quarta-feira, 30 de junho de 2021

Euro 2020 (Oitavos-de-final).


Se este Euro de futebol 2020 fosse um filme de Hollywood na nobre tradição do underdog que vence contra todas as probabilidades, a Dinamrca seria a campeã. Depois de perder o seu melhor jogador da forma que se sabe, depois de perder os dois primeiros jogos da fase de grupos, depois de um Napalm da vida ter escrito que “1992 não se repetirá”, a Dinamarca, depois de tanta porrada, está nos quartos-de-final, após cilindrar ovelhas galesas sem agilidade e força para fugir dos dentes famintos dos nórdicos. Segue-se a República Checa, um adversário esteticamente belo como os arabescos sonoros de uma betoneira, mas tão poderoso que conseguiu reduzir a tamanho minúsculo os jogadores da seleção pertencente ao país com a maior média de altura do mundi. Promete.


O Itália-Austria pôs fim a duas das mais interessantes narrativas deste campeonato, a saber: 1) o Sabitzer irá acertar uma única vez na baliza? 2) o Schlager conseguirá não incomodar um adversário como se este, além de lhe dever dinheito, também tivesse proporcionado prazer sexual à sua esposa? Também um jogo que deve ter permtido o esfregar de mãos dos “Ribeiros Cristovãos” e “António Fidalgos” e demais múmias. Já os imaginamos, murmurando: “Estão a ver? Cínica, cínica Itália! Quando menos se esperava, marcam e acabam com o jogo! Com os italianos não se brinca! Com um treinador como o Arrigo Sacchi, um defesa como o Trapattoni e um avançado como o Altobelli, fica tudo mais fácil! A que horas estreia o novo do De Sica?”. Vendo estes jogos da Itália, questionamos como irá o Mourinho transformar o Spinazzola num lateral cobardolas e como é que o Belotti tem um rating de 91 (de 0 a 100) no Soccer Manager. É um jogador ligeiramente superior ao Andy Carrol.  


Uma das consequências negativas da queda do comunismo no leste europeu: o fim dos misticismos e assombramentos das visitas aos clubes e selecções que habitavam para lá da “cortina de ferro”. Os jogadores dos clubes e selecções ocidentais iam lá jogar com a mesma confiança possuída pelo Jonathan Harker enquanto viajava para conhecer o drácula; nada sabiam o que os esperava, alguns até se aproveitando para se despedir das famílias, deixando testamentos avultados para as suas esposas que rezavam munto para que eles voltassem...hum...são e salvos. Do lado de “lá”, os jogadores rebubilavam de alegria, vendo nesses encontros de bola uma oportunidade para saberem que filmes tinham estreados no seu próprio país, que livros de escritores da sua nacionalidade tinham sido publicados em terras capitalistas, e se os Beatles tinham acabado (isto em 1986). Agora, tristemente, está aí tudo à mão de semear, tudo visivel, sem mistério e espanto algum, para grande desgraça nossa, do Botelho e da Rita Rato, cujo singelo desejo é que regressem os comités sub-regionais para decidir como é que uma pessoa deve dirigir a sua vida. Holanda-0 Republica Checa-2.


“A sorte não quis nada connosco”. “Ás vezes a bola bate no poste e entra, noutras não”. “O futebol pode ser muito injusto, mas o que conta é o resultado final”. “A Bélgica só marcou na única vez que fez um remate à baliza”. “Há que continuar a trabalhar”. “Temos de levantar a cabeça”. “Encostámos a Bélgica ás cordas na segunda-parte”. “Não tivemos a sorte que tivemos há cinco anos”. “Saímos deste Euro de cabeça erguida”. “Controlámos o jogo todo”. “Depois do Mundial de 2018 ganhámos a Liga das Nações, porque é que agora também não podemos ambicionar vencer o Mundial de 2022?”. “Obrigámos os belgas a simularem faltas e a perder tempo”. “A bola só não entrou porque o Courtois é grande de mais”. “O árbitro, também...”. “Pedimos desculpas a todas as mulheres portuguesas, que vão voltar para os pratos e roupas depois de duas semanas de férias”.



