segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Frames (26).



1.Lourdes de Oliveira. 2.Marpessa Dawn. Orfeu Negro (1959). Marcel Camus

Filme: 2/5 (Criterion #48)





1.Gwyneth Paltrow. 2.Mr. Bookman (R.I.P.). 3.Coffee & Cigarettes. 4.Naturezas mortas numa antiquíssima arte chamada "composição". Hard Eight (1996). P. T. Anderson

Filme: 4/5 (100 melhores Film Noirs de todos os tempos para a Paste Magazine. Número 99. Peça fílmica de minimal e precisa arte relojoeira antes do seu realizador começar a insuflar (com grandes e não tão grandes resultados) de recheio "cinematográfico" o seu métier.)








1.Ford, cineasta "racita". 2.É um filme de Ford, sim senhor. 3.Santidade do Lar Fordiano. 4.Flausina citadina de bom coração. 5.Gertrude Astor. 6.É um filme de Ford, sim senhor. 7.Molly Malone. Bucking Broadway (1917). John Ford

Filme: 3/5 (Tentativa de fazer uma integral John Ford, por ordem cronológica, e tendo como fonte a Wikipedia. Harry Carey chega à impura e corrupta cidade. Aloja-se num hotel para ricalhaços. Os ricalhaços e seus criados olham com desdém para os campesinos, genuínos e honestos métodos de Harry. Harry aloja-se num quarto. No quarto há um aquecedor que começa a silvar. Plano do aquecedor a silvar. Plano pormenorizado do fumo a ser ejetado. Plano da cara de Harry, escutando e perscrutando. Fade out. Fade in de uma serpente a contorcer-se. Fade out. Fade in da face de Harry, escutando, perscrutando. Harry agarra na sua pistola. Cinema mudo.)




1.As mais belas luzes de velas e fósforos na "Magia da História do Cinema". 2.Jeanne Moreau. 3.Natja Brunkhorst e o irmãozinho são modelos exemplares de amor fraternal. Querelle (1982). R. W. Fassbinder

Filme: 5/5 (Último suspiro artístico e de vida do maior cineasta alemão depois de Murnau e do maior cineasta europeu dos últimos...deixa cá ver...cinquenta e quatro anos (juntemos Rivette e Monteiro). Mas deixemo-nos de panegíricos absolutistas e chorões, e vamos ao que interessa: a enrabadela do Gunter Kaufmann ao Brad Davis. Primeiro, um pouco de resumo essencial do Sexo Heteropatriarcal na História do Cinema entre 1 de Janeiro de 1980 e 31 de Dezembro de 2020. Assim, durante esses quase quarenta e um anos, eis as dez cenas de foda entre homem e mulher que recordamos com mais carinho (neste momento, amanhã já podem ser outras): 1) a foda entre Michael Biehn e Linda Hamilton, no primeiro Terminator. A música de pianinho e os movimentos mais falsos que judas dos dois atores não impedem todo o significado mítico da cena, pois afinal é da salvação da humanidade que estamos a falar; 2) a foda entre Kyle MacLachlan e Elizabeth Berkley na piscina, no Showgirls. Há tsunamis com ondas mais pequenas; 3) a foda entre Leo Fitzpatrick e a miudinha na sequência inicial do Kids, um belo paradigma da venda da banha da cobra para atingir os seus objetivos; 4) a foda entre Christian Bale e as suas prostitutas no American Psycho, ao som de Sussudio do Phil Collins. O mais correto seria escrever: a foda entre Christian Bale e Christian Bale: 5) a foda entre o Michael Douglas e a Jeanne Tripplehorn no Basic Instinct, selvajaria primitiva e ancestral; 6) a foda, no Swimming Pool, entre a Ludivigne Sagnier e um marmanjo qualquer no sofá, com a Charlotte Rampling, qual voyeur, a observar através da janela todo o ato, numa mistura de inveja e discreta ebulição sexual; 7) a foda entre Bob de Niro e Tuesday Weld no Once Upon a Time in America: roubar um mafioso não é suficiente, há que deixar violentas marcas na sua puta; 8) as fodas entre Sissy Toumasi e outros três homens no Miss Violence. Perdão, a violação de Sissy Toumasi por três homens no Miss Violence; 9) Michael Douglas, uma vez mais: a sua tentativa de foda com a Demi Moore no Disclosure. Felizmente, estavam em frente a um espelho, e o Michael, olhando-se ao mesmo, esqueceu-se que estava em cima da Demi e teve uma ajuizada tomada de consciência; 10) obviamente, Monica Bellucci & Joe Prestia no Irréversible. Ora, mais violentas ou mais fofinhas, mais "realistas" ou mais non-sense, nenhuma dessas cenas contém a profunda sensação de laborioso e ardente trabalho físico que o Gunter (sem farda amaricana, por uma vez na vida) e o Brad parecem transportar para a magia da tela. Gunter não parece estar a enrabar o cu de alguém: parece estar a perfurar, embora com evidente prazer, um poço de extração de petróleo numa qualquer terra oriental; Brad Davis, por outro lado, não parece estar a ser enrabado por um caralho de 54 cm, mas sim a ser furado, em câmara-lenta, por um martelo demolidor elétrico. É todo um processo ritual, demorado, com planos aproximados do suor, da contração dos músculos, dos esgares faciais, enfim, um retrato minucioso e religioso (missa da enrabadela) que está ausente do sexo hetero mainstream desde...sempre? Teremos de ir a pé até ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, para que no futuro breve haja uma cena com a Hailee Steinfeld e que envolva estes escrúpulos detalhistas?)






