Desde 1908 que a Grã-Bretanha não ganhava uma medalha nos 200 metros livres masculinos. 1908. Ainda as mulheres, felizmente, só usavam saia, o Griffith tinha acabado de começar a sua gloriosa obra, o Rei D. Carlos tinha sido assassinado e o John Wayne ainda usava chupeta. Cento e treze anos depois, a Grã-Bretanha, através de Tom Dean e Duncan Scott, fez a dobradinha. O bronze foi para o brasileiro Fernando Scheffer, provavelmente a única medalha em língua portuguesa na natação de Tóquio-2020.
Uma coisa chamada ROC abarbatou o oiro e a prata nos 100 metros costas masculinos. Evgeny Rylov e Kliment Kolesnikov bateram o Ryan Muprhy, campeão no Rio em 2016. Dois russos e um norte-americano no pódio, abraçados, e sorridentes para as câmaras. Onde estão vocês, meus queridos Brejnev e J. Edgar Hoover?
A Lydia Jacoby, vencedora dos 100 metros bruços, andava há pouco mais de um ano a nadar numa poça de água ou numa piscina de vinte e cinco jardas, no Alasca. Se os Jogos tivessem sido em 2020, teria ido como mera fã, provavelmente a ver a Tatjana Schoenmaker e a Lily King a ficarem nos dois primeiros lugares. A 27 de Julho de 2021, Lydia, vinda do nada, fez dos últimos vinte e cinco metros uma decisão de vida ou de vida assim-assim e deixou-as para trás.
Abram alas para a Ariarne Titmus, a nova rainha das águas sem sal. Tal como nos 400 metros livres, Titmus "brincou" com as suas rivais, sobretudo com a arqui-rival Katy Ledecky, que escandalosamente ficou fora do pódio nos 200 metros livres. "Vá, nadem, meus amores, que eu já vos apanho". De uma refinada crueldade. Seguem-se os 800 metros livres.
Krystóf Milák, da grandiosa Hungria, já protagonizou dos momentos mais divertidos dos Jogos. Milák veio para estes jogos com o enfado de um espectador normal que foi arrastado para um festival de "cinema político" organizado por uma associação qualquer. Na piscina, quando se vê rodeado de patéticos seres humanos, trata de acelerar mais um pouco e a setenta metros do final da prova dos 200 metros mariposa já não vê mais ninguém ao seu lado. Acabada a prova (com mais de dois segundos de diferença para o segundo classificado), esboça uns trejeitos de aborrecimento por não ter batido mais um record. Os seus treinadores exasperam-se na bancada. Tinha acabado de levar uma medalha de ouro.
Nos duzentos metros estilos femininos, duas notas: a dobradinha (200+400 metros estilos) da japonesa Yui Ohashi, e a caída em absoluta desgraça da vencedora das duas provas no Rio, a húngara Katinka Hosszú, que parecia um cachalote a boiar. Deus não dorme e não perdoa. Katinka, a dama de ferro, traiu o seu esposo, treinador e conselheiro de dez anos. Justiça poética para estes devaneios promíscuos, que além de terem rebentado o coração do seu ex, também tiveram o condão de despertar a ira divina.
A maior nadadora de todos os tempos, Katy Ledecky, perdeu os 200 e os 400 metros livres para o torpedo chamado Ariarne Titmus, mas nos 1500 metros não deu qualquer hipótese. Fez toda a prova na frente, sempre com três a quatro segundos de avanço para a mais directa perseguidora. Nas calmas e sem pressas, que ainda tem de disputar os 800 metros com a sua nemesis. Chorou munto no final.
Em noventa e cinco provas de revezamento masculino na história das Olímpiadas, os EUA tinham sempre obtido uma medalha. Foi preciso chegar a 2021 para isso suceder. Sem a estrela Caeleb Dressel e com um Zack Campbell inane no terceiro revezamento, os americanos perderam terreno para os rivais russos, australianos e para um dream team britânico, que já venceu mais títulos nestes Jogos (em natação) do que a selecção inglesa de futebol em toda a sua história
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