Barrar tulicreme na barriga da Amber Heard enquanto se lambe, entre os seios da Diane Lane, um belo pedaço de leite creme queimado; ver de seguida o The Searchers e o Pyscho; sair para a noite com o Dr. Álvaro Cunhal e o Dr. Mário Soares; bacalhau à lagareiro seguido de um pudin flan (que mais tarde será utilizado para servir de ornamento nas nádegas da Joana Duarte): acreditamos que estas quatro actividades diferentes consigam superar, em termos de puro prazer, o que aconteceu, no mundo do futebol europeu, a 28 de Junho de 2021. No Espanha-Croácia, a história começa com os espanhóis a sodomizarem os croatas com sucessivas cavalgadas de troca de bola num espaço de 30 metros, até que aconteceu algo tão cómico como descuidado. Pedri, fruto da sua distraída idade, decidiu atrasar a bola , desde o meio-campo, para o seu keeper Unai Simon. Ora, Unai Simon, que tem passado este Euro a ler Positifs dos anos cinquenta em pleno relvado, quando viu aquele objeto redondo a vir na sua direcção, entrou em apuros psicológicos, decidindo, cheio de dúvidas, a melhor forma de aparar aquele ovni. O ouriço sem espinhos passou por cima do seu pé e foi golo. Tudo a rir. Os croatas, banhados em lágrimas de riso e motivadíssimos, aproveitaram o desnorte espanhol para ameaçar o 2-0, mas o 1-1 antes do intervalo seria o prelúdio da lógica supremacia da real armada, afincada nos 3-1 a dez minutos do fim. 3-2. E depois os croatas, como que levando pazadas de espinafres ao estômago, empataram 3-3. Prolongamento. Unai Simon, ao calhas, evita por milagre divino o 3-4, mas os milagres não ficariam por aqui: o Morata marcou um golo, sendo certo que falhou mais uma meia dúzia de baliza quase aberta. Acabámos o jogo a suar, como se tivéssemos passado uma hora e meia a retirar migalhas de bolo-mármore do corpo da Alicia Silverstone.

Mal refeitos do repasto da tarde, somos chicoteados com a diversão nocturna do França-Suiça. Um jogo que, durante noventa minutos, foi praticamente a cópia do jogo anterior. Nos trinta minutos de prolongamento, nada a registar, até que é altura de penaltys. O realizador do evento decide filmar cada penalty num plongée que transforma a baliza num ponto quase totalmente ocupado pelo guarda-redes. No deciivo penalty, Mbapée falha, coroando, de maneira bastante coerente, um Euro pessoal patético. Estenuados, depois de horas de intensa actividade psicológica, fomos pasmar, vendo um filme português “sobre violência doméstica” na RTP Play.


A primeira parte do Inglaterra-Alemanha foi de pouco interesse, levando-nos antes para divagações do seguinte tipo: quantos bisavós dos jogadores ingleses levaram com bombas em cima ordenadas por um regime que alguns dos bisavós dos actuais jogadores alemães apoiavam? E com isto chegou o intervalo. Mas as divagações por tragédias hipotéticas dariam lugar a horrores actuais, quando o Jack Grealish marcou um golo com um passe para o Sterling. A Inglaterra a vencer a Alemanha. Numa competição oficial. Alguém que nos ajude. O inútil Muller (ele e o Hummels são o Paolo Rink e o Jens Nowotny de 2021), esse miserável, nem um remate sabe fazer, filho da puta. Pouco depois, o Grealish voltaria a marcar, desta vez com um passe para o Kane. Desde a final roubada do Mundial de 1966 que os ingleses não festejavam tanto na cara dos alemães (e já foram a Munique ganhar 1-5, em 2001). Alguém que nos ajude.


