1.Véra Clouzot. 2.Simone Signoret. Les diaboliques (1955). Henri-Georges Clouzot
Filme: 5/5 (Criterion #35)
1.Natureza mais do que morta num estabelecimento de ensino. 2.Kathy Bates. 3.Clea Lewis. 4.Sharon Stone. 5.Isabelle Adjani. Diabolique (1996). Jeremiah S. Chechik
Filme: 1/5 (Não pedíamos muito. Não pedíamos mais do que a reprodução mecânica e desvirtuosa do filme original. Apenas pedíamos, humilde e singelamente, um incremento de tensão sexual entre as duas personagens femininas, algo que no filme original estava soterrado nas entrelinhas. Cheios de esperança, lá fomos, ainda por cima otimistas, pois eram os anos 90, e thriller nos anos 90 teria, à priori, de possuir erotismo softcore feminino de pôr, até, mais de metade dos cineastas portugueses de pau feito. E com a Isabelle e a Sharon. Resultado: nem a isso tivemos direito.)
Véra Clouzot, très bonne chienne. Le salaire de la peur (1953). Henri-Georges Clouzot
Filme: 4/5 (Criterion #36. Caros amigos conservadores, patriotas, pró-americanos e NATO, um tanto ou quanto cinéfilos e partidários de uma globalização capitalista mais ou menos saudável: podeis estar descansados quanto ao nível de aversão ao grande capital, ao liberalismo de relações laborais e aos admiráveis EUA que se podem encontrar em Le salaire de la peur. É certo que todas essas vigarices esquerdalhas estão presentes, mas sem jamais servirem de corneta ou trombone para as personagens. Além disso, essas malfeitorias socialistas estão diluídas nos assombros de um filme de género, em que as rodas dos camiões e as dos estados de inquietação e ansiedade explodem com qualquer veemência dessas repugnâncias de índole sindical. Como bónus, e como marialvas que somos (não vos esqueçais que em breve iremos marcar uma caçada ao faisão na minha fazenda), há uma muito bem vinda diminuição e degradação da personagem feminina, que aqui mais não é do que um joguete nas mãos do poderoso machão Yves Montand. Para a caçada, trazei cada um de vós um vinho da vossa escolha. Haverá pão alentejano e abundantes azeitonas.)
1-Anne-Marie Deschodt. 2."À CARACÓIZ". 3.Rosario Almontes. Sorcerer (1977). William Friedkin
Filme: 3/5 (Em relação ao filme do Clouzot, as diferenças: as set-pieces de pura angústia e incerteza com os camiões têm uma ambiência mais psicótica e aterrorizante do que verdadeiramente de "suspense" (a sequência alucinada na ponte a cair de podre como exemplo primeiro); a única personagem feminina do filme original (a da Vera Clouzot) tinha maior proeminência, mas era tratada abaixo de cão. No remake, nem sequer fala, é uma mulher (Rosario Almintes) encontrada algures numa aldeia da América Central, mas a quem é atribuída uma silenciosa dignidade, até terminando na serena e bela dança final com o Roy Scheider; o colonialismo ocidental (com os EUA como força motriz) no norte de África dos anos cinquenta transfigura-se em globalização económica (com os EUA como força motriz) na América Central dos anos 70; a edição é munto mais histérica; há um maior background informativo sobre os nossos quatro "heróis" através de uma maior diversidade espacial. Pontos em comum com o filme do Clouzot: é um filme com camiões; é um filme que termina com uma crítica muito forte à ganância endémica do capitalismo sem freio, o que para nós, empresários aderentes de nenhumas amarras sociais, é um ultraje e uma soez afronta).
1.Ida Lupino. 2.Joan Leslie. High Sierra (1941). Raoul Walsh
Filme: 4/5 (Fazer double-bill com o Ariel, do Kaurismaki.)
Mary Astor. The Maltese Falcon (1941). John Huston
Filme: 4/5 (Um filme de cabeceira para qualquer hóme que não se queira deixar enganar pelas açucaradas e mefistofélicas armadilhas femininas. Longe, dames pecadoras! (Bater no peito).)
Walter Huston encontrou um verdadeiro tesouro mexicano. The Treasure of the Sierra Madre (1948). John Huston
Filme: 5/5 (Um dos grandes méritos do classicismo do cinema americano: submergir quaisquer veleidades de crítica económico-social através do genuíno carisma das suas stars, dos saborosos estereótipos que foi criando, das suas confortáveis situações familiares, e da sua afetuosa prerrogativa de transformar "O Outro"- sejam atraentes mulheres mexicanas ou animalescos e repugnantes hómes da bandidagem mexicana- em matéria exótica, não muito digna deste mundo. Por isso, quando tudo no final descamba numa valiosa lição de moral contra os perigos da ambição sem limites, o que irá permanecer na mente de pessoas verdadeiramente civilizadas (ou até na sua) é a imagem do Bogart, do Walter Huston e do Tim Holt a comerem feijões cozidos e a beberem taças de café.)
