Kyôko Kagawa. Tengoku to jigoku.(1963). Akira Kurosawa
Filme: 5/5 (Criterion #24. As boutades, os aforismos, as exclamações peremtórias e os juízos finais cinematográficos são matéria cómica e/ou irritante e/ou estúpida. Por isso, está na altura de escrevermos uma cousa dessas. Ajeitar gravata, ver se a bateria está em condições, observar cuidadosamente o vazio do processo, e aqui vai: Tengoku to jigoku é a versão cinematográfica do Parasite.)
1-Zhao Tao. 2.Jiang Zhongwei & Jing Jue numa das melhores cenas de ciúmes na história da "magia da tela". Shìjiè/The World (2004). Jia Zhangke
Filme: 4/5 (É um filme de muitas estreias na obra de Jia. Assim, é o seu primeiro filme com apoio do estado chinês, o que significou que podia estar a filmar na rua sem o medo de ser incomodado, para além de que com esse apoio a estreia comercial no país estaria assegurada. Também é o primeiro filme com as melodias eletrónicas do Lim Giong. Igualmente novidade foi o recurso a sequências animadas. Ainda mais espantosa foi a visualização dos primeiros edifícios em pé na obra de Jia; o facto de serem reproduções de monumentos mundiais não diminui a importância do facto. E, sem dúvida, que este foi o filme que levou o cineasta chinês à consagração a nível mundial. Isso também é muito importante, porque teve como consequência que o Jia (e como ele muntos outros mestres, tais como Costa, Bing, etc) foi a muitos festivais e disse cousas muito sérias e relevantes sobre "globalização", "americanização", "desigualdade social", "estratificação social" e "filhos da punheta dos ricos". Frutuosas e muito úteis "masterclasses" para audiências atentas e perfumadas, que, ao ouvirem tão belas e superiores litanias, se tornam melhores cinéfilos e, ainda mais salutar, melhores seres humanos. "Amor, o que estes senhores dizem é muito importante, não é?". "É, é, querida. Vá, vá, agora silêncio, que vamos ouvir os senhores na masterclass". E a Zhao Tao, dança? Dança.)
Zhao Tao. Sanxiá Haorén/Still Life (2006). Jia Zhangke
Filme: 5/5 (Uma "masterclass" de cinco horas apenas e só sobre aquele longuíssimo plano-pendular- à Hsiao-hsien- dos hómes a fumar e a comer: isso sim. A Tao não dança.)
1.Léa Seydoux. 2.Kristin Stewart. 3.Lihi Kornowski. Crimes of the Future (2022). David Cronenberg
Filme: 1/5 (É como uma daquelas coletâneas de "best-of" que os artistas lançam no final da carreira. Também pode servir para se fazer um concurso de pop quiz ou trivial pursuit: onde é que vossemecê já viu isto num filme do Cronenberg? A minha preferida auto-punheta é à das barras de chocolate do The Fly.)
Tania Zolty, salvação da humanidade. Crimes of the Future (1970). David Cronenberg
Filme: 4/5 (Visto logo a seguir à agressividade requentada do filme de 2022. Impenetrável e absurdo do ponto de vista romanesco- e auto-consciente disso, ainda por cima-, mas um autêntico bálsamo para os sentidos, mormente e nomeada, o auditivo. É para se ver aí entre as 3 e as 5 da manhã, já com o sono à espreita, e onde já se misturam as imagens do filme com aquelas imagens mentais do tempo de transição entre a vigília e o adormecimento.)
Dream Team: 1.Sandra Dee. 2.Jean Simmons. 3.Piper Laurie. 4.Joan Fontaine. Until They Sail (1957). Robert Wise
Filme: 3/5 (O Paul Newman está ressentido com as relações amorosas. Decidiu fugir desse mundo e iniciar uma relação mais sólida e duradoura com uma garrafa de tinto. Uma relação tranquila e desprovida de incompreensões. Mas estamos em 1957, e não há cá tempo nem paciência para bêbados solitários, e vai daí os argumentistas testam a "fria" carapaça do Paul. E como o fazem? Da maneira mais injusta e tendenciosa possível: apresentando-lhe a Jean Simmons. Portanto, de um lado a Jean Simmons e encantos que vão para além desta via láctea e das nebulosas mais próximas; do outro, garrafas de tinto cheias, calorosas e recetivas a serem emborcadas, ainda por cima sem fazerem quaisquer perguntas. É assim, a vida humana.)
1.Sandra Dee. 2.Diane Clare. 3.Kay Kendall. The Reluctant Debutante (1958). Vincente Minnelli
Filme: 3/5 (O parente pobre dos três filmes de Minnelli realizados em 58. Filme de estúdio, de interiores luxuosos e, como escreveu a Variety, "prettily dressed". Timings cómicos entre o prodigioso e o patético. O Rex Harrison está muito bem, mas o Ray Milland ainda estaria melhor como simbiose perfeita entre sofisticação upper class e destrambelhamento do povo (e vice-versa). A Sandra Dee teria sido uma boa atriz para o Lynch- estamos seguros de que foi ela que inspirou a criação da personagem da Laura Dern no Blue Velvet.)
1.Laura Gemser. 2.Jill Flanter (R.I.P) & April Clough. I due superpiedi quasi piatti (1977). Enzo Barboni
Filme: 4/5 ("A Super Patrulha" em português, alugado num clube de vídeo veraneante e caseiro de um homem dono de uma loja que fazia franchising de um clube de vídeo a sério. Algures em 1990 ou 1991.)
Michelle Williams & Natalie Portman. Greed, a New Fragrance by Francesco Vezzoli (2009). Roman Polanski
Filme: 5/5 (Uma cat fight entre a Michelle e a Natalie. Deus, Deus, por que não me derretes logo com as tuas línguas de fogo?)
1.Britney Spears. 2.Kim Cattrall. 3.Zoe Saldaña. 4.Taryn Manning. Crossroads (2002). Tamra Davis
Filme: 2/5 (Milagres e espantos da natureza em Crossroads: Britney fala. Britney anda. Britney salta. Britney em lingerie. Britney em pijama. Britney canta. Britney chora. Britney zanga-se. Britney em bikini. Britney toma banho. Britney corre. Britney toca piano. Britney come. Britney conta dinheiro. E etc, etc, etc. Podia-se fazer um álbum de desenhos animados, como os da Anita.)
Britney Spears. I'm Not a Girl, Not Yet a Woman (2001). Wayne Isham
Filme: 4/5 (Um dos momentos charneira na história da cultura pop dos últimos 60 anos, a par dos efeitos do Maio de 68 no Gódárde, das visitas a terras indianas por parte do George Harrison (ou foi o Ringo Starr?) ou da súbita mudança de agulhas musicais dos Talk Talk nos finais dos anos 80. Fim da gloriosa fase "namoradinha da América banhada em genuína inocência e ingenuidade, nada de fabricações e cosméticas da produtora e agentes", para uma igualmente esplendorosa fase "agora sou mulher, mando em mim, faço vídeos com roupa (ainda) mais provocadora e com motivos sexuais que vão corromper meninas indefesas deste mundo, e nada através de fabricações e cosméticas de produtoras e agentes". Limbo existencial filmado na grandeza do Antelope Canyon no Arizona, com poses entre o sofrimento introspetivo e a perscrutação do futuro, de que o South Park, malvadamente, faria troça e escárnio. Maus. Não se trata assim aquela que, nas justas palavras do James Franco no Spring Breakers, é "an angel if there ever was one in this earth".)
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