Estava eu ontem prestes a caminhar para o sono dos injustos, quando no meio do ensonado zapping me deparo com o Swimming Pool, colheita Ozon, a iniciar os seus encantos no canal do Correio da Manhã. Com bolinha vermelha. A este propósito duvidamos se a bolinha vermelha terá alguma cousa a ver com as épicas chuchas da Ludivine Sagnier e seus perigos para homens com problemas cardíacos e /ou mulherio invejoso ou se com a paranormal visão da Charlotte Rampling com pintelheira made in seventies. Fiquei à espera da primeira aparição da Ludivica e depois fui-me embora. Penso que foi na rota para a cama que me lembrei de escrever qualquer coisa sobre La Piscine, filme de há quarenta e três anos e realizado por um gajo que agora me esqueci do nome, mas que acho que começa por Jacques. O La Piscine (cujo título em inglês é...The Swimming Pool, espanto!) foi uma das influências assumidas do François para a sua obra hitchcocko-mamária, e bem as vemos: os travellings sobre o corpo molhado e guloso da Sagnier multiplicam-se por 100 em La Piscine no corpo de Romy Schneider. A câmara, bem porca e cheia de tusa, parece uma mosca a pairar sobre merda fresca, só que neste caso temos algo fresco e que não é nada merdoso. O travelling como uma questão de esperma acumulado. Para animar a malta feminina, o Delon, saído das cúpulas silenciosas de Melville, também tem os seus músculos e bronzeado bem analisados pelo olho do tal de Jacques, que, imagino, muita pancada deve ter levado nos Cahiers na altura da estreia deste filme gloriosamente burguês, ainda por cima um ano depois de um dos mais terríveis acontecimentos da História da Humanidade, e em que um gajo andava cheio de medo na rua, com medo de ser interpelado por um esquadrão de maoístas tresloucados com os seus livrinhos vermelhos e suas boinas e com um deles a tocar gaita, gaita literalmente, não essa que estão a pensar, tarados do caralho. Mas o La Piscine, ah...com a sua languidez de burguesia resfatelada no vazio, o som dos mosquitos nas noites veraneantes, a Romy Schneider a excitar a própria piscina, as iguarias que só de ver dão fome, nada daquelas merdas do chef Ramsay, etc. Imaginamos grandes burgueses ilustres da nossa praça. apreciadores das boas coisas da vida, como Henrique Raposo, o Alberto Gonçalves, o Lomba, enfim, tudo boa gente, a verem isto e a fumarem os seus charutos enquanto atiram dardos a alvos com as caras do Louçã e da Heloísa Apolónia. Jacques Deray, é o nome do homem.