1.Joan Leslie. 2.June Lockhart & Margaret Wycherly. Sergeant York (1941). Howard Hawks
Filme: 4/5 (Para que os EUA continuem a ser o farol democrático no mundo, aquele onde até deverá ser permitido ao Chomsky bater punhetas ao Pol Pot e ao Richard Brody escrever sobre filmes; para que os EUA continuem a ser a principal força militar no mundo; para que os EUA permaneçam como o pais hegemónico a nível cultural, aquela hegemonia que leva as nossas crianças a acordarem e a verem o Barney na tv; para que os EUA serviam de contrapeso ao desmedido e ancião imperialismo russo revisionista, ás ambições colossais da maior ditadura capitalista do mundo (China), e ás alucinadas e cartoonescas ilusões de grandeza de um país de Looney Tunes (Coreia do Norte); para que os EUA continuem a não sustentar países com regimes de pandeireta (Cubas e Venezuelas); por tudo e isto e mais alguma coisa (como por exemplo ser o país da Mandy Moore e do Trey Parker): muitos mais sargentos Yorks e muitas menos- idealmente nenhuma- Ocasios-Cortez.)
Virginia Mayo. Congo Crossing (1956). Joseph Pevney
Filme: 2/5 (R.I.P. colonialismo cinematográfico.)
Grace Kelly. The Country Girl (1954). George Seaton
Filme: 4/5 ("I don't like strong woman!", grita o chauvinista William Holden na cara, melhor escrevendo, na obra-prima facial da Grace Kelly. Grace, por entre os seus ternos movimentos e suavidade de carácter, é uma mulher de muita resiliência e coragem, pois só assim poderia cumprir com a tarefa da sua vida: sustentar e levar ao colo o genial bêbado do Bing Crosby. William enoja-se perante tamanho cenário, vendo tudo como apenas um controlo feminino do livre-arbítrio masculino. Bing, ferido no seu orgulho de hóme com fraca testosterona, confirma a William que sim, que a Grace o controla e não o deixa fazer o que quer. William questiona-se que mundo vem a ser este. "Se já nos anos cinquenta é assim, como será daqui a setenta anos? Ainda iremos ver homens presos por assediarem mulheres nas suas empresas". Grace, fruto de bela argumentação e também por ser a nona maravilha do Mundo, consegue persuadir William de que é tudo um mal entendido, e William vai ficando derretido, confirmando que sim, que Grace é apenas uma princesa de muito bom coração, devota ao seu esposo, e caridosa com os necessitados. Ao mesmo tempo, vai já antevendo futuros cenários onde lhe vai tirando o vestido. Que excelente filme.)
1.A flausina Jean Hagen sussurra a Jack Palance todos os seus gostos e fetishes. 2.Jack Palance diz a Shelley Winters que é possível que a TAP seja privatizada. 3.Ida Lupino. The Big Knife (1955). Robert Aldrich
Filme: 4/5 (Um brocado em tons extravagantes de "majestosidade teatral". Diálogos literários acabados de sair do forno de uma intriga palaciana romana. E o nível de suprema cabotinice jamais teve a alturas tão elevadas como por aqui, mormente a nomeada, na performance do Rod Steiger. P.S.:- se fecharmos os olhos a aguçarmos o ouvido, a voz da Ida Lupino soa exatamente igual à de uma jovem Kathleen Turner.)
1.Jo Van Fleet. 2.Lee Remick. 3.Barbara Loden. Wild River (1960). Elia Kazan
Filme: 5/5 (Alberto Caeiro vs Álvaro de Campos. Melhor filme norte-americano dos anos 60?)
1.Pequerrucha Maria Riva. Filha de Marlene e ainda está viva, aos quase 98 anos. 2.Marlene Dietrich. 3.Louise Dresser. 4.Ruthelma Stevens. The Scarlet Empress (1934). Josef Von Sternberg
Filme: 4/5 (Sternberg: um perfecionista, um detalhista, um tirano, e mais um cineasta que vê os atores como meros bodes e vacas para pastorear. Tudo ao serviço de espetáculos galhofeiros e foliões. Há garagens cheias de entulho que parecem modelos de austeridade em comparação com a claustrofobia visual de certos planos deste filme.)
