segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Frames (25).


Fay Wray. The Most Dangerous Game (1932). Irving Pichel & Ernest B. Shoedsack

Filme: 3/5 (Criterion #46. "A rule is a rule. And let's face it, without rules, there's chaos."- Cosmo Kramer.) 




1.Maria Bonnevie. 2.Stellan Skarsgard assedia manualmente as perninhas de Marianne O. Ulrichsen. 3.Gisken Armand. Insomnia (1997). Erik Skjoldbjaerg

Filme: 3/5 (Criterion #47. Film Blanche.)






1.Charlotte Rampling. 2.Lisa Bonet, ligeiramente mais bela do que a filha. 3.Procuram-se inserts no cinema actual. 4.Tão bondosos, os cidadãos negros norte-americanos nos anos 50 e 60: até partilhavam com desafortunados brancos o privilégio de terem lugares só para si nos autocarros. 5.Experiência gastronómica com ovo que em breve iremos realizar. Angel Heart (1987). Alan Parker

Filme: 2/5 (100 melhores Film Noirs de todos os tempos para a Paste Magazine. Número 100. Quando se deixa à solta o Rourke no seus individuais e morosos trabalhos de investigação, ou quando ele e o De Niro- a interiorizar completamente a aura de "Grande Senhor da Representação"- se encontram na mesma cena a trocar galhardetes, então o filme adquire uma certa brisa sensorial cinematográfica. Quando isso não está a acontecer, e quando o Alan Parker desce ás caves do videoclip e das aberrações visuais, então pensamos que temos é de tratar destas borbulhas nas pernas.)






1.O primeiro plano não perdido da filmografia de John Ford. 2.No mesmo ano em que a Ditadura do Proletariado termina com a propriedade privada na Rússia, os americanos demonstram o alienável direito de cada pessoa ter cousas só suas. 3.No mesmo ano em que a Ditadura do Proletariado iniciou as suas perseguições contra as bondosas religiões na Rússia, os americanos demonstram os alienáveis deveres de Rezar a Deus antes da refeição. 4.Harry Carey e um seu fiel amigo. 5.Molly Malone. Straight Shooting (1917). John Ford

Filme: 4/5 (Tentativa de fazer uma integral John Ford, por ordem cronológica, e tendo como fonte a Wikipedia. Uma pessoa vê um conjunto de vacas a ser pastoreado, vê o início da filmografia do Ford, e lembra-se que ainda faltam quarenta anos para o Ethan Edwards virar as costas à camara, andar na direção de um deserto, e uma porta fechar-se. Quarenta anos.)






1.As leituras de uma jovem em 1980. 2.Christina Ricci & Anna Chlumsky, respectivamente as versões femininas de Huckleberry Finn e Tom Sawyer. 3.Polly Draper (as "the hot mom"). 4.Jewel Staite & Ashleigh Aston Moore (R.I.P.) como as amiguinhas burguesas que preferem o decoro e o repouso ás aventuras proletárias nas montanhas. 5.Doçaria para comemorar o 4 de Julho. Gold Diggers: The Secret of Bear Mountain (1995). Kevin James Dobson

Filme: 2/5 (Christina Ricci #1. 1995 foi um ano fértil para produções de carácter "aventureiro, juvenil, para toda a família, e imbuído de valores positivos e universais". Filmes que, na sua quase totalidade, tinham o prazo de validade de um verão. No caso deste simpático Gold Diggers, o prazo iniciou-se ás 14:27 de 3 de Novembro de 1995- data da sua estreia nos EUA- e terminou ás 23:59 do 21 de Setembro de 1996, fim do verão seguinte; portanto, uns interessantes dez meses de legitimidade de existência. Mas tal como há hómes no youtube que abrem- e depois comem- rações da 1º Guerra Mundial (tentem ir mais longe e encontrar uma da Guerra do Peloponeso), também nós, como adoradores de detritos, nos embrenhamos nestas amenas peripécias cinematográficas. São imagens que nos passam brandamente pela mente, sem alaridos nem acidentes. Mantas e canjas, eis o que queremos.)










