Terá Cagney feito maravilhosamente a encenação do medo que não sentia, agarrando-se ao máximo aos objectos para atrasar a sua morte? Ou, o que prefiro pensar, é o pudor de Curtiz que, ambiguamente pondo o rosto de Cagney fora de campo, desmistifica o herói, dá-nos o seu arrependimento, permite-lhe a paz e tira a dirty face deste anjo?
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
Fora de campo
Não é sem emoção que chego ao pico dramático de "Angels With Dirty Faces", Curtiz de 38. Cagney, no corredor da morte a dizer que não ao pedido do seu amigo de sempre, o padre de Pat O'Brien, o de se mostrar com medo de morrer, impedindo a sua glorificação enquanto gangster por parte dos adolescentes lá do bairro. Na última vez que vemos Cagney, este tem ainda estampado no rosto o despeito, a confiança, a coragem.
Até que, com Cagney já fora de campo, começamos a ouvi-lo: diz que não quer morrer, que não o matem. Ora, podemos muito bem pensar que no plano acima, naqueles olhos, está o Cagney brincalhão do resto do filme e que aceder ao pedido de O'Brien foi sempre sua intenção. Mas nessa magnífica sequência que é a da sua execução (sombras, um homem a chorar, música de nos elevar ao céu, pessoas observando impassiveis, o carrasco de rosto opaco) há um plano que me deixa alerta: