Foi um dos melhores Euros de que há
memória (“no meu tempo é que se jogava à bola...”), e se o
campeão não foi a melhor selecçao, foi então a equipa que desde o jogo
númaro um se viu respaldada por uma aura de indestrutibilidade que
teve como episódio final a vitória nos territórios do inimigo do
futebol. Os italianos ficaram atarantados com o golo dos ingleses
marcado ao som das galinhas, e na primeira parte foram incapazes de
perturbar toda aquele bando de trogloditas. Na segunda parte apareceu
o festival de jogo miudinho e de-repente-estica dos transalpinos,
deixando os hooligans em apuros, sem saber o que fazer (“a Inglaterra é superior aos italianos em todas as posições e a nivel
colectivo”, lemos durante os dias precedentes. Qual o preço do barril de litro?), parecendo ovelhas sem dono. Depois do natural
empate, continuaram os alpinos a fazer em campo o que bem entendiam,
para grande desespero dos milhões de litros de cerveja que se
espalhavam pelas bancadas. Os ingleses, até ao fim dos 120 minutos,
tentaram apenas as suas jogadas predilectas: ganhar livres para ver se o
bisonte Maguire marcaria golo, e meter a bola no Sterling para este
se fazer ao penalty. Nos penaltys, Donnarumma e a azelhice de
caganeira dos jogadores ingleses fizeram o resto, salvando o futebol
do seu fim prematuro. Resta à selecção inglesa esperar que alguma
competição volte a decorrer em terras de sua múmia, para ver se
assim tem alguma hipótese de vencer o que quer que seja. Tudo acabou
bem.
Se há jogo que eu sei, à priori, que irei apreciar é um Brasil-Argentina. E, uma vez mais, não me desiludi.
Houve alguns momentos em que temi o pior e as minhas expectativas
ficarem defraudadas (o golo do Di Maria, algumas jogadas apoiadas e
escorreitas dos argentinos, dez segundos consecutivos sem entradas
assassinas), mas, felizmente, durante 95% do tempo de jogo aconteceu
um belíssimo festival de pancadaria, cotoveladas, chapadas e
insultos. Para ajudar à festa, o relvado do Maracanã parecia um
sintético dos anos noventa, com a bola a saltitar constantemente;
uma verdadeira cúmplice da festa de combate que se desenrolou no Rio
de Janeiro. Acabado o jogo, continuou a película melodramática, com
montagem alternada entre Messi a ser vitoriado por qualquer habitante
argentino e as lágrimas de show business protagonizadas por Neymar,
bastante ciente das regras da “sociedade do espectáculo”. Tudo
acabou com o Messi a levantar uma taça quase do seu tamanho.
Onze do Euro 2020:
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