A qualificação da Áustria para os
oitavos do Euro 2020 é o maior triunfo do futebol tirolês desde a
chegada do Casino Salzburg à final da Taça Uefa em 1994. Para se
ter uma ideia de há quanto tempo isso foi: o Casino Salbzurg já
mudou de nome, a Taça Uefa já mudou de nome e a maior parte dos
pais dos jogadores da actual selecção austriaca ainda fodia por
gosto, e não por meras inspecções rotineiras semestrais (na melhor
das hipóteses). Frente à Austria esteve uma Ucrânia desinspirada e
que muito deve a sua derrota por escasso 0-1 ao deslumbramento
austríaco em frente à baliza dos “celeiros”. Sobretudo do
Arnautovic, que na primeira parte falhou golos que até um Morata
seria capaz de marcar. Talvez a razão fosse o seu receio de marcar e
depois não controlar o seu gostoso ultra-nacionalismo austríaco.
O nosso coração estava com a
Finlândia, mas de pouca ajuda serviu perante uma Bélgica que é um
caso de Triângulo das Bermudas ou de Twilight Zone. Depois de nos
anos oitenta ter sido vice-campeã da Europa (1980) e semi-finalista
num Mundial (1986), a selecção belga, depois do Italia-90,
desapareceu da existência terrena. Durante mais de vinte anos
ninguém a viu, embora haja relatos de impostores que juram que a
avistaram a disputar o Euro-2000, por sinal co-organizados no seu
domínio. E, subitamente, voltaram a surgir aos olhos dos crentes no início dos 2010's, e com tamanha pujança gradual que chegam a 2021
como a principal candidata, nas casas de apostas, a vencer o Euro.
Mas a geração de Hazard, Witsel, Verthongen, Alderweireld e de
Bruyne já está a dobrar a esquina dos trinta, faltando agora saber
se já andam por aí escudeiros de semelhante qualidade ou se lá
voltarão os belgas a evaporar-se.
O objectivo principal da Escócia,
neste Euro, foi plenamente conseguido: não perder com a Inglaterra,
em Londres. Tudo o que viesse por acréscimo seria mero bónus.
Embebedados (literalmente) de alegria pelo empate na casa do inimigo,
os escoceses lá se prestaram ao frete de servir de bombo da festa
aos croatas, que por momentos, neste jogo, até nos fizeram recordar
que são os actuais vice-campeões do mundo. Contudo, dado o latente
estado de bezana dos seus oponentes, qualquer conclusão sobre as
suas reais capacidades será preciptiada. Estão assim as contas: a
Croácia segue para os oitavos, e a Escócia fez um campeonato da
Europa muito bom, e não tem de se preocupar com o futuro, já que é
mais do que provável que as futuras edições contem com todos os
países europeus, sem necessidade de fastidiosas provas de
qualificação.
O Espanha-Eslováquia de ontem provou
duas cousas: que os espanhóis vão ser campeões europeus mesmo com
o Morata, e que o Pedri, se não lhe acontecer nenhuma desgraça
grave (lesões, tornar-se curador), nos próximos quinze anos vai pôr
qualquer bola de futebol a chorar de alegria. Coitadinhos dos
eslovacos. Pareciam peixinhos a quererem sair das malévolas redes de
pesca que os espanhóis lhes lançaram; passaram a primeira parte sem
passar da linha da sua grande área, e na segunda, quando o
adversário largou redes com buracos mais espaçosos, lá conseguiram despertar levemente o indolente Unai Simon, que, se a memória não
falha, ainda não fez uma única defesa neste Euro. Já o keeper
eslovaco cometeu uma das hilaridades da competição, restando saber
se a causa foi o sol, uma súbita quebra de discernimento, ou a
consequência de andar a ler o New York Times. Qualquer cousa que não
seja Espanha campeã da europa será surpresa.
Os últimos 10 minutos do
França-Portugal devem ter feito recordar, “aos mais antigos”, um
RFA-Áustria do Mundial-1982, terceiro jogo da 1º fase de grupos
(sim, piquenos, já houve Mundiais com duas fases de grupos): como o
empate servia a ambas as selecções, passaram o jogo a trocar a bola
uns com os outros, em amena peladinha, com isso conseguindo foder os
argelinos. Por causa desse jogo é que agora os jogos da última
jornada das fases de grupos jogam-se todos à mesma hora. Alemães e
austriacos maus! Tenho quase a certeza que Portugal vai eliminar a
Bélgica, com o jogo de ontem a servir de tubo de ensaio; esperar que
o adversário falhe nos momentos decisivos, empastelar o jogo no
meio-campo, e depois marcar um golo num penalty ou canto. Longe vão
os tempos do Euro-2000, onde se procurava ganhar jogos através da
submissão do adversário. Não, não, agora existe a férrea lei do
“pragmatismo”.
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