria uma Áustria de camisa branca, calção preto e meia preta, e uma Franca de camisa azul, calção branco e meia vermelha. Com uma bola Adidas Azteca como instrumento de jogo. E o Inspetor Varatojo a apresentar os livros da coleção Vampiro na RTP2.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 3).

Os mais velhos (entre os quarenta e os cento e vinte anos) lembrar-se-ão de uma sére dos anos oitenta intitulada Automan, uma sére onde os efeitos especiais se enquadravam na estética Tron, ou seja, fabricados num ZX Spectrum. Este Automan conduzia um carro que apenas se movia em linhas retas, um pouco como aqueles carros nas pistas de brincari que tinham um íman para aderir á pista; se o íman falhasse, o carro voava contra a parede mais próxima. Ora, a seleção polaca fez-nos lembrar este Automan e, por conseguinte, os carrinhos de brincari. O seus jogadores apenas se movem em linhas geométricas diretas e pré-definidas. Por vezes, com algum azar, vão a correr no seu caminho já estipulado e os jogadores adversários não têm a hombridade para se desviarem. Neste registo austero e futurista, a Polónia criou bastantes dificuldades a uma Holanda que, sobretudo na primeira parte, impressionou por dois motivos: por ter tido uma enorme facilidade em construir oportunidades de golo, e por ter tido uma enorme facilidade em construir oportunidades de golo mesmo com Memphis Depay, um reconhecido ex-jogador de futebol, em campo. 


Por motivos de ordem religiosa não nos foi possível visionar o Eslovénia-Dinamarca. Cada equipa marcou um golo. Isso significa que o resultado foi de um a um. Por conseguinte, um empate. Ou seja, um ponto para cada equipa. 


Não há como negar: uma das ambições mais desmedidas do ser humano é o poder da ubiquidade. Estar em todo o lado ao mesmo tempo a realizar as mais diversas tarefas. Por exemplo, eu gostaria de neste exato momento estar a manjar robalo assado com batata assada no forno. Outro eu apreciaria estar numa ambiente mais íntimo a levantar, suavemente, a camisa de dormir azul bebé da Sónia Araújo (💓). E ainda outro holograma da minha pessoa adoraria estar a levantar a camisa de dormir da Sónia enquanto o robalo e a batata se assavam no forno. Pois bem, duvidamos muito que iremos conseguir tais desideratos; para isso acontecer teria de ter a sorte de Diego Simeone, que se tornou o primeiro ser humano do mundo a conseguir estar em dois sítios completamente diferentes em simultâneo: a beber um chá de mate numa tasca de Buenos Aires e a treinar a seleção inglesa de futebol em Gelsenkirchen, Alemanha. Foi comovente ver, a partir dos quinze minutos de jogo, a Seleção do Mal acantonada perto da sua grande área, com jogadores como Foden e Saka a despejarem bolas para o meio campo sérvio, apenas e só para aliviar o pressing dos Milosevics. Declan Rice a tentar dar mais de três toques numa bola e Simeone, no banco, exasperado, exigindo pontapés salvíficos para fora do estádio. E o outro a beber chá. 

domingo, 16 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 2).

Uma vez, numa noite cálida de verão, estávamos dentro de um carro, no parque de estacionamento de uma estação de serviço da Grande Lisboa. Enquanto esperávamos que a amante chegasse com tudo o que a tínhamos obrigado a comprar, uma estranha imagem começou-se a desenrolar a uns quinze metros descaídos para o nosso lado direito. Um rapaz estacionava o carro, e ao seu lado outro rapaz usava uma meia de nylon na cabeça. "Com certeza", pensámos", "a nossa fome é tanta que já imaginamos situações saídas de um filme do Walter Hill. Aquela doidivanas que se despache". Mas não, por mais fome que houvesse, ali estava mesmo um tipo, dentro de um carro, com uma meia de nylon enfiada na cabeça. Junto a uma estação de serviço recheada de cousas boas, como Kit Kats e Panricos. Entretanto, a amante chegou, a queixar-se do seu esforço. Depois de nos certificarmos de que a maluquinha tinha cumprido com todas as nossas preciosas exigências, voltámos a olhar para o estranho carro...mas já lá não estava. Um memento curioso que me parece bem mais pertinente do que qualquer cousa que se possa escrever sobre um Hungria-Suiça.