1.Christina Ricci, in all her living glory. 2.Michelle Williams & Christina Ricci, Gen X. girls. 3.Michelle Williams. 4.Anne Heche (R.I.P.). 5.Zoe Miller (R.I.P.). 6.Típicos pratos gastronómicos norte-americanos. 7.Christina, encharcada de tinto. 8.Jessica Lange. 9.Christina e Travis Bickle. Prozac Nation (2001). Erik Skjoldbjaerg

Filme: 1/5 (Christina Ricci #2. Michelle Williams #1. Depois do sucesso do Insomnia, Hollywood tratou logo de contratar o seu realizador para uma aventura fílmica. São assim, os amaricanos. Mal detetam "talento" nos cineastas de todo o mundo- mormente europeus- tratam logo de os seduzir com propostas tentadoras para que a sua "criatividade" seja colocada no outro lado do Atlântico (ou no Pacífico, para se ser mais preciso). Normalmente, um feixe de notas bojudas costuma ser suficiente para levar os cineastas a colapsar perante os cantos de sereia dos amaricanos, mas ás vezes é preciso um bocadinho mais do que isso, como por exemplo o realizador exigir "um projeto que me dê grandes liberdades criativas!" ou ainda mais um ou outro bónus, alguns dos quais bem fetichistas, cala-te boca. Atenção: este processo de sedução-recusa-negociação-aceitação não se aplica a cineastas portugueses. Poder-se-á dizer que nenhum executivo amaricano cinematográfico conhece realizadores portugueses, mas isso é uma falsa questão. Mesmo que fossem convidados, os nossos mestres diriam um rotundo não a tais mefistofélicos apelos, preferindo continuar de cabeça bem erguida e a reforçar a "especificidade cultural do cinema português"; não será qualquer saca de caramelos ou meia dúzia de jovens rapazes e jovens raparigas apetrechados dos mais robustos e belos adubos corporais que os farão mudar de ideias. Andor, seus flautistas! E então, o Erik, depois do Insomnia- que, noutra especialidade de Hollywood, seria mais tarde refeito nos USA por outro hóme europeu apanhado nas redes de pesca dos amaricanos- foi para os USA e fez Prozac Nation, filme baseado na auto-biografia de Elizabeth Wurtzel, que na segunda metade dos anos 80 era uma universitária a contas com depressões, ataques de pânico, ataques de ciúmes e dependência extrema de álcool e comprimidos. Jesus Cristo Senhor Seja Louvado: o que no filme norueguês era opaco, turvo, silencioso, era agora exposição desenfreada- voice over atroz da Christina-, visibilidade total e ênfase redundante. Já imaginamos o Erik a passar o tempo de rodagem a contar, maravilhado, os molhos de notas das jackson bills, esquecendo por completo que estava a realizar um filme. Para memória arqueológica: o genérico inicial, reminiscente da escola Se7en muito em voga nos anos 90- anos 90 que, como se sabe, apenas acabaram em 2003; e a primeira vez, se a memória não nos prega partidas, que a Christina Ricci se mostrou ao mundo totalmente despida (literalmente) de preconceitos.)






1.As vantagens da prática medicinal. 2.Christina Ricci. 3.Woody: um bálsamo literário para todos os punheteiros. 4.Stockard Channing. 5."No, it's to trendy. No Isabellas.". Anything Else (2003). Woody Allen

Filme: 4/5 (Christina Ricci #3. "Sabes, uma pessoa pode pendurar-se e cuspir da varanda do Carnegie Hall, e podes ter a certeza de que alguém vai achar que isso é arte."- Woody Allen.)






1.Rachael Leigh Cook. 2.Kirsten Dunst. 3.Gaby Hoffmann. 4.Merritt Wever. 5.Monica Keena e no background a sua irmãzinha em reprováveis atividades binárias e cisgénero. Strike! (1998). Sarah Kernochan

Filme: 2/5 (Kirsten Dunst #1. Rachael Leigh Cook #1. Kirsten, Monica e restantes amiguinhas tentam impedir que o seu liceu deixe de ser só para raparigas, impedindo assim que a infeção bacteriológica masculina lhes arruíne a alva pureza da sua virgindade. Não podíamos estar mais de acordo com as meninas. Aliás, nem nós nem os taliban, que têm tentado a todo o custo que esta imoral junção de sexos numa mesma escola seja uma realidade, frustrando assim as possibilidades de acontecerem situações embaraçosas, como beijos deslavados e gravidezes indesejadas. E ainda há outra vantagem deste obstáculo à pouca-vergonha: que maior prazer poderá haver quando os dois namoradinhos se encontrarem debaixo do pomar da avó da menina, resfolegando de excitação de pensarem que a qualquer momento podem ser apanhados pelas autoridades? O feminismo e os taliban na mesma luta pelos mais singelos prazeres da vida.)





