quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

le beau Serge

Acabado de ver o mediano/medíocre Gravity (tanta sopinha, santo Deus), tive de ir lavar os olhos com um texto de Sérgio Santos, o homem que faz as mais interessantes críticas de cinema neste país (quer dizer, é o meu preferido, o que pode não significar, necessariamente, que seja o mais interessante do país. Mesmo sendo). Recomendamos vivamente. Aqui está, por exemplo, sobre Conto de Verão, do Rohmer:

Comentário : Este filme faz parte de um conjunto de quatro filmes que compõem os contos das 4 estações, todos realizados por Eric Rohmer. Este “Conto de Verão” é um simpático filme sobre um homem que terá 3 lindas mulheres a seus pés e que terá que optar por uma delas. Desconhecia todos os atores do filme e fiquei satisfeito com as interpretações do personagem principal e das 3 moças. Amanda Langlet e Gwenaelle Simon são duas raparigas muito atraentes e muito bonitas. Gaspard é um homem de uma indecisão bestial, confesso que fiquei fascinado com o seu final. O filme tem muito de cinema e a realização é excelente, com uma maneira de filmar e um ritmo parecido com a famosa trilogia de Richard Linklater. Neste filme, não faltam raparigas de bikini, praias e muita diversão, tudo coisas tipicas do Verão. Mal posso esperar para ver os restantes contos.


ou sobre Clockwork Orange:

Comentário : Apesar de não gostar muito do cinema de Stanley Kubrick, tenho que confessar que gosto muito de 3 filmes seus : “De Olhos Bem Fechados”, “Barry Lyndon” e este “A Clockwork Orange “. Este último é um filme muito bom. É curioso vermos como uma pessoa muda tanto. O filme é uma obra prima do cinema, apesar de não ser o melhor de Kubrick. O filme tem uma excelente banda sonora, planos de camara espectaculares, boas interpretações e um poderoso argumento. No entanto, não gostei de algumas coisas, por exemplo, as vestes dos 4 criminosos são ridiculas, principalmente Alex que fica ainda mais ridiculo com aquelas pestanas postiças. O filme levanta a questão : podemos combater a violência com mais violência ? Aparentemente, com Alex isso funcionou, ou talvez não. Já vi este filme algumas vezes e é sempre um prazer vê-lo. No entanto, na minha opinião, a maior obra de Stanley Kubrick continua a ser “Eyes Wide Shut – De Olhos Bem Fechados”. Classificação : 4.

ou então sobre o Romeu e Julieta do Lurhmann:

Comentário : Publico o meu comentário a este filme, porque foi o primeiro que vi no cinema, completamente sozinho. Na altura, tinha 16 anos e ainda me lembro que foi em Maio de 1997. Senti-me a pessoa mais responsável do mundo, foi um dos dias mais importantes da minha vida e tomei-lhe o gostinho. Ainda me lembro que foi nos Cinemas Palmeiras, que entretanto já encerraram portas à alguns anos. Na altura e porque era um rapaz romântico (ainda sou), adorei o filme, embora achasse que havia um certo exagero no modernismo. Adorei os diálogos e gostei de ver a bonita Claire Danes vestida com umas asas. Havia uma canção que eu fixei na minha mente, chamava-se “Kissing You” e era cantada pela Des'ree, uma canção linda. Daquele tempo, ainda considero o Amor como o melhor sentimento que existe, seja sentido de que forma for. Foi também neste filme que descobri Leonardo DiCaprio, mas mal sabia eu que o rapaz já fazia filmes em criança. Na altura, se tivesse o hábito de classificar os filmes, tinha-lhe dado um 5, mas vou ter que lhe atribuir um 3. Ainda assim, é um filme bonito que é um verdadeiro hino ao Amor. Classificação : 3.


terminamos com um belíssimo texto a Enter The Void, filme que só eu e o Sérgio gostamos, o que certamente terá que ver com os planos de câmara bem "apetitosos":

Comentário : Antes de mais, quero aqui dizer que tive a sorte de visionar a versão extensa do filme com cerca de 160 minutos e não a versão de 135 minutos que deambula pelas salas de cinema nacionais. Depois quero dizer que, ver este excelente filme, foi uma das mais magnificas experiências cinematográficas que alguma vez tive, trata-se de um dos melhores filmes que vi este ano, apesar do filme já ter sido feito em 2009. O cinema de Gaspar Noe (com somente 3 obras no seu reportório) é assim, ou se odeia ou se ama. Pessoalmente, já tinha amado o seu segundo filme (Irreversible) e amei igualmente este “Enter The Void”. Este tipo de cinema experimental e super alternativo, em especial este “Enter The Void”, não é para a maioria do publico, é um tipo de cinema muito raro, arriscado e caminha em terreno pantanoso. Ouvi relatos de conhecidos meus que viram pessoas a sairem da sala de cinema, durante a projeção. O filme está filmado todo ele de forma muito peculiar e nunca antes vista, sendo os primeiros 25 minutos de fita, mostrados sob o ponto de vista de Oscar, ou seja, as imagens apenas mostram o que o protagonista está a ver, a tal ponto que a imagem até pisca, fingindo serem os olhos dele. A ação do filme não é linear nem cronológica, vai deambulando entre épocas, entre o que se vai passando depois da morte de Oscar e aquilo que de mais importante se passou no seu passado, e nesta época os principais focos são a excelente relação de cumplicidade entre Oscar e a sua irmã Linda; o brutal acidente que os dois irmãos presenciaram em crianças que vitimou os seus pais e que lhes provocou um trauma profundo e, por último, realça também alguns momentos da infância de Oscar e Linda, originando bons momentos de ternura. Outro destaque para a excelente fotografia, para os apetitosos planos de camera, todo o filme parece uma trip de duas horas e meia. Um último destaque para as cenas de sexo, muitissimo bem filmadas, repletas de angulos de filmagem únicos, por vezes, me perguntava como é que o realizador conseguiu filmar certos planos, por exemplo, sempre que nos mostrava as imagens vistas de cima sobre a cidade ou a forma como invadia os quartos do hotel do amor e penetrava directamente nas relações amorosas dos casais. Uma obra única, sem igual, mais do que um filme obrigatório, “Enter The Void” é uma obra prima do cinema alternativo. Classificação : 5.