"Mas olhe que eu ás vezes também sou mauzinho". "Mauzinho não. Mauzão. Mauzão Digital. Ihihih". E assim prosseguiam as práticas, tão saborosas quanto malévolas, do Senhor Académico e do Mauzão Digital. Reunidos nos luxuosos aposentos do primeiro (ornamentados através de impostos agiotas sobre as indefesas e boas gentes da encosta), relembravam conquistas passadas, degustavam vitórias presentes e projectavam ruindades futuras. Maus. A alegria e boa disposição andavam de mãos dadas, só interrompidas pela menção do Doutor Audiovisual, o incontestável Mestre de ambos os dois. Os rostos tornaram-se graves e pesados durante alguns segundos. Mas logo voltou a farra, quando o Mauzão Digital começou a falar sobre aquela vez em que tinha limpo o cagado rabo com a capa de uns Cadernus Du CinéMa amarelos. Foi um fartote. Mas vamos deixar por agora estes malvados e vamos saber que outros sucessos estavam a decorrer no Castelo. Então, nas masmorras digitais, Haneke, o Montanhês, prosseguia os castigos inomináveis ao menino Cinema Livre. Depois de lhe atirar com berlindes à cara bonita, atrevia-se a exibir-lhe, de uma forma que não pode deixar ninguém com coração indiferente, excertos de Funny Games USA. O menino horrorizava-se e chamava pela mamã, de seu nome Mise-En-Scéne, o que fazia aumentar ainda mais os desejos humilhadores e grotescos de Haneke, o Montanhês. Entretantos, surge, a tossir de tanto correr, Hologramas Wachowski, que se aproximou de Haneke, o Montanhês, e lhe segredou qualquer vagabundagem ao ouvido. Haneke, o Montanhês, ainda mais colérico ficou, e espetou com o dvd na cara do menino Cinema Livre, que já misturava ranho com lágrimas de uma tocante inocência. "Traz a cassete", disse Haneke, o Montanhês ao Hologramas Wachowski, para grande satisfação deste, que sabia bem o que iria suceder sempre que o outro lhe ordenava que lhe trouxesse "a cassete". Sem permissão dos Senhores, Haneke, o Montanhês e Hologramas Wachowski montaram touros digitais com cornos académicos, um verdadeiro susto. Começaram a descer a encosta para a vila, mas voltaram para trás, quando se lembraram que não tinham deixado ninguém a castigar o menino. Assim, foram acordar aos seus modestos aposentos Scorsese, o Traidor, e Haneke, o Montanhês, deu-lhe ordens para dar pancada da grossa ao menino. Voltaram a montar os touros digitais, e Scorsese, o Traidor, foi para junto do menino, com este a rogar-lhe misericórdia, e a dizer-lhe que ele ainda tinha bondade no seu coração, que ainda não era totalmente mau, e por uns momentos soltou-se uma faísca no interior de Scorsese, o Traidor, mas logo se desvanesceu, um cenário de tragédia. Não dizemos a nomear e a demonstrar as atrozidades que Scorsese, o Traidor, cometeu sobre o menino Cinema Livre e vamos de volta à encosta, onde os dois caçadores, montados em falsos touros, iam a caminho da casa do Senhor Andre, coitadinho. As velhas de xaile preto, mal souberam que vinha aí catástrofe e Maus arrazoados, levaram os meninos para dentro de casa, acenderam uma vela e rezaram a São João Lucas. Na loja, o Senhor Andre esperava a chegada do Mal. Prostrado, cabeça baixa, preparando-se para o Adeus...
Este segundo manuscrito termina aqui, o que não deixou de espantar os historiadores e linguareiros, pois ainda havia folha e meia para preencher, o que ajuda a possivelmente provar uma das teorias adjacentes: a de que cada manuscrito foi escrito ao mesmo tempo por cinco pessoas diferentes, o que seria verdadeiramente bizarro, para mais se atendermos à evidente deformação cognitiva dos seus possíveis autores.
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