"Miserável". "Catastrófico". "Um dos piores filmes de todos os tempos". "Rosenbaum num comício do PCTP/MRPP". Não foram poucas as aleivosias e as injúrias de que foi alvo Il Fantasma dell' Opera (cujo subtítulo poderia ser "Adoro cús e mamas: sobretudo o e as da minha querida, querida filha. Humm"), a considerada ovelha negra na filmografia do homem, pelo menos até ao último Dracula3D, que também tem recebido insultos de vário calibre. Pela nossa parte, é com muito gosto que discordamos, e apraz-nos registar o gostoso prazer que foi ver este espectáculo de fealdade de grandes angulares, comédia grossa e trolhesca e cenas de sexo provenientes de um daqueles episódios softcore da Playboy que davam nas madrugadas da SIC nos anos 90, com velas e tudo. Julian Sands faz teatro, Dario faz travellings sobre o cu desnudado de Asia, e à excepção de três personagens, toda a espécie humana é neste filme um absoluto cancro prestes a ser ridicularizado, estando toda a simpatia guardada para umas mui lindas ratazanas de esgoto. Que se foda o "operático"; isto é uma gloriosa exacerbação do "mau gosto".
Ambientalismo fantasmagórico. Um ecrã a negro. Palavras em branco a desenharem-se no ecrã. E depois riffs repetitivos de uma guitarra atropelados por pianos e orgãos eclesiásticos: até quase chorámos de emoção, sabendo que os Goblin estavam de volta (depois das aventuras romanescas de Donaggio e do além com Morricone) . Este genérico inicial, juntamente com um travelling antológico sobre um tapete, são os únicos momentos que escapam ao sabor requentado de Non Ho Sonno, regresso ao giallo puro e duro, depois do "desastre" do filme anterior. Profondo Rosso e Tenebrae estendem as suas sombras por todo o lado, e se ficamos sempre contentes sempre que vemos qualquer filthy slim pervert a não conspurcar mais o mundo com as suas tentações, não deixa de ser verdade que isto é material que já foi dado com outra beleza nas obras-primas do mestre. E se um dos grandes prazeres nos filmes do senhor são as autênticas curtas-metragens em que se transforma cada homicídio, aqui tudo acaba depressa demais e sem muita imaginação. Não nos levem a mal: ainda assim é melhor que quinhentos Screams.
Il Cartaio, de 2004, mais parece um episódio de luxo de um CSI ou Investigação Criminal ou um desses estercos procedural que atolaram a tv na última década. Basicamente é como se enviassem um dos anónimos "fazedores de imagens" desses lixos para Itália e lhe dissessem assim:" Ouve, tenta manter o registo "audiovisual" desta merda que fazemos, mas tenta acrescentar umas pitadas do Dario Argento. Hum? Não sabes quem é? Quem? O Insidious?". É uma programação robótica e impessoal a que nem escapam as músicas de Simonetti, aqui cheias de filigrana electrónica (e o genérico parece que tenta emular o do Se7en mas como se fosse encenado por um invisual). O climax, com um potencial enorme de sui-generis, é tratado com a indiferença emotiva de um tarefeiro. Recusamo-nos a acreditar que Dario tenha participado nisto. Contudo, não nos levem a mal: sendo medíocre, Il Cartaio vale pelo menos seiscentos Insidious (1 e 2).