segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Frames (19).


Liv Tyler. Armageddon (1998). Michael Bay

Filme: 0/5 ( Criterion #40. A História dos seres humanos está rodeada de mistérios e dúvidas: foram apenas pessoas de carne e osso a construir as pirâmides? Qual o segredo para a imortal formosura da Sónia Araújo? Alekhine morreu por sufocação alimentar ou foi assassinado no Estoril, em 1946? O que diziam as estranhas línguas ibéricas pré-romanas? O que teria acontecido se o Império Mongol, ás portas de Viena, não tivesse voltado para trás? Como é que o Beau Travail foi parar a 7º lugar na lista da Sight and Sound para os melhores filmes de sempre? Quem descobriu o Leite Creme? Quem teve a ideia de logo em 1999 ter adicionado o Armageddon à coleção da Criterion?)



1.Adria Arjona. 2.Mélanie Laurent. 6 Underground (2019). Michael Bay

Filme: 0/5 (Depois da agonia física dos primeiros vinte a vinte e cinco minutos- uma perseguição automobilística pelas estradas, ruas, monumentos e museus de Florença que poderá não só enviar um espectador para o oftalmologista mais próximo como também esgotar a sua reserva de aspirinas-, e depois de se ver a Adria Arjona em lingerie, esperou-se pelo plano da Mélanie Laurent também em lingerie. Depois acabou o "filme".)


Eiza González. Ambulance (2022). Michael Bay

Filme: 0/5 (Quando os generais romanos entravam triunfalmente em Roma após a conquista de qualquer batalha importante, ao lado e ligeiramente atrás na quadriga vinha um seu conselheiro, que ao ouvido lhe dizia sábias palavras sobre a moderação, o recato, os perigos da vaidade e da imodéstia, e que Ser Divino só havia um, e que esse era o Imperador. Era uma forma de o fazer descer à terra e libertá-lo das tentações da loucura da fama- e sem "redes sociais" e tudo. Ora, o Michael Bay precisa de um ponderado conselheiro como os dos antigos generais. Um homem prudente e conhecedor das belezas e feiuras do cinema. Um ancião que reflita munto e que lhe diga ao ouvido, durante o momento de aceitar um guião:" Senhor Michael, este filme, pelo que vejo, tem bastantes cenas de perseguições e disputa de tiros. Senhor, pelo que já vimos anteriormente, não estais capacitado para transmitir um ritmo adequado a toda esta panóplia de velocidades e balas. Senhor, ninguém percebe o que Sua Senhoria faz nesses momentos. É tudo confuso e nebuloso. Senhor, se me permites, digo-lhe que, a partir de agora, escolhei apenas projetos que lidem com clichés românticos, sexualização dos corpos e homens e mulheres que tenham um QI inferior a 27. As maiores felicidades para Sua Senhoria.".)


Valentin Vinogradov & Vadim Novikov lancham. Ubiytsy (1956). Andrei Tarkovsky, Aleksandr Gordon & Marika Beiku

Filme: 5/5 (Como o The Fall of the House of Usher, ou o The Hound of the Baskervilles, o conto The Killers, do anti-feminista, macho alfa, caçador de búfalos e apreciador de açucar e mulheres cubanas Ernst Hemingway, é uma daquelas peças de prosa impregnadas de tanta "universalidade" cinematográfica, tão rica em tensões e expectativas e com personagens simultaneamente tão definidas quanto elusivas que se poderá dizer que qualquer cineasta- ou mesmo um Baumbach ou uma Miranda July- conseguirá fazer, de forma quase automática, um bom filme a partir dos seus escritos. O Robert Siodmak fez um muito bom filme. O Don Siegel fez uma piquena obra-prima. Mas foi o Tarkovsky e os amiguinhos que conseguiram captar de forma perfeita as vagas e incertas sensações e impressões do conto. Que os atores fossem todos amadores ainda melhor resultou no registo maquinal- mas não desprovido de ironia- com que os diálogos são expelidos.)



1.Irma Raush. 2.Valentina Malyavina. Ivanovo detstvo (1962). Andrei Tarkovsky

Filme: 4/5




1.Naturezas mortas numa antiquíssima arte chamada "composição". 2.Olga Barnet. 3.Natalya Bondarhuck. Solyaris (1972). Andrei Tarkovsky

Filme: 3/5 (A hipnose do cinema do Andrei está no murmurejar dos rios, nas folhas das árvores ao relento, no calçado a enterrar-se na lama, nas gotas de chuva a caírem sobre a lama, as folhas das árvores e os rios, está na tangibilidade da natureza que, se tudo correr bem, ficará novamente em paz depois de os hómes (e as mulheres) desaparecerem do planeta em menos de duzentos anos a partir daqui. Quando o Andrei assenta arraiais no betão armado, perde-se essa capacidade de adormentar os sentidos e temos de estar atentos a cousas chatas como "história" e "personagens".)



