segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

esqueçeram-se de convocar os esqueletos do O' Neill e do Sena.


Nuno Lopes e Anabela Moreira discutem intimamente o "Fim do Império".

Quando surge um filme (mormente português) que possua "tema" escarrapachado aos quatro ventos por essas aldeias fora, os editores dos suplementos culturais dos jornais convocam os jornalistas disponíveis e fazem-lhes chegar a directiva de irem a correr chamar as tropas do costume: sociólogos, pensadores, pederastas, etnólogos, enólogos e o José Gil. Compreendemos. Os jornalistas são pessoas como os outros seres humanos, há que pagar as refeições dos filhos, das esposas, das amantes e dos amantes, das putas, não há nenhum mal nisso, mal é esta merda de phones que eu tenho neste momento e que não me deixa ouvir em perfeitas condições a Bat For Lashes, que mulher tão bonita. As tropas começam a mover-se, tecendo grandes elucubrações sobre as "ideias" do filme, e cada ramo das forças ideológicas tratando de bater a maior punhetazona possível às "ramificações culturais" e ao "impacto" que a obra em questão poderá ter na sociedade actual, o cinema que fique para depois.  Depois uma pessoa lê os enólogos e o José Gil e começa a ficar acagaçada: epá, isto deve ser mesmo munta importante. Monstruoso. Gigante. Vou telefonar à mamã. Mamã, vou ver o Sangue do meu Sangue. O José Gil escreveu que é um filme com o "ritmo do cinema moderno" e o Vasco Câmara acrescenta que é uma "utopia transversal". Tenho medo!. No final do filme, mais calmos, e já depois de se ter ido à casa de banho limpar a mão, simpatizamos totalmente com os pederastas e o José Gil: o filme do João tem uma impressionante quantidade de lenha para alimentar o fogo teórico dos antropólogos e do José Gil (o Eduardo Lourenço não veio?). Ele é graffites nas paredes (um dos primeiros planos, para marcar logo a agenda), ele é charros, ele é vuvuzelas, ele é incesto, ele é velhadas solitários, ele é lesbianismo (cena atroz, indigna de um comentador Vasconcelos), ele é gravidez, ele é problemas no Pingo Doce (ó João, então foste-te esquecer de pôr aquela parte em que os velhos passam à frente de toda a gente na fila? Isso sim, um gravíssimo problema na sociedade lusitana), ele é aquele trambolho do Real Madrid a atirar ao lado da baliza da Costa do Marfim, ele, ele, ele, uma centrifugadora de assuntos muito actuais e pertinentes, "agora deixa cá pôr aqui umas pinceladas de violência familiar, agora vamos pôr aqui uma cena que mostra ...", etc. Até nos traz à cabeça aquela pindérica série juvenil de finais de noventa, Riscos, que o Hermano tratou de caricaturar a preceito no Herman Enciclopédia. É um "espaço de reconhecimento" imposto até ao limite, onde nem faltam cenas melodramáticas próprias da TVI (por mais travellings e desfoques, todos os momentos entre Cleia Almeida e Marcelo Urgeghe são de uma banalidade confragedora). E se nos primeiros trinta, quarenta minutos, pronto, na primeira hora, ainda nos deixam ficar com estas pessoas (óptimas cenas entre comensais e belíssima cena da discoteca), depois começa o filme, uma chatice pegada, mas suficiente para alinhavar escritos delirantes sobre o "Império" por parte dos cientólogos e do José Gil. Mas como ainda estou a ouvir Bat For Lashes ( que moça giríssima) nestes phones cabrescos e a paz tomou conta do meu ser, termino fazendo um grande elogio aos carapaus assados pelo Fernando Luís e à Anabela Moreira, notável voz, que certamente faria uma estupenda e muito pertinente cena de lesbianço com a Bat For Lashes, giríssimas. Teria, certamente, o ritmo moderno da pornografia.

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