1.Nina Hoss. 2.Nina Hoss & Astrid Meyerfeldt. 3.Antje Weestermann. 4.A terceira personagem principal. 5.Pastoral entre Nina Hoss & Benno Furmann. Wolfsburg (2003). Christian Petzold

Filme: 5/5 (Cinema Christian Petzold: 1988-2012 (R.I.P.).)







1.Tim Roth & Edward Furlong em cavaqueira gastronómica na decoração gelada de Brighton Beach.  2.Moira Kelly. 3.Vanessa Redgrave. 4.Edward Furlong, Moira Kelly & Tim Roth vão ao cinema ver um dos filmes com o Freddy Krueger. 5.Maximilian Schell. 6.Natureza morta numa antiquíssima arte chamada "composição". Little Odessa (1994). James Gray

Filme: 4/5 (Cinema James Gray: 1994-2013 (R.I.P.).)






1.Charlize Theron. 2.Faye Dunaway. 3.Senhores honestos- incluindo Keith Hernandez, o senhor de bigode que uma vez tentou chegar à "second base" com Elaine Benes- preparam-se para cortar o bolo. 4.Ellen Burstyn. 5.Natureza morta numa antiquíssima arte chamada "composição". The Yards (2000). James Gray

Filme: 5/5 (Cinema James Gray: 1994-2013 (R.I.P.). O Gray, o homem que nos seus tempos de glória conseguia transformar um abraço ou um "i love you" em matéria fresca, mítica e lendária. Além disso, é um filme que nos é muito caro, porque no Verão de 1992 demos um beijinho nos lábios de uma prima. Sim, prima em quinto ou sexto grau, mas o propósito de amor familiar continua presente.) 





1.Eva Mendes. 2.Moni Moshonov rapinando o olho do peixe (um robalo?). 3.Eva Mendes imperial. 4.World Trade Center. We Own the Night (2007). James Gray

Filme: 5/5 (Cinema James Gray: 1994-2013 (R.I.P.). Um filme onde todos os russos são criminosos ou cúmplices de criminosos; onde a vida noturna é retratada como um mostruário de devassidão e obscenidades; onde, por contraponto, é um trabalho "honesto e decente" e uma vida familiar casta e recatada- veja-se a personagem da esposa do Mark Wahlberg, sempre remetida ao silêncio- que poderá significar o caminho mais próximo para o paraíso terrestre. E, nunca é demais o repetir: O Gray, o homem que nos seus tempos de glória conseguia transformar um abraço ou um "i love you" em matéria fresca, mítica e lendária.)




1.Os autocolantes das missões lunares estão à venda na internet a partir dos cinco dólares. 2.Quando a IL ou o Dr. André Ventura chegarem ao poder, será assim: apenas colégios privados, e com todos os alunos fardadinhos. 3.Anne Hathaway. Armageddon Time (2022). James Gray

Filme: 2/5 (Cinema James Gray: 1994-2013 (R.I.P.). Após os dois penosos filmes anteriores, não se esperava grande cousa. Por isso, foi com alguma surpresa que demos por nós a aguentar, sem muito esforço, mais uma "autobiografia" coming-of-age cheia de belas e preciosas lições de vida, que se forem providenciadas por Sir Anthony Hopkins adquirirão um peso respeitável ainda mais vincado (sem ironias, o melhor momento do filme, num jardim de um parque, consiste nestas ponderosas lições de vida dadas por Hopkins ao seu neto, enquanto um foguetão vai pelos ares). Além disso, um filme que consiga sobreviver a um cameo da insuportável, emproada, afetada- e demais sinónimos de "arrogante" num dicionário- da Jessica Chastain merece já um piqueno louvor. Não serve para resgatar o cinema de Gray dos sete palmos de terra em que se encontra, mas um passo de cada vez.)



