segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Frames (18).



1.Annu Mari. 2.Mariko Ogawa. Koroshi no rakuin (1967). Seijun Suzuki

Filme: 4/5 (Criterion #38. O Sabor do Arroz Cozido Sobre a Libido.)


Chieko Matsubara. Tôkyô nagaremono (1966). Seijun Suzuki

Filme: 4/5 (Criterion #39. O Seijun Suzuki, numa entrevista de 1997 que se pode encontrar pelo you tube, afirma que montava os filmes num dia. Ora, vendo o intrincado idiossincrático de sons e imagens que estão presentes num filme como este, questionamos: era Seijun e a sua equipa de editores uma espécie de super-homens da montagem, ou estaria Seijun nessa entrevista a enveredar pelos caminhos da fábula? A resposta deve estar no meio.)



1.Kyoko Ito exemplifica o que poderá fazer com um ovo e um preservativo. 2.Jun Izumi. Tenshi no harawata (1981). Toshiharu Ikeda

Filme: 2/5 (Eis um filme que em 1981 deverá ter tido uma utilidade social nada despicienda. Como a internet ainda estava longe de providenciar preciosas lições sexuais, acreditamos que este e outros filmes de escola erótica/porno, vistos no cinema ou na infância dos registos videográficos, tenham servido para mulheres de todas as idades aprimorarem as mais diversificadas técnicas de masturbação, algo que em Tenshi no harawata é feito com um requinte imaginativo muito digno de nota. Por exemplo: se você, mulher que, sabe-se lá por que carga de áugua, decidiu ter sexo com o seu esposo e ele, em vez de estar recetivo ás suas oferendas, prefere ver um Aston Villa-Southampton na Eleven, então, nesse caso, apenas tem de seguir os ensinamentos da muito bela Jun Izumi, e que envolvem virar a cama ao contrário e fazer dos seus suportes mais do que gratos substitutos do pau mole do seu marido. Que belo que é o cinema.) 



1.Tracey Ulmann e Woody, em impecável registo de bom gosto. 2.Woody e a maravilhosa Elaine May em apuros de surripianço. Small Time Crooks (2000). Woody Allen

Filme: 5/5 (Daquela safra de "filmes menores"- quer-se dizer, eu gosto de todos menos do Celebrity, mas que podemos fazer?- entre o Deconstructing Harry e o "rejuvenescimento" com o Match Point, Small Time Crooks é o mais conseguido no capítulo das comédias, com um Woody a balançar perfeitamente entre o seu desprezo pelas baixarias snobs da Alta Cultura e o seu apreço pelas nobres singelezas da Baixa Cultura. Ou como uma bifana com mostarda acompanhada de uma cerveja para arrotar é sempre preferível a quase toda a comida elaborada através de espampanantes experimentações científicas. Além do mais, conseguiu evidenciar uma vertente cínica no Hugh Grant que desconhecíamos.)




1.Rosel Zech. 2.Doris Shade & Annemarie Duringer. 3.Cornelia Froboess. Die Sehnsucht der Veronika Voss (1982). R. W. Fassbinder

Filme: 5/5




1.Francesca Gonshaw. 2.Glynis Barber. 3.Connie Booth. The Hound of Baskervilles (1983). Douglas Hickox

Filme: 3/5 (Possui todo o gracioso arsenal de academismo televisivo de prestígio associado a uma adaptação de um conto sublime do Sherlock. Muito agradecidos ficamos, aconselhando ainda a que se veja esta gostosa moleza num dia de Outono carregado e de chuva miudinha, com um chá, uma taça com cubos de açúcar, uma chávena, uma colher e uns biscoitos de mel a acompanhar.)


Jean-Pierre Marielle diz a Agnès Soral que "estamos neste momento nos anos 70". Un moment d'égarement (1977). Claude Berri

Filme: 2/5 (Filmes problemáticos #1. Da "trilogia" Un Moment d'égarement, é o que se relaciona mais naturalmente e "realisticamente" tanto com a nudez- sobretudo feminina, graças a Deus- como com a sensível matéria em questão. Estávamos na Europa continental dos anos 70, mais especificamente na França ainda perfumada pelos ares de libertação sexual pós-Maio 1968, e portanto a nudez, sobretudo no verão e numa praia, era o pão nosso de cada dia, longe de estar associada a quaisquer noções como erotismo ou/e grotesco pecado moral. Aliás, há comoventes relatos das praias de St.Tropez circa 1979, como quando um grupo de homens decidiu perseguir pela praia, de pau feito e babando pelas bocas, duas jovens beldades apenas e só porque estas estavam de calções e camisolas. Todo um mundo estranho e excitante que se deparava aos machos franceses. Por outro lado, se essa casualidade é o que torna o filme digno de nota- mais todos os pequenos almoços filmados- é a "seriedade" de abordagem que o encaminha para os caminhos do ridículo no mau sentido. Os dois filmes seguintes, cada um à sua maneira, sabem que estes são terrenos pantanosos que, precisamente devido à sua gravidade, devem ser tratados com a maior leveza possível. Que é outra cousa o Lolita senão uma das melhores comédias livrescas de sempre?)





