segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Frames (15).


Cunayou, "esposa" de Nanook, mulher forte, e ignorante da existência da corrente de "third wave feminism". Nanook of the North (1922). Robert J. Flaherty

Filme: 4/5 (Criterion #33. Contra o realismo, marchar. E pescar.)



1.Nelly Snegina. 2.Irma Rausch. Andrey Rublyov (1966). Andrei Tarkosvsky

Filme: 4/5 (Criterion #34)



Denise Aron-Schropfer. Sandra Sammartino na posição fetal que será uma das imagens recorrentes na obra do casal Hadzihalilovic/Noé. La bouche de Jean-Pierre (1996). Lucile Hadzihalilovic

Filme: 4/5 (Lucile no mundo das crianças, parte 1. Claustrofobia suburbana francesa em imagens-tableaux. A brutalidade entediante do quotidiano que vai lentamente obliterando quaisquer vestígios de sentimentos e empatia. A ambiguidade  sexualmente provocadora de certos planos- ainda mais presente em Innocence- e o tour de force ("corajoso" ou "vomitante", depende de "cada ser humano, como nós") desconfortável de um momento de insidiosa sedução do Jean-Pierre para com a Sandra. Nada disto é para si.) 







1.Zoé Auclair chega à festa de aniversário. 2.Marion Cottilard. 3.Bérangére Haubruge. 4.Hélène de Fougerolles. 5.Lea Bridarolli. 6.A piquena Olga Peytavi-Muller está desgostosa porque o seu filme "Patito Lindo"- sobre as atribulações de um pato de borracha numa banheira recheada de espuma- não foi selecionado para o DocLisboa. Innocence (2004). Lucile Hadzihalilovic

Filme: 4/5 (Lucile no mundo das crianças, parte 2. A clausura de cimento dá lugar a espaçosos espaços verdejantes, e o ríspido "realismo" é ultrapassado por uma indefinida e indolente característica fantasiosa, sem nunca, graças a Deus Nosso Senhor, descambar para os horrores da (pior) poesia visual, antes sendo tranquilamente guiada pelos meticulosos sons da natureza.  Nada é esclarecido neste mundo fora-do-mundo, onde noções de "inocência" e "pecado" nem sequer parecem existir, um lugar mágico e de primitiva sensibilidade que com toda a certeza seria destruído à machadada pelas polícias dos bons costumes (morais e outros). Marion Cottilard no cume da radiação da formosura.)




1.Profunda comunhão de mentes entre pai e filha. Isn't that cute? 2.Phillipe Nahon é assaltado sexualmente por Paule Abécassis. 3.Blandine Lenoir. Seul contre tous (1998). Gaspar Noé

Filme: 3/5 (Noé contra o mundo. Relações incestuosas são uma das alegrias de viver de Gaspar, mas há uma outra: pontapés e murros desferidos com grande violência na barriga de grávidas. Mas ainda não é tudo, pois ainda há o recurso a boutades de ultra-risível "profundidade" espalhadas pelo(s) filme(s), simulando uma qualquer análise sociológica do mal-estar da sociedade francesa. Muito rimos, como mais tarde nos riremos com as futuras comédias do realizador argentino-francês.)


Monica Bellucci. Irreversible (2002). Gaspar Noé

Filme: 3/5 (Joe Prestia, época 2001/2002: vê a Rebecca Romjin a dançar sensualmente em lingerie à sua frente; vê a Monica Bellucci num vestido altamente revelador a passar à sua frente. Um hóme não é de ferro, caralho.)





Para Noé, a vida é um eterno loop de reminiscências e repetições. Como diria o Ti Freud, é a infância, estúpido! A propósito disto, lembramo-nos do que o saudoso Zé Vilhena escreveu uma vez num dos seus pasquins, e que era o seguinte: uma menina-bebé começava por mamar num biberão de borracha. Quinze anos depois, ela estaria a mamar noutro biberão, mas que não era de borracha. Um pensamento intrigante, aqui deixado para estabelecer a comparação com os doces recuerdos de Gaspar. Enter The Void (2009). Gaspar Noé

Filme: 4/5 (Gaspar nas nuvens. Finalmente liberto dos espartilhos gravitacionais deste planeta, Noé coloca a capa de super-fanfarrão e viaja com a sua câmara até ao céu de Tóquio, que muito faria a inveja de outros cineastas-voadores, como Tarkovsky. Mas não é apenas essa viagem atmosférica que se torna possível, longe disso; nas mãos e pés de Gaspar, a câmara (física, com certeza, nada de truques de pós-produção) enfia-se por todos os buracos imaginários, desde aqueles existentes nos bicos do gás do fogão ao buraco da Paz de la Huerta. Qualquer tentativa de demarcação de território físico é imperialmente destruída pela imaginação e super-câmara do realizador. Os corpos, enquanto fodem, irradiam um espectro de quentes cores e de munta confortabilidade. A banda-sonora, de ambiências tecno dormentes-psicotrópicas, envia-nos para os meigos reinos de Hipnos. Quando acordamos, a câmara do nosso herói está a captar "em alerta CMTV" um explicito orgasmo masculino. Acaba o filme. Batemos palmas e, de dedo em riste e em tom grave, amaldiçoamos quem (ainda) não sucumbiu a todo este circo de puerilidade.)



