Velhos tempos, aqueles em que nos
reuníamos num campo (ou na estrada ou adro de igreja mais próximo)
e em que de um lado estavam “os melhores “ e do outro “os
piores”, e a diferença era tanta que os “melhores”, perante
tantas facilidades, desleixavam-se e pareciam possuídos pelo vírus
da preguiça e da sobranceria. Falhavam golos, passes fáceis,
adormeciam quase em campo, convencidos que mais tarde ou mais cedo a
sua “superior qualidade futebolistica” iria prevalecer. Os
“coxos”, resilientes, verdadeira matilha de aleijados motores,
espetavam pontapés em tudo o que mexia (incluindo na bola), e na
primeira vez que iam à baliza dos “poderosos” encontravam as
risadas destes, e daí resultava golo. Os “mestres”, acabadas as
gargalhadas, primeiro ficavam espantados com tamanha história, e
depois lá iam tentar resolver as coisas, mas era dificil, com tanto
atordoamento, mudar o chip da incúria para o chip da contundência.
Está resumido o Hungria-França de ontem.
Portugal está para a Alemanha como a
Inglaterra (e a Holanda) está para Portugal: uma verdadeira
meretriz. Portugal tem três vitórias (em quatro milhões de jogos)
contra os alemães, sendo que duas vi eu; uma em 1985, na fase de
qualificação para o Mexico-86, com golo monumental do Carlos
Manuel, num daqueles milagres que prova que Deus Nosso Senhor é
real. Foi tanto o massacre alemão nesse jogo que ainda hoje os
postes do Neckarstadion, em Estugarda, continuam a tremer. A outra
vitória foi no Euro-2000, nos três golos do Sérgio Boiceição,
frente a uma seleção alemã já eliminada e cuja média de idades
se encontrava nos sessenta e três anos. E ainda há a meia vitória do 1-1 de
1997, na Alemanha, na fase de qualificação para o Mundial de 1998,
com exibição de gala dos comandados do Poeta Jorge Artur. Tudo o
resto são vergastadas mais ou menos coléricas dos alemães, sejam
através do bigode e dos caracóis do Rudi Voller, sejam através de
notáveis remates do Raphael Guerreiro. Ontem fui business as usual.
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