Sensivelmente a partir dos 75 minutos, o Suécia-Ucrânia assemelhou-se a uma daquelas provas de marcha, em que alguns corredores, a uns dez quilometros da meta, já andam todos tortos, curvados, a indiciar queda iminente. O cansaço dos amarelos e azuis sentia-se no sofá, enquanto bebiamos uma nojenta tequilla. Nos 74 minutos precedentes, aconteceu um festival Forsberg, certamente muito mais interessante que qualquer festival temático de cinema que há por esse mundo fora. Depois chegou o tal minuto 75, as baterias começaram a diminuir, chegou o prolongamento, um sueco ia partindo a perna a um ucraniano, a Ucrânia sem arte para ultrapasar a muralha escandinava, até que golo dos celeiros. Ânîmos exaltaram-se, o Schevchenko ameaçou o Janne Andersson com um derrame de radiação na sua casa, acabou o jogo, e nós começámos imediatamente a marcar missas em honra de São Dovzhenko, padroeiro do trigo e do milho. Ucrânia, esqueçam por momentos disputas sentimentais/políticas com a Rússia; por agora, em nome da Humanidade e do Futebol, terão de impedir que uma desgraça aconteça no próximo Sábado. Se esse jogo fosse um filme-catástrofe do Emmerich ou do Bay, existiram aquelas planos de multidões a rezar em volta da Torre Eifel, do Taj Mahal ou das muralhas da China.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Euro 2020 (Dias 11, 12 & 13).

 


A qualificação da Áustria para os oitavos do Euro 2020 é o maior triunfo do futebol tirolês desde a chegada do Casino Salzburg à final da Taça Uefa em 1994. Para se ter uma ideia de há quanto tempo isso foi: o Casino Salbzurg já mudou de nome, a Taça Uefa já mudou de nome e a maior parte dos pais dos jogadores da actual selecção austriaca ainda fodia por gosto, e não por meras inspecções rotineiras semestrais (na melhor das hipóteses). Frente à Austria esteve uma Ucrânia desinspirada e que muito deve a sua derrota por escasso 0-1 ao deslumbramento austríaco em frente à baliza dos “celeiros”. Sobretudo do Arnautovic, que na primeira parte falhou golos que até um Morata seria capaz de marcar. Talvez a razão fosse o seu receio de marcar e depois não controlar o seu gostoso ultra-nacionalismo austríaco.  


O nosso coração estava com a Finlândia, mas de pouca ajuda serviu perante uma Bélgica que é um caso de Triângulo das Bermudas ou de Twilight Zone. Depois de nos anos oitenta ter sido vice-campeã da Europa (1980) e semi-finalista num Mundial (1986), a selecção belga, depois do Italia-90, desapareceu da existência terrena. Durante mais de vinte anos ninguém a viu, embora haja relatos de impostores que juram que a avistaram a disputar o Euro-2000, por sinal co-organizados no seu domínio. E, subitamente, voltaram a surgir aos olhos dos crentes no início dos 2010's, e com tamanha pujança gradual que chegam a 2021 como a principal candidata, nas casas de apostas, a vencer o Euro. Mas a geração de Hazard, Witsel, Verthongen, Alderweireld e de Bruyne já está a dobrar a esquina dos trinta, faltando agora saber se já andam por aí escudeiros de semelhante qualidade ou se lá voltarão os belgas a evaporar-se.


O objectivo principal da Escócia, neste Euro, foi plenamente conseguido: não perder com a Inglaterra, em Londres. Tudo o que viesse por acréscimo seria mero bónus. Embebedados (literalmente) de alegria pelo empate na casa do inimigo, os escoceses lá se prestaram ao frete de servir de bombo da festa aos croatas, que por momentos, neste jogo, até nos fizeram recordar que são os actuais vice-campeões do mundo. Contudo, dado o latente estado de bezana dos seus oponentes, qualquer conclusão sobre as suas reais capacidades será preciptiada. Estão assim as contas: a Croácia segue para os oitavos, e a Escócia fez um campeonato da Europa muito bom, e não tem de se preocupar com o futuro, já que é mais do que provável que as futuras edições contem com todos os países europeus, sem necessidade de fastidiosas provas de qualificação.