1.Valerie Harper. 2.Joseph Bologna & Michael Caine estão a enlouquecer numa Copacabana de fantasia. 3.Michelle Johnson. 4.Demi Moore. Blame it on Rio (1984). Stanley Donen

Filme: 3/5 (Filmes problemáticos #2. Devido ao sucesso do filme francês, claro está que Hollywood não poderia ficar de mãos paradas, e vai daí trataram de fazer um dos seus costumeiros remakes. Por entre fidelidades e corrupções do original, eis o que sobra desta farsa circense: os pueris atiçamentos sexuais da Michelle Johnson e a candura quase acriançada em como revela o seu corpo está entre a indiferença de Agnès Soral e a devastação provocatória de Lola Le Lann no filme de 2015; o Michael Caine poderia  ter sido um 'celente actor de comédia; o Brasil, no inicio dos anos 80, para um cidadão norte-americano médio, era um mundo mágico de papagaios coloridos dentro de casas, sexualidade explosiva em cada canto (daí o título do filme), praias onde todas as mulheres faziam topless, as mães-de-santo tinham estaminés espalhados pelo areal, e os jovens passavam o tempo ou a cantar, ou a tocar violão, ou a dançar capoeira; a Demi Moore de 1983 esgota em larga escala o nosso limitado catálogo de elogios; todas estas informações acima descritas contribuem para uma comédia bonacheirona que já devia ser bastante ofensiva no dealbar dos 80, quanto mais agora.)


Lola Le Lann, uma mignonne très saloupe. Un moment d'égarement (2015). Jean-François Richet

Filme: 3/5 (Filmes problemáticos #3. Respeita o filme original, com os acrescentos tecnológicos de 2015 e uma auto-consciência burguesa de "estamos a fazer algo de errado" ausente em 1977. Demos vivas ao céu por isso, e ainda mais pela presença de Lola Le Lann, cujo magnetismo sexual neste filme, por si só, poderia mover montanhas, fazer despertar vulcões adormecidos, provocar tsunamis, ou mesmo o impossível, como tornar uma jovem ativista ambiental num ser vivo não-histérico. Todos os encómios são escassos: os seus trejeitos, os seus meneios, o modo como recorre à mais banal peça de vestuário como ferramenta da "timeless art of seduction", ou a ardilosa prepotência com que exibe a geometria corporal mais-do-que perfeita que os seus papás lhe deram algures numa noite primaveril de Maio de 1995 são factos capazes de levarem um homem- ou mesmo um redator dos Cahiers- a uma instituição psiquiátrica à Schock Corridor. No inolvidável espetátulo de male gaze exploitation cinematográfico, não há nada a que se lhe possa comparar nos últimos larguíssimos anos. Vale trinta sessões do Doc Lisboa.)


Ariana Grande. 7 Rings (2019). Hannah Lux Davis

Filme: 5/5 (Em 1988, Wang Huning, então um jovem comunista chinês de 33 anos, ganhou uma bolsa de estudo para passar seis meses nos EUA. Aí, visitou trinta cidades e com base no que viu escreveu um livro chamado "A América contra a América", onde elaborava fortes críticas ás contradições galopantes na sociedade americana na reta final do neo-liberalismo do mágico Reagan. Wang, sem contemplações, atacava o racismo, a predominância da droga, o número elevadíssimo de sem-abrigos, o crime violento e, claro está, a desigualdade social, cultural e económica entre os privilegiados e o povo. Wang, com o correr dos anos, foi ganhando cada vez mais importância no PCC, onde se tornou um forte crítico das reformas liberais levadas a cabo pelo direitista e mago Deng Xiaoping e continuada pelos seus sucessores. Wang, com suores frios, imaginava uma China a resvalar para o destino de uma América com 1 bilião e tal de habitantes. Avançando trinta e quatro anos no tempo, e eis que Wang é promovido por Xi Jinping a quarta figura do Comité Permanente do PCC, um cubículo mais seleto do que os aposentos reais em Buckingham. Wang, através dos poderes e influência do tradicionalista Xi, quer acabar com toda a pouca vergonha liberal, privada e hedonística que tem assolado o grande país asiático nos últimos vinte e tal anos. Isso tem de acabar. O regime chinês tem de regressar à pureza da sua ideologia original, aos chamamentos do Professor Mao. Mais solidariedade social, mais segurança no trabalho, fora com os patrões encharcados em dinheiros, abolição dos meios de produção em mãos privadas, mais apoios ao grande cineasta patriótico Zhang Yimou, terminar com a proliferação de you tubers, influencers e girl pop bands adestrados em propaganda e costumes ocidentais, e, se possível, através de magia milenar, dar vida ao numeroso exército de terracota em Shaanxi para combater países hostis. Que tem isto a ver com a querida Ariana? Imaginemos o seguinte cenário: os EUA tornam-se uma ditadura (de esquerda ou de direita, ia dar ao mesmo para este caso) e todas as atividades culturais consideradas supérfluas, artificiais, anti-realistas, anti-regime e anti-povo seriam banidas para todo o sempre. Isso, exato: nunca mais veríamos o cuzinho arrebitado da Ariana e das amiguinhas. Portanto, "mal por mal", Tio Biden para 2024).

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