[...] encontrados os manuscritos debaixo de uma rola morta. Segundo os linguareiros de serviço, os manuscritos datavam de uma data incerta e de uma não menos segura ocupação territorial. Conseguiram apurar, no entanto, que o(s) seu (s) autor(es) deveriam possuir não mais do que a 4ª classe ou, em alternativa, alguma paralisa intelectual. Assim rezava a história no primeiro manuscrito:
Havia dois senhores muito maus, o Senhor Académico e o Mauzão Digital. Que mandavam no castelo escuro e feio e mauzão. Os dois senhores muito maus ás vezes tinham arrufos um com o outro mas na maior parte das vezes eram amigos e aos sábados organizavam jantares grandes com muita lampreia e marisco. Os soldados gostavam muito e era uma alegria para todos. Os soldados ás vezes ainda eram mais cruéis e maus do que os os seus Senhores, que já eram muito maus. Havia velhas de xaile preto que nas encostas do castelo diziam que nunca tinham visto tanta maldade na vida nem tão grande rasto de destruição. Os soldados, comandados por Haneke, o Montanhês, ás vezes ouviam as velhas e riam-se muito, enquanto limpavam as beiças com os restos do frango roubado na mercearia do Senhor Andre, coitadinho. Um dia apanharam um menino chamado Cinema Livre e derrearam-no com porrada e meteram-no numa cela escura, má e cheia de ratazanas gordas e peludas e muito más. E Haneke, o Montanhês, mandava os seus rapazes a cuspirem e a mijarem para cima do menino Cinema Livre, que chorava e pedia ajuda. O Senhor Académico e o Mauzão Digital ficaram muito contentes com esta apanha, porque já há muuuuito tempo que andavam à coca deste menino. Iam moê-lo com tanta pancada e depois iam dar os restos que sobrassem aos irmãos Taviani, que andavam esfomeados. Com os dentes podres da sua evidente maldade, o Mauzão Digital batia palmas e saltava enquanto Haneke, o Montanhês, dava com um pau na cara do menino. Os gritos deste eram tão fortes que se ouviam cá em baixo, na vila, onde o Senhor Andre chorava e pedia aos salmos que alguém tivesse mão neste mundo. As trevas...
E aqui termina o primeiro manuscrito, com marcas de lágrimas secas a emoldurarem as suas extremidades inferiores, sinal insofismável da grande emoção por que passava o seu autor. [...]
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