Janet Leigh. Jet Pilot (1957). Josef Von Sternberg
Filme: 5/5 (Ao fim de um quarto-de-hora, que marca sensivelmente o momento em que, numa das mais espetaculares introduções de carácter na história do cinema de Hollywood (a woman? a lady! a dame!!), a Janet Leigh aparece na magia do ecrã, inicia-se então um processo de dúvida e questionamento: como é que é possível que o John Wayne, um ano após o The Searchers, pareça ter rejuvenescido quase uma década, e como é que a Janet Leigh, um ano antes do Touch of Evil e três antes do Psycho, tenha regredido no tempo até parecer uma jovem mulher que mal entrou na idade adulta? Acabado o filme, fomos investigar. Ahhhh! O filme estreou em 1957, mas a rodagem aconteceu entre 1949 e 1951, e nem sempre com o Sternberg ao leme, pois parece que em Fevereiro de 1950 ele desapareceu de cena- e entretanto entraram outros para completar o filme, como um tal de Don Siegel. Agora sim, agora tudo bate certo. O produtor do filme, um homem de tendências modestas e apaziguantes chamado Howard Hughes, decidiu guardar a película numa arca frigorífica, de onde só a retirava para fazer pequenos mas sistemáticos reparos na sua estrutura. Um processo que durou meia dúzia de anos, até estar tudo nos conformes para a grande estreia, altura em que o Wayne se riu do filme e os críticos ainda mais. Injustiça, é o que escrevemos. Para além das nobres razões que Howard tinha para produzir este filme- o seu amor pela aviação, o seu ódio pelos regimes "comunistas", o seu fascínio por mulheres com, no mínimo, soutiã copa C- a outra camada de deleitosa qualidade vem do folgazão registo do Josef, que transforma a Guerra Fria numa- de acordo com o Andrew Sarris- farsa cartoonesca, a antecipar em alguns anos o Dr. Strangelove. A Sternberg (no seu único filme a cores) pouco ou nada lhe importam as dinâmicas e diplomacias do confronto USA/URSS, antes as trapaças de uma screwball em que os choques contrastantes do género- e entre géneros- são elevados ao nível 11: diferença de idades, diferença de nacionalidades, e diferença de perspetivas políticas- pelo menos até a Janet provar um bife amaricano e sucumbir inapelavelmente aos vestidos da última moda, que em breve- circa 1993- chegariam à Rússia. E innuendos e aliciamentos a cada virar da esquina: nas "batalhas aéreas" entre John e Leigh- planos fixos de longuíssima duração de dois aviões no ar a fazerem cambalhotas um sobre o outro- ou numa implacável sessão de provocação de Janet a Wayne, com aquela a usar artefactos da podre decadência moral ocidental- sweaters justas e soutiãs-torpedo- como armas soviéticas de destruição massiva. John, incrédulo, pergunta se tudo não passará de uma armadilha comuna. De seguida, e durante quase todo o filme, vai sorrindo condescendentemente das malícias da camarada Janet. Em face da catástrofe global- anos 50 ou 2022- responder com irrisão, suculentos bifes, sexualidade balística inter-continental e tabaco norte-americano. Para o remake de 2022, aconselhamos a Sydney Sweeney, que nem sequer precisará do bullet bra. )
Giorgia Meloni, futura primeira-ministra da Itália.
Uma das empresas de conservas do nosso tio-avô, situada na margem Sul do Tejo, lutava intransigentemente pelos direitos das mulheres no local de trabalho, e isto bem antes do 25 do A. Os nossos olhos marejavam-se de lágrimas quando o ouvíamos contar histórias de quando permitiu, para grande espanto e cólera do regime, que as mulheres passassem de meras limpadoras de sanitas de casas de banho para dignas e sofisticadas limpadoras do chão da casa de banho. Com o fim da ditadura, elas passaram imediatamente para lugares de administração da cooperativa, algo que até ao progressista do nosso tio pareceu exagerado. Mas isso já foi há munto ano. Agora, já não é exagerado, nem a nossa família tem vergonha de apoiar inapelavelmente o progresso das mulheres em todas as áreas profissionais e políticas da vida. Vide o que se passa hoje na Europa, com mulheres de M grande a ocuparem-se de lugares chave no reino de Governos de países poderosos. Como a Giorgia em Itália, que até já pôs em sentido dois honrados homens de estado, patriotas sem mácula, chamados Salvini e Berlusconi. Ou a Liz no Reino Unido, que anda a ser atacada de todos os lados por sexistas conservadores, incapazes de perceberem que o seu tempo já lá vai. Ou a Rocia Monasterio em Espanha, mostrando que o partido VOX é um lugar injustamente acusado de desprezar as faculdades femininas. Longe vão os tempos em que só a Madame Le Pen dava lições argumentativas contra homens impreparados. Hoje, até a sua sobrinha dá bailes de oralidade. E na Rússia? Temos a Maria Zakharova como porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Além disso, tira fotos em bikini, provando a milésima mentira do Ocidente, de que o partido Rússia Unida é apenas uma cáfila de machistas. Na mesma Rússia, embora fora da política, temos a Margarita Simonyan, editora do Russia Today, e que para além da sua inegável inteligência, demonstra um cativante sentido de humor, como quando aconselhou o Presidente Putin a lançar um ataque nuclear a Londres no dia do enterro da Rainha Elizabeth II. Fora da Europa, temos o empreendedorismo de Michelle Bolsonaro, que mostra que por detrás de um grande patriota e homem prudente há sempre uma grande e bonita mulher. Meu deus, a quantidade de exemplos é tamanha que nem sequer sabemos para onde nos virar. Mas pensamos que estes já servem para mostrar que ações vanguardistas como as do meu tio-avô deram os seus frutos em longo prazo. Brigados, Titi!
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