O cinema de Wong Kar-Wai atingiu o fundo. Os sinais já vêm desde o In the Mood for Love, alastraram no 2046, tiveram uma ligeira interrupção geográfica com o My Blueberry Nights e atingiram o seu climax neste The Grandmaster, e isto já para não referir os spots que foi fazendo ao longo da última década. Um cinema insuportavelmente maneirista e cabotino, a abarrotar de efeitos; um cinema de guarda-roupa e de vernizes; pior que tudo, um cinema sem aquele humor simultaneamente ingénuo e surreal do As Tear Goes By e do díptico Chungking Express/ Fallen Angels, onde havia homens a falar com sabonetes e ursos de peluche e em cima de porcos. Isso já lá vai. Agora é "elegância", filmezinhos de saltos altos, trés chic, para deleite de quaisquer pessoas a tresandar de "bom gosto" e que perdem uma hora por dia a ver se a cor dos sapatos combina bem com o casaco. Só para ter uma ideia do quão enjoativo é este seu novo filme, pensem naqueles filmes de wuxia que o Zhang Yimou (aka António Lopes Ribeiro chinês) fez nos últimos anos, os Heros, os Maldições da coisa Dourada, os Punhais Voadores, e fiquem a saber que esses festivais de "cor e magia" são belos exemplos de sobriedade ao pé disto. Não há por aqui um plano enxuto, um milimetro que não esteja encharcado em filtros, em distorções, em brilhantismo oco. 85% é slow motion. As cenas de luta já foram vistas e revistas milhão de vezes. Para isto mais valia terem chamado um zé ninguém de Hollywood. O Tony Leung faz o que pode, naquele registo habitual de "estou-me a cagar", sempre com o seu sorriso icónico. Wong, o teu cinema é de batatas fritas e coca-colas, de noodles e balcões de lojas em centros comerciais, de malucos e malucas em territórios urbanos. É ter a Maggie Cheung numa cabina telefónica com o Andy Lau ao som do Take My Breath Away versão cantonesa. Deixa-te destas merdas de alfaiate e de manicure. Nota: 1
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