1.Mãe (Nimrat Kaur) e filha (Yashvi Puneet Nagar) num quarto que parece violar as leis da neutralidade de género. 2.Irrfan Khan vislumbra o olimpo gastronómico. The Lunchbox (2013). Ritesh Batra

Filme: 4/5 (Ciclo de Cinema do Mundo e suas Gastronomias #1. O hóme parece ter uma vida boa. É muito bom no desempenho das tarefas do seu trabalho respeitável, vive sozinho, tem uma varanda particular onde poderá terminar o dia a fumar, e um sofá onde se poderá estender sozinho; há o contraponto de ter de ir para o seu local de labor através dos comboios de Calcutá, que são talvez o mais próximo que um quadro do Hyeronimus Bosch teve de ganhar vida a 3D. Contudo, é um pequeno preço a pagar por tanta tranquilidade existencial. E, no entanto...falta algo ao hóme. Será através de uma lancheira apetrechada de perfumados alimentos indianos que Irrfan Khan vislumbrará o que lhe falta: uma mulher que, todos os santos dias, lhe providencie estes manjares gloriosos. Irrfan, contudo, nem sabe o jackpot que lhe bateu de chapa em cima, pois quem faz estes pratos dignos dos deuses é a belíssima Nimrat Kaur, que além do mais parece ter um extremo gosto em os fabricar. Irrfan ás portas do éden. Os ressonos, o ter de partilhar o sofá e provavelmente o ter de deixar de ir fumar à varanda nas quentes noites de Calcutá são questiúnculas menores e burocráticas que não atrapalham o seu imparável caminhar na direção da beatitude doméstica. Ou então não.)




1.Kirin Kin (R.I.P.). 2.Preparem-se as papilas gustativas: vêm aí dorayakis. 3.Kyara Uchida. An (2015). Naomi Kawase

Filme: 4/5 (Ciclo de Cinema do Mundo e suas Gastronomias #2. Drama pasteleiro-cerejeiro-existencial cujas emoções em baixo volume encontram paralelo no cuidadoso, fino e paciente trabalho da cozedura dos feijões doces.)






1.Retrato de uma exemplar família francesa. 2.Despojos de um desaparecimento. 3.Johanna ter Steege. 4.Gwen Eckhaus. 5.Naturezas mortas (e não-mortas) numa antiquíssima arte chamada "composição". Spoorloos (1988). George Sluizer

Filme: 4/5 (Numa entrevista que anda pelo youtube, a Johanna ter Steege, a determinado momento, afirma o seu choque quando viu o Spoorloos no cinema. Ainda combalida pelo que acabava de ver, e muito zangada, perguntou ao seu realizador, George Sluizer, "porque é queres contar uma história assim? porquê? o que é queres dizer ás pessoas? o mundo é assim tão negro?". Nós teríamos a resposta para a lovely Johanna, e para tal precisaríamos de: um sofá; no caso de ser inverno, lenha para a lareira e no caso de ser verão, limões para as limonadas; um livro sobre toda a História da Humanidade, desde as auroras em África até à reeleição em 2021 do filho da puta do Ortega na Nicarágua. Elucidando Johanna, sairíamos de casa na direção de um pomar próximo, onde descansaríamos á sua sombra, à espera da próxima beldade a ser esclarecida.)




1.Peter Mullan, 'celente actor. 2.Sapateiras que combinam bem com uma litrosa de Sagres. 3.Naturezas mortas numa antiquíssima arte chamada "composição". The Vanishing (2018). Kristoffer Nyholm

Filme: 3/5 (Em 1900, três faroleiros desapareceram para sempre ao largo da ilha de Flannan, na Escócia. Cento e dezoito anos depois, Kristoffer Nyholm e banqueiros-produtores fantasiaram sobre o que poderá ter acontecido. O que provavelmente aconteceu- terem caído de uma qualquer ravina- é demasiado simples e dramaticamente pouco apelativo, por isso teve-se de inventar uma rocambolesca história onde ecos do The Treasure of  the Sierra Madre fazem a sua aparição, isto é, um conto moral sobre como nós, seres humanos como as outras pessoas, somos humildes e simples servos de Deus quando temos nada nos bolsos, mas quando surge a possibilidade de colocar uma pepita de riqueza dentro dos mesmos então nós nos tornamos maus e esquecemo-nos da bondade e compaixão para com os outros. É um thriller ventoso, frio e com o Gerard Butler, que por uma vez na vida está perfeitamente adequado á sua personagem: um brutamontes semi-iletrado.)





1.Cerveja sul-coreana. 2.Comida sul-coreana. 3.Park Se Yun. 4.Kim Yoo-jung. Je8ileui bam (2021). Kim tae-hyung

Filme: 2/5 (Os sul-coreanos, na sua manufatura de filmes de terror, conseguem criar atmosfera inquieta, personagens misteriosas e, num dos pratos cinematográficos típicos da região, um procedural em que o polícia-chefe é sempre uma mistura de Sherlock Holmes com uma pessoa incapaz de distinguir a letra A do númaro 6. Mas depois, para um europeu medieval nacionalista como nós, todas estas cousas boas são diluídas em exotismos e folclores sul-coreanos que nos são estranhos, e questionamo-nos se não seria mais simples fazer um filme de terror sobre um homem que anda a roubar galinhas ao vizinho.)

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