O Espanha-Eslováquia de ontem provou duas cousas: que os espanhóis vão ser campeões europeus mesmo com o Morata, e que o Pedri, se não lhe acontecer nenhuma desgraça grave (lesões, tornar-se curador), nos próximos quinze anos vai pôr qualquer bola de futebol a chorar de alegria. Coitadinhos dos eslovacos. Pareciam peixinhos a quererem sair das malévolas redes de pesca que os espanhóis lhes lançaram; passaram a primeira parte sem passar da linha da sua grande área, e na segunda, quando o adversário largou redes com buracos mais espaçosos, lá conseguiram despertar levemente o indolente Unai Simon, que, se a memória não falha, ainda não fez uma única defesa neste Euro. Já o keeper eslovaco cometeu uma das hilaridades da competição, restando saber se a causa foi o sol, uma súbita quebra de discernimento, ou a consequência de andar a ler o New York Times. Qualquer cousa que não seja Espanha campeã da europa será surpresa.


Os últimos 10 minutos do França-Portugal devem ter feito recordar, “aos mais antigos”, um RFA-Áustria do Mundial-1982, terceiro jogo da 1º fase de grupos (sim, piquenos, já houve Mundiais com duas fases de grupos): como o empate servia a ambas as selecções, passaram o jogo a trocar a bola uns com os outros, em amena peladinha, com isso conseguindo foder os argelinos. Por causa desse jogo é que agora os jogos da última jornada das fases de grupos jogam-se todos à mesma hora. Alemães e austriacos maus! Tenho quase a certeza que Portugal vai eliminar a Bélgica, com o jogo de ontem a servir de tubo de ensaio; esperar que o adversário falhe nos momentos decisivos, empastelar o jogo no meio-campo, e depois marcar um golo num penalty ou canto. Longe vão os tempos do Euro-2000, onde se procurava ganhar jogos através da submissão do adversário. Não, não, agora existe a férrea lei do “pragmatismo”.  

domingo, 20 de junho de 2021

Euro 2020 (Dias 9 & 10).


Velhos tempos, aqueles em que nos reuníamos num campo (ou na estrada ou adro de igreja mais próximo) e em que de um lado estavam “os melhores “ e do outro “os piores”, e a diferença era tanta que os “melhores”, perante tantas facilidades, desleixavam-se e pareciam possuídos pelo vírus da preguiça e da sobranceria. Falhavam golos, passes fáceis, adormeciam quase em campo, convencidos que mais tarde ou mais cedo a sua “superior qualidade futebolistica” iria prevalecer. Os “coxos”, resilientes, verdadeira matilha de aleijados motores, espetavam pontapés em tudo o que mexia (incluindo na bola), e na primeira vez que iam à baliza dos “poderosos” encontravam as risadas destes, e daí resultava golo. Os “mestres”, acabadas as gargalhadas, primeiro ficavam espantados com tamanha história, e depois lá iam tentar resolver as coisas, mas era dificil, com tanto atordoamento, mudar o chip da incúria para o chip da contundência. Está resumido o Hungria-França de ontem.


Portugal está para a Alemanha como a Inglaterra (e a Holanda) está para Portugal: uma verdadeira meretriz. Portugal tem três vitórias (em quatro milhões de jogos) contra os alemães, sendo que duas vi eu; uma em 1985, na fase de qualificação para o Mexico-86, com golo monumental do Carlos Manuel, num daqueles milagres que prova que Deus Nosso Senhor é real. Foi tanto o massacre alemão nesse jogo que ainda hoje os postes do Neckarstadion, em Estugarda, continuam a tremer. A outra vitória foi no Euro-2000, nos três golos do Sérgio Boiceição, frente a uma seleção alemã já eliminada e cuja média de idades se encontrava nos sessenta e três anos. E ainda há a meia vitória do 1-1 de 1997, na Alemanha, na fase de qualificação para o Mundial de 1998, com exibição de gala dos comandados do Poeta Jorge Artur. Tudo o resto são vergastadas mais ou menos coléricas dos alemães, sejam através do bigode e dos caracóis do Rudi Voller, sejam através de notáveis remates do Raphael Guerreiro. Ontem fui business as usual.  


