sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Leviathan: o triunfo do "sensorialismo", do "hyper-realismo", da filha do putismo e dos cinemas- GO-Pro e smartphone.


Vai ser um prazer "destruir" este filme com alguma da linguagem mais viperina que já se viu neste blogo. Só para começar: o rasto de prestígio, prémios e cabeças de lista de tops que esta lixeira a mar aberto tem granjeado vem provar que não foi o cinema que acabou, mas o próprio mundo, e nós continuamos iludidos a pensar que estamos em grande paz. Agora, vamos escrever um pouco sobre um gajo chamado Zé Mário (nome fictício) e um porco.

O Zé vive para os lados da Nazaré, mas como tem aqui na terreola família chegada, passa por cá umas duas semaninhas no Verão e uns dias no Natal. No Verão passado, o Zé disse, a mim e a quem por lá estava, que ia comprar uma "daquelas câmaras que parece que estão coladas ao corpo". Alguém avisado, que não eu, disse:" Ah! Uma Go-Pro". E depois outra pessoa, pouco avisada e que por acaso era eu, acrescentou que "já que tens um quintal por lá, coloca a câmara num dos porcos para vermos como é". E o Zé lá foi, voltando há dias para aqui. Então o Zé, que também gosta de bodyboard, mostrou-nos no seu laptop "impressionantes" imagens da Go-Pro "colada ao corpo" enquanto fazia bodyboard. E eu, espantado com tal espanto, afirmei que aquilo ainda era melhor que o Point Break, ao que o Zé acrescentou, "sim, e também faz lembrar aquele filme de surf com o Keanu Reeves!". Depois acabavam as imagens marítimas e aparecia uma algaraviada suína com o enquadramento ao nível da lama e da palha e dos restos de merda de galinha e patos e música insultuosa e soez como pano sonoro. "Não me diags que colocaste mesmo a câmara no porco?". "Ah pois!". E lá se viam "enquadramentos" à chapada, câmaras ao roliço, onde havia grande dificuldade em saber sequer por onde andava o porco. Estranhamente, esqueci-me de avisar o Zé Mário de que isto deveria ser enviado para qualquer festival "independente" ou "documental". Com um bocado de sorte, ainda passava pelos olhos da Brenez, que afirmaria, entusiasmada e antes de ir mudar o penso, "de que estas imagens são o contraponto sujo e imundo ás técnicas artificiais e sépticas dos dias de hoje. Agora calem-se, que vou ver um filme grego de 1645, para ver se o coloco no meu top de 2014". Agora voltando aos filhos da puta:

Sim, vocês, Lucian Castaing-Taylor e Véréna Paravel, seus labregos. Nem sei por onde começar. Bom, pode ser pela "mensagem" que vocês pensam que estará soterrada na vossa imunda tralha audiovisual. Salta logo à vista a ladaínha do "ai o homem, tão predador e maquinal, bla bla bla". Isto enquanto na rodagem do filme comiam carapaus fritos. Depois a montagem do filme, que parece ter sido deixada a cargo de um macaco deficiente e desprovido de visão. E se o ilusório desleixo da montagem (planos que se seguem a outros sem critério algum, mas isto é "experimental, meus senhores!") já seria motivo para tu, Lucien, seres violado por quatro elefantes, e tu, Véréna, seres violada por mim (com uma Go-Pro na minha testa, relembrando o saudoso Strange Days), o que mete ainda mais urticária é como tudo é feito com o cuidado de encher de efeitos e "sopa" a mente do espectador, para o "imergir" num repugnante mar de "sensações". Porque é que não enfiam as vossas Go-Pro nos vossos olhos do cu, aquando da caganeira, para assim, sei, lá, a Brenez, enquanto muda o tampão, afirmar, peremptória, que "estas imagens destroem de forma subliminar a correlação de forças existentes entre a realidade e a ficção. Agora calem-se, que vou ver um dos primeiros filmes caseiros do Thomas Edison, para ver se o coloco no meu top de 2014". Aliás, voltando à "sopa": isto não é só "sopa"; é sopa, é nestum, é duzentos caldos verdes com um kilo de chouriça em cada um, é sopa da pedra, etc. E a "recusa em estabelecer espaço e tempo, para assim castigar, e bem, o espectador, que ficará desorientado?". AHAHAHAHAH. Boi e vaca: isso é só masturbação. Se querem aprender alguma coisa sobre "desorientação", vejam o Aliens do Cameron. E aqueles close-ups inanes nas caras e ombros dos pescadores, a mostrar o "suor" e a "máquina" em andamento? Para estes dois, tudo é lixo: pessoas, peixes, caranguejos, gaivotas, tudo como prato para grande espectáculo de "realismo" e "tema". Véréna, usas ligas? Que diria o velho Franju do Le sangu des bêtes deste pedaço de poia? Que dirá o barbudo Brakhage  do The Act of Seeing with One's Own Eyes? Para juntar na mesma cómoda dos Reygadas, Von Triers, do Faust, do Grandmaster, dos Refns e de toda essa escória "sensorial" que me tem assaltado à mão desarmada nos últimos anos.