quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

mais um "fascinante documentário"


Terei de elaborar da melhor maneira qual a mais adequada forma de insultar, cuspir, cagar, vomitar e escarrar nesta imunda sanita filmica. Pensava que depois do Leviathan ia ter tempos mais descansados, mas parece que estou com pouca sorte. Vem aí granizo.

Se, como disse o outro, a cinefilia é uma doença, então Room 237 é uma gravissima enfermidade patológica partilhada por seis lunáticos. Aquilo que começa como uma curiosa patuscada sobre o "poder da observação", transforma-se, com o passar dos minutos, numa jornada de obsessão doentia (autismo mesmo), mas que pelo menos tem a vantagem de provocar suculentos cabazes de riso. Então é assim:

-seis fanáticos do The Shining vão tecendo elucubrações simbólicas a partir de praticamente cada frame do filme, onde cores, expressões corporais, disposição de objectos, e até inofensivos erros de continuidade são grande pasto para dar azo a teorias cada vez mais delirantes e presunçosas. Vale tudo a partir daqui: é um filme sobre o genocídio dos índios! é um filme sobre o Holocausto! é um filme sobre sexo! é um filme sobre a falsificação da ida do homem à Lua pois aquilo que a humanidade viu foi uma mera encenação dirigida pelo próprio Kubrick! as duas gémeas são a Wendy! o plano inicial de steadycam é o ponto de vista de anjos! nesse mesmo plano inicial as nuvens formam a cara do Kubrick! se sobrepusermos o filme de trás para a frente com o filme de frente para trás tudo bate certo! o Jack é o Hitler! a máquina de escrever do Jack significa o Nazismo! a cara do Jack é a de um minotauro! o sangue a jorrar é dos indíos! o filme é sobre o passado! há uma erecção a rebentar as calças do chefe do Jack! e por aí...

In a March 27, 2013 article in The New York TimesLeon Vitali, who served as personal assistant to Kubrick on the film, stated "There are ideas espoused in the movie that I know to be total balderdash"; for example, the documentary's theory concerning a poster of a minotaur is in fact referencing a poster of a skier and the film's usage of a German typewriter, interpreted to be symbolic of the Holocaust, was chosen by Kubrick for pragmatic reasons. He concluded that "[Kubrick] didn’t tell an audience what to think or how to think and if everyone came out thinking something differently that was fine with him. That said, I’m certain that he wouldn’t have wanted to listen to about 70, or maybe 80 percent [of Room 237]... Because it’s pure gibberish

A juntar a esta autêntica demência, há a realização de Rodney Arscher, que vai fazendo colagens associativas entre filmes que não interessam para o caso em questão ( quando um dos malucos fala da saída do cinema onde tinha acabado de ver o filme em direcção ao parque de estacionamento, as imagens que aparecem são as do Redford no All the President's Men num parque de estacionamento) e raccords baratuchos (plano do escritor inválido do Clockwork Orange com o All work and no fun... na máquina de escrever, etc), numa montagem que faz mui lembrar um filme (Natural Born Killers) de outro acéfalo das conspirações. E quando, já perto do fim, um dos enfermos diz que está sem emprego, e que tem uma filha pequena e que está a pensar ir morar para um qualquer lugar isolado, percebemos, então, que na verdade estivemos na presença do testemunho de pessoas que estavam a falar directamente do hospício. Mas conhecemos outra pessoa que está tão ou ainda mais fodida dos cornos que estes nossos amigos, e é aquele que está a escrever estas palavras, pois só alguém com o juízo nas lonas pode gastar mais do que cinco linhas neste filme. Está na altura de irmos todos ao doutor, onde trataremos de observar pormenorizadamente aquelas manchas de bolor na parede ao fundo da recepção, que, sem quaisquer dúvidas, significam a Guerra dos Trinta Anos.