domingo, 16 de junho de 2024

Euro 2024 (Dia 2).

Uma vez, numa noite cálida de verão, estávamos dentro de um carro, no parque de estacionamento de uma estação de serviço da Grande Lisboa. Enquanto esperávamos que a amante chegasse com tudo o que a tínhamos obrigado a comprar, uma estranha imagem começou-se a desenrolar a uns quinze metros descaídos para o nosso lado direito. Um rapaz estacionava o carro, e ao seu lado outro rapaz usava uma meia de nylon na cabeça. "Com certeza", pensámos", "a nossa fome é tanta que já imaginamos situações saídas de um filme do Walter Hill. Aquela doidivanas que se despache". Mas não, por mais fome que houvesse, ali estava mesmo um tipo, dentro de um carro, com uma meia de nylon enfiada na cabeça. Junto a uma estação de serviço recheada de cousas boas, como Kit Kats e Panricos. Entretanto, a amante chegou, a queixar-se do seu esforço. Depois de nos certificarmos de que a maluquinha tinha cumprido com todas as nossas preciosas exigências, voltámos a olhar para o estranho carro...mas já lá não estava. Um memento curioso que me parece bem mais pertinente do que qualquer cousa que se possa escrever sobre um Hungria-Suiça.


"Barrar tulicreme na barriga da Amber Heard enquanto se lambe, entre os seios da Diane Lane, um belo pedaço de leite creme queimado; ver de seguida o The Searchers e o Pyscho; sair para a noite com o Dr. Álvaro Cunhal e o Dr. Mário Soares; bacalhau à lagareiro seguido de um pudin flan (que mais tarde será utilizado para servir de ornamento nas nádegas da Joana Duarte): acreditamos que estas quatro actividades diferentes consigam superar, em termos de puro prazer, o que aconteceu, no mundo do futebol europeu, a 28 de Junho de 2021.". Escrevemos isto após o Espanha-Croácia do Euro 2020 (1), um dos momentos grandiosos na história do jogo da bola. Diremos que o Espanha-Croácia do Euro 2024 conseguirá, no máximo, e com munta boa vontade, estar ao nível de um dia de pesca com ventania forte, chuva miudinha, cana quase a rachar e minhocas tão nojentas que nem uma sargo se atreve a ir com a boca ao anzol. E isto com o General Carlos Branco ao lado a dançar folclores russos. No entanto, nem tudo foi mau: a Espanha parece ter abandonando o seu "futebol comida de hospital", e o jogo permitiu-nos relembrar mise-en-scènes onde diversas camadas de saborosa doçaria se entrelaçam umas nas outras.


Estes primeiros quatro jogos do Euro têm exibido uma contradição entre a qualidade futeboleira e a quantidade de golos, com o segundo ponto a superar largamente o primeiro. Por isso, depois da Itália fazer o 2-1 contra o seu antigo protetorado, refletimos sobre duas opções a tomar: continuar a ver atentamente o jogo até sucumbirmos ao sono, ou ir investigar, nem que fosse superficialmente- sobretudo superficialmente- a figura de Enver Hoxha, líder da Albânia entre 1944 e 1985? Pois bem, ficámos a saber isto: Hoxha era um ditador! Ele mandava executar dissidentes, censurava a imprensa, não permitia eleições livres, proibia a propriedade privada, não autorizava as viagens de civis para o estrangeiro e a justiça estava ao seu serviço! Ficámos ainda mais chocados quando soubemos que esta tirania se encontrava num país..."comunista"! Onde deve haver solidariedade entre as pessoas, e os desacordos serão solucionáveis através de um centralismo democrático nacional/regional/local! Os nossos soluços não tardaram a dar de si, perguntando para os céus e para as paredes com tinta desbotada como é que foi possível haver gente desta a conspurcar um regime onde se criava um Homem Novo. Assim ficámos, até que aos oitenta e nove minutos a Albânia quase ia empatando, através de um ser humano que chutou contra as costas do Donnarumma. Seria canto, mas não num mundo onde Michael Oliver é árbitro. 

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