1.Margarita Terekhova. 2.Natureza morta numa antiquíssima arte chamada "composição". Zerkalo (1975). Andrei Tarkovsky

Filme: 3/5 (Tal como há aqueles que acham o The Sun Shines Bright o melhor filme do Ford ou o Always o melhor filme do Spielberg- por exemplo, o Napalm-, também há seres humanos que consideram este o melhor filme do Tarkovsky. A vida é assim. Com espaço para muntas surpresas e pasmos.)




1.Natureza morta numa antiquíssima arte chamada "composição". 2.Alisa Freyndlikh. 3.Natalya Abramova. Stalker (1979). Andrei Tarkovsky
 
Filme: 5/5 (Beau Travail. 7º Lugar.)



1.Um anjo em botas de oleado. 2.Domiziana Giordano. Nostalghia (1983). Andrei Tarkovsky

Filme: 5/5 (Vossemecê já entrou no ritmo langoroso e narcótico do filme; vossemecê já tem os músculos relaxados e os sentidos a menos de 50% de alerta; vossemecê já está num campo de tal mansidão que nem sequer os belos seios da Domiziana o conseguem despertar; vossemecê, já embalado em ondas de suave calmaria, levará o golpe de misericórdia nos últimos dez minutos da película, ficando então num estado de transe hipnótico que faria a inveja de um mágico profissional ou de um dedicado agente do KGB. É glorioso. Mas como diziam o Vinicius de Moraes e o António Carlos Jobim, "Tristeza não tem fim. Felicidade sim", e então no fim do filme você acorda e lembra que está no Planeta em que o pastel de nata está cada vez mais caro, o Medveded e o Kadyrov ainda não desceram uns bons palmos de terra, o Crimes of the Future é considerado um bom filme, o Beau Travail está em sétimo lugar na lista de "melhores filmes de todos os tempos" da S&S, e em que a seleção espanhola da bola inventou um futebol denominado "futebol comida de hospital".)







1.Filippa Franzén. 2.Guorún Gísladóttir. 3.Válerie Mairesse. 4.Susan Fleetwood. 5.Natureza morta numa antiquíssima arte chamada "composição". 6.Erland Josephson maravilha-se com a iconografia de um país situado a leste da Ucrânia. Offret (1986). Andrei Tarkovsky

Filme: 4/5 (Chega de discutir e ridicularizar o Beau Travail no lugar 7º. Há cousas bem mais sérias para serem refletidas. Por exemplo: no top ten da S&S de 2022 ainda se encontram oito filmes realizados por homens. Sendo que todos eles eram, aparentemente, heterossexuais e seis deles caucasianos. E depois a comunidade cinéfila que anda há mais de cem anos a difundir e a promover cinematografias colonialistas, brancas, heteronormativas e sexistas ainda tem a distinta lata de que achar que o seu reinado anti-inclusivo está em perigo! Dais-me urticária.)


Michelle Williams. Beyoncé Knowles. Kelly Rowland. 8 Days of Christmas (2001). Sanaa Hamri

Filme: 4/5 (As mamocas da Beyoncé. As pernocas da Kelly Rowland. A barriguinha da Michelle Williams. Um verdadeiro festim visual que, aliado ao espantoso repasto de brinquedos, árvores de natali, cores variadas e brilhantes e papéis de embrulho resulta numa combinação bastante feliz entre consumismo capitalista ocidental e sexualização natalícia que abraçamos durante a missa do galo. Beyoncé, Kelly e Michelle cantam sobre um imaginário namorado que durante oito dias de natal só as recompensa com prendinhas e munto amor. Um sugar daddy ou um chulo que sabe que terá de possuir um verdadeiro espírito cristão e natalício se quiser ter a possibilidade de tocar com a ponta do seu dedo a ponta dos cabelos destas três magas enviadas pelo Senhor. A dúvida, porém: o pai natal gastador é a mesma para as três meninas ou é um para cada uma? Tudo termina em extrema alegria de gostosa deglutição de brinquedos, com variada criançada a roubar e a açambarcar o máximo que poder na lojinha. Mas isto já foi há muitos anos. Era um tempo que a Beyoncé ainda era apenas uma jovem bonita e atraente que cantava canções tolinhas, pueris e desopilantes. Mas uma pessoa não pode continuar assim, e tem de crescer, e tem de se tornar uma "voz da condição feminina no mundi em geral e da mulher negra em particular", e tornar-se respeitável para os críticos de música muito sérios e dedicados. Para além de atrair o estudo dos "academic scholars of feminism". Assim sim.)

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