1.Klara Kristin. 2.Aomi Muyock. Love (2015). Gaspar Noé

Filme: 4/5 (A melhor comédia da década passada, e um dos óptimos exemplos do género neste século, juntamente com o Not Another Teen Movie, o The Hot Chick, e o Scary Movie 3. É uma tomada de responsável consciência por Gaspar, que se decidiu, enfim, a abraçar sem pruridos toda a filigrana de rídicularidade e bufonaria que é a sua obra (incluindo o Vortex). "Vou trollar e trollar bem", pensou o cineasta, e munto bem assim fez. Não podemos esquecer que este é o filme onde ele interpreta um curador de um museu ou um pintor, whatever, com peruca, e que num breve plano está a ter relações sexuais com a Aomi Muyock numa galeria. "Viver com uma mulher é como viver com a CIA: não há segredos.".)


Sofia Boutella & Souheila Yacoub. Climax (2018). Gaspar Noé

Filme: 2/5 (Fame no inferno. Na "primeira parte", os corpos dançam em laboriosas coreografias, a câmara raramente se mexe, e os rapazes e as raparigas estão no boiling point da explosão sexual, sinalizado através de diálogos hilariantes que se poderiam ter no pátio do secundário. Na "segunda parte", o Noé ficou possuído e enveredou por um terror abstrato que, pior do que histérico, não tem graça nenhuma. Isso é que não perdoamos.)


Abbey Lee. Charlotte Gainsbourg. Stefania Cristian. Lux AEterna (2019). Gaspar Noé

Filme: 1/5 (Mesmo procedimento do filme anterior: ambiências e conversetas desprendidas antes de tudo descambar num anfiteatro de "horror" em cores estroboscópicas e em...Split Screen! O febril poder da realização do cinema, a liberdade criativa, a imersão na personagem, a ficção a entrar pela realidade adentro e vice-versa, tudo dentro da centrifugadora idiótico-burlesca de Gaspar.)



1.Françoise Hardy, monumento nacional francês. Dario Argento & Françoise Lebrun iniciam a grande separação. Vortex (2021). Gaspar Noé

Filme: 4/5 (Falta-me ver o enquadramento direito do split screen. Espero que seja tão bom quanto o esquerdo.)



1.Kelly McGillis. 2.Meg Ryan. Top Gun (1986). Tony Scott

Filme: 1/5 (Os combates aéreos são espacialmente incompreensíveis. A química entre o Cruise e a Kelly está ao nível da atração sexual entre o Goucha e a Martina Navratilova. A "tragédia" principal no filme parece ter sido filmada numa daquelas piscinas das crianças, mas em formato gigante. A "rivalidade" entre Kilmer e Cruise não convence. Como nunca tivemos qualquer ligação emocional a este filme, as armadilhas nostálgicas estão evaporadas, e assim vemos isto por aquilo que é: um mau filme de ação e um mau filme do romance. A sequela oficiosa, Days of Thunder, seria muito mais competente nestes departamentos.)




1.Jennifer Connelly, banhada pela grande bandeira federal, questiona-se se será sensato deixar entrar Tom Cruise dentro de si, perdão, dentro de casa. 2.A cutie Lyliana Wray aconselha Tom a não magoar os sentimentos da mamã. 3.Monica Barbaro a funcionar como a prova de que este é um filme dos anos 20 do século XXI. Top Gun: Maverick (2022). Joseph Kosinski

Filme: 4/5 (As sequências aéreas são espacialmente compreensíveis. A relação entre Cruise e a Jennifer- que nada mais é aqui que um bibelot dramático- ganha densidade pela sensação do tempo passado. A rivalidade Tom/Jon Hamm convence. O quase cameo do Ed Harris é uma delícia. As citações em duplicado ao original de 86 são tão descaradas no seu tráfico nostálgico que até adquirem um sentido de comoção. O inimigo continua a ser uma abstração, sem nome e sem face, o que equivale a dizer que são os grandes USA contra "eles". É um munto bom filme de ação do complexo militar-industrial americano e um bom filme de romance. Próxima Missão Cruise: quebrar a barreira da velocidade da luz.)



1.Kristy Swanson é uma jovem recruta com postura firme. 2.Valeria Golino. Hot Shots! (1991). Jim Abrahams

Filme: 2/5 (The Lloyd Bridges Show.)



1.Brenda Bakke. 2.Valeria Golino. Hot Shots! Part Deux (1993). Jim Abrahams

Filme: 3/5 (The Lloyd Bridges Show.)


Françoise Hardy, encore. Mon amie la rose (1965). 

Filme: 5/5 (O Vortex não seria o mesmo sem este preâmbulo. Pelo menos a parte esquerda do Vortex.)

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