Tome banho. Recoste-se no sofá. Coloque os phones e ouça algum álbum de chill out que se encontre no you tube. Beba, devagar, um copito de bagaço. Assista a um Itália-País de Gales para um Euro qualquer. Boa soneca.  

 

sábado, 19 de junho de 2021

Euro 2020 (Dia 8).

 


No mais antigo duelo alcoólico na história do futebol, faltou o génio etílico de bêbados de qualidade como o Paul Gascoigne ou o Graeme Souness. Uma vez mais, os “novos tempos” a pregarem-nos partidas e a abalarem as nossas certezas: cadé as faces vermelhas do tinto e do whisky? Olhava-se para aqueles vinte e dois hómes em campo e só se viam seres humanos que poderiam perfeitamente pertencer à Croácia ou a Chipre. Bem, o Pickford e o McTominay prometem no capítulo do tinto, mas é pouca consolação se pensarmos em clássicos como o James Milner, o Paul Scholes ou o Colin Hendry. E esta aculturação estende-se ao futebol praticado. Ontem vimos os escoceses a fazerem mais de trinta passes consecutivos entre os seus jogadores, e no meio campo inimigo. Que a Escócia, em 2021, pareça ter um jogo mais apoiado que a Inglaterra só poderá espantar os distraídos nestes cousas da bola. Agora, 11 ideal de jogadores de selecções que ninguém dá nada por elas e que poderia competir pelo título europeu: Gulácsi; Celik, Lindelof, Skriniar, Robertson; Ramsey, Soucek, Xhaka; Zinchenko, Elmas, Lewandowski.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Euro 2020 (Dia 7).


“He´s toying with him”. É o que diz o Brian Thompson no começo do combate final entre o Van Damme e o Abdel Qissi aka Attila no filme Lionheart. O Van Damme ali aos murros e rotativos ao Attila e este quase a bocejar. Ontem, a Bélgica fartou-se de toyar com a Dinamarca. Deixaram os dinamarqueses entrar a ganhar e a dominar toda a primeira parte, e depois, quando reflectiram que era altura de virar os acontecimentos, marcaram dois golos como quem não quer a coisa. E logo voltaram a dar esperanças aos danish cookies, com requintes de brilhante crueldade. 1992 não se repetirá. 


Holanda e Áustria protagonizaram um jogo de futebol a contar para a segunda jornada do Grupo C do Campeonato da Europa de Futebol de 2020, jogado em 17 de Junho de 2021, no Estádio Johan Cruyff, em Amesterdão. A Holanda venceu por 2-0, com golos de Memphis Depay (g.p) e Denzel Dumfries, carimbando assim o passaporte para os oitavos-de-final. Estavam pessoas a assistir ao jogo, incluindo estonteantes beldades holandesas. O Frank de Boer tem as patilhas brancas. A Áustria tem um médio com dois metros de altura. O jogo foi disputado com o recurso a uma bola redonda e sólida. A Holanda venceu a Austria porque marcou dois golos e a Áustria não marcou nenhum. Fim.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Euro 2020 (Dia 6).



O Lille foi campeão de França a jogar com o Burak Yilmaz como seu ponta-de-lança. O PSG do Neymar, Mbappé e Icardi ficou atrás do Lille do Burak Yilmaz. O Burak Yilmaz é um argumento do Honoré realizado pelo Desplechin. É um tanque de guerra sem travões. E, ainda assim, não é dos piores jogadores turcos, o que evidencia toda a qualidade deste império otomano de trazer por casa. Bastou um Gareth Bale acordado e um Ramsey cheio de tusa depois de um ano a pastar em Turim para os súbditos de Erdogan já terem bilhete de volta para casa.  


