sábado, 17 de outubro de 2015

Babett

No primeiro de Maio do ano da Graça de 2009, depois de verdadeiramente celebrar o dia e antes de o mesmo terminar com petardos, confusão e polícia de choque, conheci a Babett, que sabiamente me avistou no meio da multidão e ordenou a um amigo francês (estes alemães…) que me fosse buscar à rua e levar-me ao primeiro andar de um qualquer prédio da Orannienstr., onde conversámos e do qual viríamos a descer para ficarmos num canto escuro do átrio do prédio a comer-nos. O interesse mútuo levou a uma troca de contactos, que permitiu posteriores encontros, que por sua vez permitiram aprofundar o conhecimento um do outro, resolver assuntos pendentes do referido primeiro do Maio e, inclusive, após algum tempo, pasme-se, a visionamentos de filmes em conjunto. No meu quarto, não antes de termos continuado a resolver assuntos, mostrei-lhe o City Lights, do Chaplin, de quem lhe tinha falado apaixonadamente várias vezes. Não conseguirei descrever com exactidão o aborrecimento que lhe causou essa hora e um quarto, nem sequer me lembro do título do filme alemão que ela trouxera consigo, uma comédia que ela não via pela primeira vez e que lhe causou incontrolável riso, ao passo que a minha incredulidade perante o que ocorria no ecrã se transformou rapidamente em sono, tendo-me virado para o lado e dormido. Nos quatro meses da nossa breve relação, foram os únicos filmes que vimos em conjunto. Ainda hoje me recordo desses quatro meses com doçura; se não estava apaixonado, estava pelo menos certo de que a Babett era uma pessoa encantadora, com a qual muito me divertia e com quem gostava de jogar tempo fora. A nossa última noite, a minha penúltima em Berlim naquele ano, foi muito bonita. De manhã, após um pequeno-almoço incómodo por sabermos que a despedida nos aguardava, dissemos adeus com um abraço sentido e uns beijos desajeitados. Ainda hoje a recordo com carinho e os nossos reencontros, principalmente o de Agosto de 2013, outra vez em Berlim, são cúmplices. A Babett não é filha do Bénard, mas é ainda assim muito especial.