No primeiro de Maio do ano da
Graça de 2009, depois de verdadeiramente celebrar o dia e antes de o mesmo
terminar com petardos, confusão e polícia de choque, conheci a Babett, que
sabiamente me avistou no meio da multidão e ordenou a um amigo francês (estes
alemães…) que me fosse buscar à rua e levar-me ao primeiro andar de um qualquer
prédio da Orannienstr., onde conversámos e do qual viríamos a descer para
ficarmos num canto escuro do átrio do prédio a comer-nos. O interesse mútuo levou a uma troca de
contactos, que permitiu posteriores encontros, que por sua vez permitiram
aprofundar o conhecimento um do outro, resolver assuntos pendentes do referido
primeiro do Maio e, inclusive, após algum tempo, pasme-se, a visionamentos de
filmes em conjunto. No meu quarto, não antes de termos continuado a resolver
assuntos, mostrei-lhe o City Lights, do Chaplin, de quem lhe tinha falado
apaixonadamente várias vezes. Não conseguirei descrever com exactidão o
aborrecimento que lhe causou essa hora e um quarto, nem sequer me lembro do
título do filme alemão que ela trouxera consigo, uma comédia que ela não via
pela primeira vez e que lhe causou incontrolável riso, ao passo que a minha
incredulidade perante o que ocorria no ecrã se transformou rapidamente em sono, tendo-me virado para o lado e
dormido. Nos quatro meses da nossa breve relação, foram os únicos filmes que
vimos em conjunto. Ainda hoje me recordo desses quatro meses com doçura; se não
estava apaixonado, estava pelo menos certo de que a Babett era uma pessoa
encantadora, com a qual muito me divertia e com quem gostava de jogar tempo
fora. A nossa última noite, a minha penúltima em Berlim naquele ano, foi muito
bonita. De manhã, após um pequeno-almoço incómodo por sabermos que a despedida
nos aguardava, dissemos adeus com um abraço sentido e uns beijos desajeitados.
Ainda hoje a recordo com carinho e os nossos reencontros, principalmente o de
Agosto de 2013, outra vez em Berlim, são cúmplices. A Babett não é filha do
Bénard, mas é ainda assim muito especial.