quarta-feira, 16 de maio de 2012

diversos e saborosos níveis de mérito de:


ao nível das parafilias

a) cheira a minha velha e imunda roupa interior, diz o Magistrati, embrenhado em mil pensamentos. Sujidade e decadência por baixo da respeitabilidade das vestes, do luxo dos vestidos das senhoras contadoras de histórias para fomentar a imaginação. A podridão sabe sempre melhor quando alicerçada em vestuário elitista. É como os guilty pleasures cinematográficos: como podem ser guilty, se tudo o que uma pessoa vê é merda? Viva o bom gosto dos cinemas e das roupas: só assim poderemos deliciosamente desfrutar de todo o cocó.

b) destruição da beleza da juventude. São novos, são bonitos? Tomem lá disto.E ainda melhor se os torturadores tresandarem a fealdade. Contraste contaminante de largas tusas e delírios sexuais. Corromper até ao infinito (se é que este existe, outra vez o magistrati) os dias de glória do ser humano. As carinhas larocas. Manja la merda, vocifera o Duque, para uma menina tão bonitinha e a chorar. Notável.

c) ritualização dos fetiches e do abuso de poder. A humilhação adquire maior satisfação se for enquadrada em festas grand gignol, com os meninos sentados a ouvirem as senhoras contar histórias comoventes de quando tinham sete anos e levavam com esporra aristocrática nas faces infantis. Com som de piano, alta cultura. E sala espaçosa, alta arquitectura. 

d) gostosas citações culturais, de Baudelaire a Santo Agostinho. Carmine Burana.  Baudelaire com banquete de merda, Carmine Burana com festival de sangue. Choremos.

e) oralidades teatrais das senhoras para incentivar a tusa. Mentirosas ou verdadeiras, as suas histórias têm sempre as ditas como protagonistas infantis a serem abusadas por senhores respeitabilíssimos e nobiliárquicos, numa centrifugadora apetitosa de cagalhões na boca, esporra na cara, vários tipos de diarreia, carne esfolada, mijo ás litradas, Alexandre Soares dos Santos. Uma vez mais, a dicotomia alta cultura vs altas merdas enebria os nossos quatro heróis. 

ao nível dos cinemas

a) se uma coisa parece merda, cheira a merda e sabe a merda, então só pode ser merda. E há que mostrar a merda (aqui merda não se refere ao que sai do nosso cú, mas a toda a insanidade em Saló) dê por onde der. Anti-elipse, anti- subtileza, obrigatoriamente visceral. Isto poderia ser um problema, se...

b)... Pasolini ficasse com ataques de histerismos. Mas não ficou. Nunca há devaneios sensacionalistas nem ampliação (que seria redundante) das maravilhas escatológicas. Não há raposas mortas de fomica nem caralhos a foderem em câmara lenta.

c) comédias. Do mais alto grau. Estes quatro pândegos proporcionam bons momentos de humor, com destaque para el presidente, um monstro dos comentários rejubilatórios. O actor que faz de Pinto...de presidente , segundo Pier Paolo, nunca tinha falado num filme, por isso decidiram utilizar a voz do Marco Bellocchio. 

d) no judgement. no judgement. no judgement. Espantoso, se considerarmos estar a falar de um filme de um comunista católico sobre fascistas pagãos.

ao nível das comidas

a) salada russa de cagalhões caseiros.
b) pudim (flan, pareceu-me) com pregos , também caseiro.
c) carne guisada para os cães e cadelas.

OBRA-PRIMA ABSOLUTA.

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