Portugal em 2000, República Checa em 2004, Holanda em 2008, Rússia em 2012: tudo selecções que, ao fim de dois jogos na fase de grupos do respectivo Euro, eram apontadas como favoritas a passarem tudo a ferro até à gloria final. Nem uma sequer lá chegou. A Itália no Euro 2021 vai pelo mesmo caminho, atropelando adversários com a suavidade de um camião Tir sobre pastéis de nata. E não fossem erros de decisão e alguma sofreguidão “lá na frente”, e o volume de golos seria ainda maior; por exemplo, se em vez do Berardi lá estivesse o Signori de 1992, a Suiça tinha perdido 17-0. De registar um cheirinho a Mundial-90 nestes jogos da squadra em Roma, mesmo só com meia dúzia de gatos pingados a presenciar o jogo.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Euro 2020 (Dia 5).


Da Hungria, sobre o jogo de ontem, o melhor que se pode falar foi o que aconteceu extra-jogo: nacionalismo exacerbado, que culminou naquele hino nacional cantado a 55 mil almas+jogadores+equipa técnica, para grande emoção do saudoso defunto János Kádár. De Portugal, o melhor que se pode falar foi que fez a sua obrigação a partir dos 84 minutos, derrotando uma das três piores selecções em prova. Isso e os extras televisivos no intervalo do jogo, nos vários canais tugas. Pergunto-me se num destes directos pelas várias esplanadas do país alguém já foi apanhado com o/a amante, para grande consternação do esposo/a, que pensava que a sua cara-metade se encontrava ora ás compras no Ikea ora numa viagem de negócios. Ao que se seguirá grande recriminação da sogra do/a criminoso/a, que, com os óculos na ponta do nariz e novelo de lã no regaço, afirmará que “devias ter escolhido o Carlos dos Armazéns” ou “foi o que te saiu na rifa, esta vaca. Eu bem que te avisei”. A Hungria, quando o John Ford fez o The Searchers, era a melhor seleção da História do Futebol. 


Com grandes qualidades práticas, a França lá foi ganhar à Alemanha, que em todo o jogo não criou uma única situação de perigo para o sonolento Lloris. O jogador que melhor define o quase desprezo arrogante que a França teve pelos seus invasores de 1940 tem o nome de Pogba. Mal se mexe, quando corre parece que continua parado, passa por jogadores alheios em slow-motion rewind, e ainda assim leva a aúgua ao seu moinho. De saudar também o regresso do Benzema, depois de seis anos afastado da selecção, por via de ter feito chantagem com o Valbuena sobre fotografias eróticas deste ou sobre o Valbuena mostrar grande consideração pelos filmes da Miranda July ou pelas entrevistas do Botelho, uma cousa dessas. Se a Alemanha perde com Portugal, e depois do descalabro do Mundial de 2018, lá teremos de ver o filme do Rossellini.  

terça-feira, 15 de junho de 2021

Euro 2020 (Dia 4).


Há uma jogada na primeira parte do Espanha-Suécia que meteu medo: o Forsberg ganha a bola a meio-campo, avança, e é logo cercado por uma meia dúzia de esfomeados anões espanhóis, que obviamente lhe tiram o pão do pé. Foi assim o jogo todo, à excepção das duas vezes em que o Isak conseguiu furar por entre os jogadores espanhóis com mais de 1.71m, originando quasi-golos. Um jogo que nos fez recordar o saudoso Barcelona-Inter de 2010, quando o Mourinho colocou duas paredes em fente da baliza e o Eto'o a defesa-esquerdo: um treino com o nome “vamos ver se conseguem passar uma equipa estacionada à defesa”. E até o conseguiram algumas vezes, mas, para além do Olsen ter feito mais defesas neste jogo do que em toda a sua carreira, os espanhóis, em vez de jogarem com um ponta-de-lança, jogaram com um Morata. Brincaram com a tropa e lixaram-se.  

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Euro 2020 (Dia 3).



