Da Hungria, sobre o jogo de ontem, o
melhor que se pode falar foi o que aconteceu extra-jogo: nacionalismo
exacerbado, que culminou naquele hino nacional cantado a 55 mil
almas+jogadores+equipa técnica, para grande emoção do saudoso
defunto János Kádár. De Portugal, o melhor que se pode falar foi que
fez a sua obrigação a partir dos 84 minutos, derrotando uma das três
piores selecções em prova. Isso e os extras televisivos no
intervalo do jogo, nos vários canais tugas. Pergunto-me se num
destes directos pelas várias esplanadas do país alguém já foi
apanhado com o/a amante, para grande consternação do esposo/a, que
pensava que a sua cara-metade se encontrava ora ás compras no Ikea ora numa viagem de negócios. Ao que se seguirá grande recriminação
da sogra do/a criminoso/a, que, com os óculos na ponta do nariz e
novelo de lã no regaço, afirmará que “devias ter escolhido o Carlos
dos Armazéns” ou “foi o que te saiu na rifa, esta vaca. Eu bem que
te avisei”. A Hungria, quando o John Ford fez o The Searchers, era a
melhor seleção da História do Futebol.
Com grandes qualidades práticas, a
França lá foi ganhar à Alemanha, que em todo o jogo não criou uma
única situação de perigo para o sonolento Lloris. O jogador que
melhor define o quase desprezo arrogante que a França teve pelos
seus invasores de 1940 tem o nome de Pogba. Mal se mexe, quando corre
parece que continua parado, passa por jogadores alheios em slow-motion rewind, e ainda assim leva a aúgua ao seu moinho. De
saudar também o regresso do Benzema, depois de seis anos afastado da
selecção, por via de ter feito chantagem com o Valbuena sobre
fotografias eróticas deste ou sobre o Valbuena mostrar grande
consideração pelos filmes da Miranda July ou pelas entrevistas do
Botelho, uma cousa dessas. Se a Alemanha perde com Portugal, e depois
do descalabro do Mundial de 2018, lá teremos de ver o filme do
Rossellini.
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