quarta-feira, 26 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 12).

Na nossa memória futebolística, a maior e duradoura impressão que a seleção austríaca de futebol nos tinha deixado até hoje prendia-se com...os cromos da caderneta do Itália-90. Sim, essa do avançado Toni Polster. Havia por lá um cromo de um jogador austríaco que era uma espécie de santo graal, uma miragem impossível de se materializar, um desejo ainda maior do que aquelas carteiras que traziam um prémio á escolha (um malote, um porta-chaves, e, claro, o maior deles todos, uma bola Mikasa). Eventualmente esse cromo calhou a alguém, que logo tratou de o esconder da cobiça das vistas e dedos  alheios, encetando a partir daí possíveis e vantajosas trocas comerciais ("este cromo por essa Mikasa+mais as cuequinhas de seda da tua irmã"). Pois bem, essa simples memória de antanho é agora adjudicada a uma outra bem mais gloriosa, a do dia 25 de Junho de 2024, quando a Áustria, liderada por uma exibição assombrosa de Marcel Sabitzer- o seu golo é a prova da máxima do Albert Camus: futebol é inteligência em movimento-, venceu os Países Baixos, ex-Holanda, e alcançou não só a qualificação para os oitavos-de-final, como o fez em primeiro lugar do grupo, á frente do seu adversário de ontem bem como da entediante França. Por isso, cromo austríaco mirífico e sebastiânico do Itália-90: já não precisa de se sentir tão solitário no agreste alojamento da minha mente. Também me recordo do Itália-Áustria do mesmo mundial e do golo do Squillaci. E do golo do Paulinho Santos em Viena, em 1995. Afinal, meu querido cromo, você está bem mais acompanhado do que eu pensava.


Por recomendação papal, não perdemos um segundo que seja a visionar o França-Polónia. Nem sequer os resumos. 


Quando o Romário disse recentemente que os avançados atuais são muito burros e que hoje em dia ele marcaria mais de dois mil golos, impõe-se que se façam duas correções. A primeira: não são os avançados que são burros, mas o mercado futebolístico que é deficiente e os dirigentes dos clubes que têm um parafuso a menos. Os jogadores fazem o melhor que conseguem com os atributos futeboleiros que o sopro divino lhes forneceu. Que culpa têm dois trolhas da bola como o Vlahovic e o Hojlund dos excessos de confiança depositados neles por uma enorme quantidade de pessoas ao longo dos anos, e que culminaria com o passe do primeiro a ser comprado por 70 milhões de euros pelo Manchester United e o do segundo por 80 milhões pela Juventus? Eles limitam-se a aproveitar a tolice do mundo e a rechear os bolsos com preciosos dinheiros para comprar revistas de cinema. A segunda correção: Romário não marcaria mais de dois mil golos se jogasse hoje. Estaria mais perto dos mil oitocentos e vinte e quatro.


Por recomendação médica da Ordem dos Cavaleiros Hospitalários, não vimos nem um segundo do Inglaterra-Eslovénia. Nem os resumos. Mas parece que foi muito mau. E um sinal de que os tempos mudaram: "antigamente", uma medíocre seleção inglesa era logo arrumada na fase de grupos de uma competição internacional. Agora, uma miserável seleção inglesa é primeira no seu grupo. 

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