quarta-feira, 4 de março de 2015

que doçura


Assim de memória e de cor, há uma série de filmes que fazem mais pela saúde de um gajo do que duzentas mortalhas com algumas ervas aromáticas: Alphaville, India Song, Night of the Hunter, Faust, quase todos os filmes do Hou Hsiao Hsien, o Europa do Von Trier (quando ainda era um ser humano), o Landscape on the Mist, e mais uns quantos mas chega por aqui. Autênticos tratados de pôr um gajo em estado de hibernação, com todas as propriedades de bem estar que isso proporciona. Como disse o Kiarostami "gosto de filmes que me coloquem a dormir. A dormir mesmo. Não gosto de filmes que me sacudam, que me façam refém. Quero dormir". Inherent Vice vai já para essa lista  de filmes-lareira. Escusado será dizer que eu não faço a mínima ideia do que vi. Aliás, a partir de determinado ponto nem reparei de que falavam as personagens. Via as bocas delas a mexerem e a emitirem uns sons em surdina. Há lá uma conversa entre o Phoenix e o Owen Wilson que é o filme-todo em três minutos: numa quase neblina a falarem baixinho de coisas sem importância alguma. Há uns dissolves drogados que só o PTA os sabe usar devidamente nos dias de hoje. Demora-se o tempo que for necessário em sequências que não interessam para o "argumento" (rir). Não se chega ao céu da sequência Alfred Molina-em-cuecas do Boogie Nights, mas quase. O Josh Brolin faz broches a gelados. Uma sequência de sexo num único plano que mais parece um conto de histórias para adormecermos. Praias e danças á chuva, anos 60 e suas utopias já lá vão. Os Beatles e os Doors já nem existem. Quase passamos pelas brasas, e suspeitamos que se tomássemos duas alianças antes de Inherent Vice a queda seria uma certeza. Dopamina do mais alto gabarito. E mais isto: quando o PTA não quer ser "o maior realizador do mundo", é do caralho.