1.Kirsten Dunst. 2.Michelle Williams. 3.Teri Garr. 4.Michelle & Kirsten, two all-american girls. Dick (1999). Andrew Fleming

Filme: 2/5 (Kirsten Dunst #2. Michelle Williams #2. Se é para fazer um filme anti-Partido Republicano e que ridicularize os elementos sagrados da Constituição Norte-Americana (Presidente da República, Bandeira, Sala Oval), e que além disso ainda tenha aquelas tão típicas como insustentáveis cenas conspirativas "à anos 70-pakulianos" nas garagens, então que seja através da mais completa irrisão, com duas senhorinhas como a Kirsten e a Michelle aos comandos, e ainda com o Dan Hedaya como Dick Nixon.)








1.Parker Posey. 2.Rachael Leigh Cook. 3.Tara Reid. 4.Rosario Dawson, Tara & Rachael e vestígios warholianos. 5.Rosario Dawson. 6.Rosario, Rachael, Tara & Alan Cumming questionam se as maçarocas de dinheiros serão suficientes para os livrar da vergonha de terem entrado nisto. 7.Segunda pratada de snacks para acompanhar um qualquer jogo da Premier League (a primeira inclui crustáceos, tremoços, pevides, cajus, amendoins, jaquinzinhos fritos, três bolas de berlim, um queijo de ovelha e um chouriço acabado de vir de um fumeiro de Montalegre). Josie and the Pussycats (2001). Harry Elfont, Deborah Kaplan & Marc Webb

Filme: 0/5 (Rachael Leigh Cook #2. Um daqueles filmes "anti-capitalistas" e "anti-consumismo desenfreado" que usa essas inanes cauções, através de uma suposta zombaria, como alavanca para fazer product placements de dez em dez segundos. Mas isso não é tudo, não, não. Também é um filme que nos alerta para as mensagens subliminares escondidas nas canções pop das girl/boy bands (quando as havia), e que podem levar a juventude a possuir um frenesim de comprar cousas de que não necessita. E como se isso não bastasse, as canções ouvidas no filme, além de terem apanhado os desprevenidos jovens, também me apanharam a mim. Insidia e maliciosamente, comecei a imaginar-me todo nu num jacuzzi com a Rosario, a Rachael e a Tara, munidos apenas de taças de champagne, lavagante azul e pastelaria chinesa. Foi horrível, horrível! Que tal nunca suceda aos lutadores da liberdade mental por esse mundo afora.)





1.Nos anos 80 amaricanos "conservadores", "reacionários" e "religiosos" era assim: adultos que se tocavam no cinema (na tela. Na sala também, certamente). 2.E ao sétimo dia Deus descansou. Mas cansado de tanta preguiça e sentindo um burburinho a percorrer o seu corpo, Deus, entre as 15:28 e as 17:43, criou a Diane Lane. 3.Diane: nem numa cópia VHS cheia de grão e cores esbatidas perde a sua cintilação. 4.As costas de Chelsea Benedict são objeto de desejo para o seu esposo Michael Woods, o que prova as mentiras dos invejosos solitários deste mundo: a inexistência de ardor na vida conjugal. Lady Beware (1987). Karen Arthur

Filme: 3/5 (Thriller softcore da segunda metade dos anos 80, com um stalker a perseguir a Diane Lane, que neste filme interpreta uma decoradora de sexualmente provocadoras vitrinas de uma loja de roupa. O título em português é "Mulher Ameaçada". Está tudo escrito.)



1.Abundância gastronómica colonialista inglesa em Shanghai, c. 1937. 2.Luz nuclear: pode-se pensar que a visão do "Sol Nuclear" é uma liberdade criativa inscrita na Luz Spielberguiana, até porque dos arrabaldes de Shanghai até Nagasaki vão mais de 800 km de distância, mas tal acontecimento está mesmo presente no livro do J .G. Ballard. Empire of the Sun (1987). Steven Spielberg

Filme: 4/5 (Este, o Hook, o E.T., o A.I., o Close Encounters of the Third Kind, o War of the Worlds, o Catch Me If You Can, o Jurassic Park ou o Minority Report são tão auto-biográficos que tornam o The Fabelmans numa redundante peça de prosa cinematográfica.)