"Barrar tulicreme na barriga da Amber Heard enquanto se lambe, entre os seios da Diane Lane, um belo pedaço de leite creme queimado; ver de seguida o The Searchers e o Pyscho; sair para a noite com o Dr. Álvaro Cunhal e o Dr. Mário Soares; bacalhau à lagareiro seguido de um pudin flan (que mais tarde será utilizado para servir de ornamento nas nádegas da Joana Duarte): acreditamos que estas quatro actividades diferentes consigam superar, em termos de puro prazer, o que aconteceu, no mundo do futebol europeu, a 28 de Junho de 2021.". Escrevemos isto após o Espanha-Croácia do Euro 2020 (1), um dos momentos grandiosos na história do jogo da bola. Diremos que o Espanha-Croácia do Euro 2024 conseguirá, no máximo, e com munta boa vontade, estar ao nível de um dia de pesca com ventania forte, chuva miudinha, cana quase a rachar e minhocas tão nojentas que nem uma sargo se atreve a ir com a boca ao anzol. E isto com o General Carlos Branco ao lado a dançar folclores russos. No entanto, nem tudo foi mau: a Espanha parece ter abandonando o seu "futebol comida de hospital", e o jogo permitiu-nos relembrar mise-en-scènes onde diversas camadas de saborosa doçaria se entrelaçam umas nas outras.


Estes primeiros quatro jogos do Euro têm exibido uma contradição entre a qualidade futeboleira e a quantidade de golos, com o segundo ponto a superar largamente o primeiro. Por isso, depois da Itália fazer o 2-1 contra o seu antigo protetorado, refletimos sobre duas opções a tomar: continuar a ver atentamente o jogo até sucumbirmos ao sono, ou ir investigar, nem que fosse superficialmente- sobretudo superficialmente- a figura de Enver Hoxha, líder da Albânia entre 1944 e 1985? Pois bem, ficámos a saber isto: Hoxha era um ditador! Ele mandava executar dissidentes, censurava a imprensa, não permitia eleições livres, proibia a propriedade privada, não autorizava as viagens de civis para o estrangeiro e a justiça estava ao seu serviço! Ficámos ainda mais chocados quando soubemos que esta tirania se encontrava num país..."comunista"! Onde deve haver solidariedade entre as pessoas, e os desacordos serão solucionáveis através de um centralismo democrático nacional/regional/local! Os nossos soluços não tardaram a dar de si, perguntando para os céus e para as paredes com tinta desbotada como é que foi possível haver gente desta a conspurcar um regime onde se criava um Homem Novo. Assim ficámos, até que aos oitenta e nove minutos a Albânia quase ia empatando, através de um ser humano que chutou contra as costas do Donnarumma. Seria canto, mas não num mundo onde Michael Oliver é árbitro. 

sábado, 15 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 1).


Os olhares maravilhados dos jogadores escoceses quando, a escassos minutos de entrarem em campo para os habituais exercícios de aquecimento, o seu compatriota e colega de campo Andy Robertson lhes mostrou uma bola, elucidando os petizes de quais as suas funções. "Nunca vi nada tão belo", afirmou um emocionado- e ajoelhado, rezando- Ryan Porteous. Outros sonhavam com quimeras paradisíacas, como Anthony Ralston, que murmurava "um dia também serei capaz de a fazer mover de forma ordenada!". Agora...se somarmos esta verídica narrativa ao facto da seleção nacional escocesa ter ficado a "jogar" com apenas dez "jogadores" a partir dos 44 minutos de jogo, torna-se prudente não embandeirar em arco perante a goleada infligida pela Alemanha, que aparentemente exibiu uma maior vivacidade e inteligência futebolística na primeira meia hora deste jogo inaugural do Euro 2024 do que na totalidade de todos os jogos desde o final do Euro 2016. Portanto, cautela. Temos a Alemanha teutónica que imponha respeito a toda a gente? Aquela que fazia as mamãs dizerem aos seus filhos "se não comes a sopa vou chamar o Jurgen Kohler", e homens graúdos de meia idade a irem ver, tremendo de medo e ansiedade, se debaixo da cama estava o Guido Buchwald? Ou temos a Alemanha dos últimos tempos, personificação da decadência do ocidente perante a ascensão desse sinistro "sul global", e que se pode particularizar nesse cona de sabão do Havertz, que exibe uma indolência mais própria dos povos de países latinos? Os próximos jogos responderão.