Inglaterra e Croácia protagonizaram um jogo com a fluidez de um Ford F a caminhar, em 1907, por uma estrada poeirenta do Alabama. Maus passes, recepções cómicas, pontapés na hidrosfera, um deleite. Será supresa se alguma destas duas cousas chegar munto longe na competição; a Croácia por andar a jogar com praticamente os mesmos jogadores desde a conquista de Ceuta, e a Inglaterra por ser a Inglaterra. O Phil Foden daria um excelente rufia num drama do Mike leigh ou do Ken Loach passado no East End londrino, e o Domagoj Vida sempre me fez recordar um dos terroristas do Die Hard, aquele que é enviado pelos ares quando o McClane larga o C4 pelo arranha-céus abaixo. Para os pervertidos sexuais: a Kolinda Grabar-Kitorovc já não é presidente da Croácia.


Desatento, lá se foi espreitando, durante a primeira parte, o Holanda-Ucrânia. Acordou-se quando os jogadores se decidiram a marcar golos, todos no segundo tempo. Se eu tivesse 12 anos e se os únicos jogos que dessem na tv fossem as finais das competições europeias e estes jogos de Europeus ou Mundiais, é certo e sabido que este jogo iria ficar cravado na memória para o resto da gloriosa existência de punheteiro, onde, justamente, se encontra o Inglaterra- Camarões do Mundial de 1990, ou o Suécia-Inglaterra do Euro de 1992. Assim sendo, enquanto escrevo estas linhas, nem sei, sem ter de ir ao Google, quem marcou o segundo golo da Holanda. O Spoorloss, do George Sluizer, é obra-prima.


sábado, 12 de junho de 2021

Euro 2020 (Dia 2).


 

Mais 21 obras-primas.


Cleia Almeida & Filipa AreosaFaz-me Companhia (2019). Gonçalo Almeida

Filme: 2/5 (Roendo uma laranja na falésia/Olhando o mundo azul à minha frente/Ouvindo um rouxinol na redondeza/No calmo improviso do poente...Depois de Trás-os-Montes e Fontainhas, um novo destino turístico no cinema português: litoral alentejano.)


Quadro "Rachel Roberts com as mãos amarradas debaixo de água e bumbum de Rihanna", da autoria dos artesãos Megaforce, Rihanna e Leo Berne, e presente na exposição intitulada "Bitch Better Have My Money".




1.Brigitte Lin. 2.Valerie Chow3.Faye WongChung Hing sam lam (1994). Wong Kar-Wai

Filme: 5/5




1.Michelle Reis2.Karen Mok3.Charlie YeungDo lok tin si (1995). Wong Kar-Wai

Filme: 5/5 ("Quando encontro antigos colegas da escola, as perguntas que me fazem são sempre as mesmas...".)



1.Yuliya Burova2.Yuliya VysotskayaDorogie tovarishchi (2020). Andrey Konchalovskiy

Filme: 4/5 (Um dos grandes elogios- mundiais- que se pode fazer a este filme: foi completamente ignorado pelo esquerda.net.)





1.Ingrid Caven2.Elisabeth Trissenaar. 3.Isolde Barth4.Eva MattesIn einem Jahr mit 13 Monden (1978). R. W. Fassbinder

Filme: 3/5




1.Geraldine Chaplin2.Sandra Montaigu3.Jane BirkinL 'amour par terre (1984). Jacques Rivette

Filme: 5/5 (Sim, já não se fazem filmes onde se ouve nitidamente o ranger das escadas.)


Ann SheridanWoman on the Run (1950). Norman Foster

Filme: 3/5


Jovem e outras duas belezas americanas. Three American Beauties (1906). Wallace McCutcheon & Edwin S. Porter

Filme: 5/5 (Não é só "bonito". Também irrita esquerdalhada revisionista e "conteúdista", o que é sempre salutar e indicador bastante fiável do valor de uma obra.)



1.Catrinel Marlon2.Rodica LazarLa gomera (2019). Corneliu Porumboiu

Filme: 3/5 (O excesso de música- ainda por cima completamente deslocada na maior parte das cenas- tem outro custo, e não é só formal: é monetário. Só direitos de autor para pagar...)