1.Manhattan: do extremo norte (Henry Hudson Bridge) ao extremo sul (Battery) são 21 km. Dependendo do seu estado de decrepitude física, levará, a andar, de cinco a doze horas a percorrer essa distância. Se for mulher, levará de três dias a uma semana. 2.Chama-se "apelo visual". 3.Rita Moreno. 4.Natalie Wood, Património Material da Humanidade. West Side Story (1961). Robert Wise & Jerome Robbins

Filme: 4/5 (Se fosse eu a mandar no mundo, o West Side Story de 1961 teria a duração de 161 minutos: 153 para aqueles atmosféricos e quase silenciosos planos aéreos de Manhattan  que abrem o filme + 8 minutos da face da Natalie Wood, em plano fixo, a apanhar sol. Como não se domina, com mão de ferro, o planeta, temos de nos contentar, e muito, com a versão existente. Sobretudo se compararmos a sua tão rigorosa quanto luxuriante mise-en-scêne com o vale-tudo do remake de 2021. Maria!/Say it loud and there's music playing/Say it soft and it's almost like praying.)



1.Um dos dois planos que gostei no filme. 2.O outro dos dois planos que gostei no filme (o remake devia ter sido feito nos anos 90, pelo Paul Verhoeven ou pelo Adrian Lyne). West Side Story (2021). Steven Spielberg

Filme: 0/5 (Não se aguentou nem metade. Não dava mais. Tem a mesma relação parasita/hospedeiro com o original que o High School Musical tem com o género Musical.)







1.O piqueno Mateo Zoryan chamuscado com a "magia do cinema". 2.Michelle Williams, embaraçosa de sobre-representação como nunca. 3.Julia Butters, Keeley Karsten & Sophia Kopera maravilhadas de tédio com as histórias tecnológicas do papá. 4.Judd Hirsch demonstra como se come frango assado. 5.Isabelle Kusman & Chloe East. 6.Um realizador famoso personificando outro realizador famoso corta um charuto. The Fabelmans (2022). Steven Spielberg

Filme: 2/5 (Michelle Williams #3. Os anos passam, não nos chateemos desnecessariamente. Aprendemos a valorizar o que é bom e a desligar-se das cousas desagradáveis. Por exemplo, vamos de seguida escrever o que gostámos neste filme do Ron Howard, olvidando o que não gostámos. A saber: 1) o espanto do pequeno Steven Fabelman perante a magnificência delirante da Tela (deve ter sido assim que Napalm se sentiu em Dezembro de 1982, quando entrou pela primeira vez no Templo Sagrado para ver o E.T.. 2) as aparições relâmpago de Judd Hirsch e David Lynch, que profissionalmente fazem o seu trabalho e metem-se rapidamente a desandar dali para fora. 3) as relações de Sammy Spielberg com a namoradinha e o jock-bully da escola, que argutamente percebe a deslavada mentira das imagens cinematográficas. É pouco? Não se estivermos a descrever os prazeres num filme do Ron Howard, que com este trabalho tem um dos seus melhores momentos cinematográficos, talvez a par do Apollo 13.)


Jessie Ware. Wildest Moments (2012). Kate Moross

Filme: 5/5 (É o melhor videoclip da década passada.)


Hannah Kepple é uma jovem feminista que utiliza o seu corpo como arma de arremesso contra o conservadorismo patriarcal do mundo. É como nós gostamos. Cobra Kai: Season 3, Episode 3 (2021). Lin Oeding

Que gozo de série. 


O nascimento

O indivíduo bem educado deve nascer completamente nu. Este trajo, de resto, só é permitido no momento de vir ao mundo, durante os banhos e em outros actos que já estão fora do âmbito honesto deste livro. É de bom tom o bebé esperar nove meses após o casamento. Só as crianças com pouco sentido das regras da etiqueta resolvem nascer antes, dando origem a que os vizinhos entrem em suspeitas de que resultam inconvenientes e sarcásticas alusões sobre o comportamento da mamã em solteira. Não se deve nascer a altas horas da noite. Os médicos e as parteiras têm a sua vida organizada, as suas aventuras nocturnas, e não gostam de ser incomodados no decorrer das ditas. Nasça pois entre as dez da manhã e as cinco da tarde. E uma última observação, a fechar este capítulo: toda a criança bem educada deve nascer filha de seu pai.

José Vilhena, Manual de Etiqueta, 1959. 

Editora: E-Primatur.

1º edição, Maio de 2017.

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