Euro 2020 (Dia 1).



Uma seleção turca indigna de Ataturk e Ceylan foi dizimada nas calmas por uma seleção italiana “cínica”, “calculista” e “prática” (leia-se: posse de bola de 64%, pressão intensa e “jogo entre linhas”, uma das mais belas expressões do Século XXI). Já nada é como antes. Emocionados, recordámos o Mundial de 1994, ou, como ficou conhecido no mundo do futebol, “todos ao ferrolho e bola no Baggio”, ou, para os mais antigos, o Mundial de 1982, historicamente designado “todos cá atrás e bola no Rossi”. Multiculturalismo também a fazer sentir-se no futebol, onde tradições e identidades estão a perder-se para grande confusão dos amantes da redonda. Não desesperemos, que no horizonte há a esperança personificada nos regeneradores do património e valores culturais de cada país europeu. Em conclusão: ler livros turcos dá vontade de comer.


sábado, 5 de junho de 2021

Mais 22 obras-primas.



1.Isabel de Castro2.Inês de MedeirosUma Pedra no Bolso (1988). Joaquim Pinto

Filme: 3/5 (Cinema português 1986/1988: sardinha assada, sal, calções da Adidas, insetos à volta dos candeeiros, grilos "lá fora", areia, pão na mesa. A par do "Crónicas Algarvias" do Manuel da Fonseca, uma outra forma de ir à praia. Sem lancheiras.)




1.Jessica Harper2.Kathryn Morris3.Samantha Morton.  Minority Report (2002). Steven Spielberg

Filme: 4/5 (O Cruise a saltar entre carros a deslizarem por estradas verticais e um casal a dormir na sala da "magia da sala". Vi eu.)



1.Dina Meyer2.Denise RichardsStarship Troopers (1997). Paul Verhoeven

Filme: 4/5 (O trailer do novo filme do Verhoeven augura o pior. Querem ver que ele, através do "reconhecimento" que lhe foi dado nos últimos anos, modificou a imagem que tinha de si e tem agora de pagar a "redescoberta" com cagalhões de "prestígio"? Esperemos que sim.)


Susan BlakelyOver the Top (1987). Menahem Golan

Filme: 4/5 ("Filme da Vida" entre finais de 1988 e Outubro de 1990, quando foi substituído pelo The Karate Kid.)


Darlanne Fluegel (R.I.P.). Lock Up (1989). John Flynn

Filme: 4/5 (Filme alugado, com todo o vigor, no videoclube durante o mês de graça de Julho de 1991. Visto duas vezes na totalidade mais outra "com os melhores bocados", antes de ser entregue, com a cassete rebobinada.) 



1.Corinne Lamborot2.Karole Rocher.  Dernière séance (2011). Laurent Achard

Filme: 3/5 (Três méritos: rigor glacial na composição; fez-nos recordar a fase em que só víamos porno com atrizes que tivessem de brincos; fez-nos voltar a ver o French Cancan.)



1.Françoise Arnoul. 2.Maria FélixFrench Cancan (1955). Jean Renoir

Filme: 5/5 (Os últimos vinte minutos deste filme até nos fazem esquecer, durante um bom bocado de tempo, que vivemos no mesmo planeta do Bruno Nogueira e do António Raminhos.)







1.Mamie Gummer2.Amber Heard3.Danielle Panabaker4.Lyndsy Fonseca5.Laura-Leigh6.Mika BooremThe Ward (2010). John Carpenter

Filme: 3/5 (O Carpenter tem de voltar a fazer outra longa. A sua filmografia não pode terminar com aquele último plano ridículo do The Ward.)



1.Eiko Minami (ainda viva, com 112 anos). 2.Ayako IiijimaKurutta ippêji (1926). Teinosuke Kinugasa

Filme: 4/5 (Filme impressionista/expressionista/surrealista para ver numa tv de 100 polegadas. Ou "na magia da sala". Sem mais ninguém.)


Susan DenbergFrankenstein Created Woman (1967). Terence Fisher

Filme: 4/5