Chegados a metade do caminho, e já com
o Castelo do Mal na mira, Sérgio, o Belo carinhosamente ordenou que
os seus apaniguados ali parassem. Olhou à volta e respirou o
silêncio das neblinas matinais. Ouviam-se grilos. O Mestre olhou em
direcção de Green, o Paulo Branco e acenou com a cabeça. Este logo
entendeu tal prática e da sua saca retirou um controlo remoto com
uma antena de cinco metros de altura. Mexendo e remexendo em botões
de diversas cores, Green, o Paulo Branco colocou o primeiro drone
Straub E-A564 nos ares e pronto para a sua missão. Esperou a ordem
do seu Mestre. Este contou mentalmente até cinco e depois sussurou:
"deslarga-o!", e logo foi o Straub a caminho dos seus
sucessos. Dez segundos depois explodia contra as fortificações do
Mal, libertando logo ali gulosa fumaça. Festejou-se um pouco e logo
foi dada ordem para o segundo ser lançado. Nova missão conseguida,
e novos comoventes festejos. Estava-se nisto quando Leos, o Menino
pediu permissão para ser o primeiro a invadir por terra os aposentos
da crueldade. Sérgio, o Belo aquiesceu e lá foi Leos, o Menino
muito ligeiro e contente. Já tinha ele partido há quarenta segundos
quando Menino, o Napalm achou por bem perguntar a Sérgio, o Belo se
não seria melhor auxiliar Leos, o Menino, pois não se sabia que
cousas poderiam ali suceder. O Mestre sorriu e acenou a cabeça em
sinal de aprovação. Menino, o Napalm logo se fez à aventura, dando
bondosas chicotadas no seu cavalo que também bondosamente
relinchava. À medida que se ia aproximando do Castelo, o cheiro a
fumaça ia ganhando espaço nas suas narinas e o som de várias
gritarias nos seus ouvidos. Passou a ponte levediça, saltou do
cavalo e por entre pilhas de tijoleira rachada e intensa fumaça
embrenhou-se nos corredores que davam para as masmorras. Lá chegado
viu aberta a porta da cela do menino Cinema Livre, este desmaiado
no porco chão e Haneke, o Montanhês a ser agredido na cabeça pela
coronha da pistola de Leos, o Menino. Este deu pela presença de
Menino, o Napalm e parou um pouco o justo castigo, gritando que "a
vitória está garantida, caralho!". Haneke, o Montanhês
escorria sangue e com dificuldade se levantou. Para espanto de Leos,
o Menino , o prevaricador começou a esboçar um sorriso por entre a
boca moribunda. " Patético, patético menino...", disse
Haneke, o Montanhês e dois segundos depois Leos, o Menino sentia uma
espada a entrar pelas costas e a sair pela barriga. Esguichou um
litro de sangue pela boca e sentiu uma voz junto ao ouvido:"
agora vai ter com a ilha e o cemitério...". Menino, o Napalm
puxou a espada para cima e abriu ao meio Leos, o Menino que logo
deixou cair os vários orgãos vitais. Menino, o Napalm com o sapato
esborrachou um pouco mais a cara de Leos, o Menino e depois foi
ajudar Haneke, o Montanhês. "Irmão, companheiro...é melhor
sairmos daqui antes que mais estragos te façam". Deram um
abraço de pura maldade e preparavam-se para sair dali quando viram
Cronenberg, o Carnudo à sua frente. " Junta-te a nós, junta-te
ao Lado Mau", disse Haneke, o Montanhês e Cronenberg, o Carnudo
parecia não estar ali, petrificado que estava. Neste rame-rame se
estava quando do nada apareceu Ferrara, o Onanista que lançou uma
faca na cabeça de Haneke, o Montanhês, que logo deitou dois litros
de sangue pela cabeça e morreu. Menino, o Napalm estupefacto ficou e
um segundo depois levava com um tiro no coração, projectando-o de
encontro à parede. Dois litros e meio de sangue deitados à rua.
Ferrara, o Onanista aproximou-se e ouviu palavras sibilantes da desgraçada boca de Menino, o Napalm. Ajoelhou-se e encostou o ouvido à boca mas muito pouco percebia. "Que dizes, malfeitor?". "0 4:44 é estrume...". Ferrara, o Onanista sacou do punhal e e com inusitada sensibilidade espetou-o no olho esquerdo de Menino, o Napalm que esperneou e morreu. Ferrara, o Onanista levantou-se e deu um estalo em Cronenberg, o Carnudo, chamando-lhe coninhas e outras apetitosas blasfémias. Assim se ia quando deram diante de si com Lars Von, o Marteleiro que se preparava para os fuzilar com uma fisga atómica. "E depois vou dar cabo das vossas putas!", acrescentou, mas logo levou com um tiro pelas costas. Era Scorsese, o Traidor. "Bem sabia que ainda eras dos nossos", disse Ferrara, o Onanista. Abraços e carinhos entre todos. "As vossas mulheres...", ainda estrebuchava Lars. Scorsese, o ex-Traidor perdeu a paciência e pontapeou a cabeça daquele até não restar pouco mais que papa Cerelac. Logo ali veio o resto da tropa dos Cavaleiros do Bem, com Ferrara, o Onanista a contar as novidades a todos, para gáudio da malta e em particular de Sérgio, o Belo, não sem antes olhar para o corpo de Menino, o Napalm e murmurar "foi assim que me pagaste...". Tarantino, o Analógico, esfuziante de alegria, procurou Mauzão Digital e encontrou-o na sua privativa casa de banho de cócoras e semi-nu. "Por fim, belzebú!", e rasgou a espada na barriga de Mauzão que imediatamente se fez em pedaços. Cortou-lhe a cabeça e desceu até ás masmorras, onde já se colocava menino, o Cinema Livre numa maca. "Eis uma das cabeças do MAL!", gritou Tarantino, o Analógico e houve vivas e abraços até ficarem cansados de tanta comemoração. Arrumadas as coisas, prontos estavam para regressar. Saíram dali em pouco tempo e atrás só se via fumo e um castelo estourado. Era a vitória.
De noite houve grande festa na Aldeia do Bem. Sérgio, o Belo tinha encomendado quinhentos Frangos da Guia para todos. Muito vinho e sumos e leite cremes. Meninas formosas beijavam e acarinhavam os Cavaleiros, prometendo-lhes devidas recompensas quando a noite fosse mais alta. Algumas levavam fotografias de Anna Karina e Stalin e pediam autógrafos aos seus ídolos, que muito agradavelmente os davam, interrompendo a jantarada se tal fosse preciso. Depois do palco houve balarico gostoso, com Bob Dylan e Marante em emocionante dueto, "The Times are not changing", e todos dançavam e se divertiam. Não poderia haver alegria maior. As assustadas pessoas da Aldeia do Mal pediram autorização para se juntar ao festival do Bem e tal foi dada com espantoso contentamento de todos. Os xailes pretos foram atirados para o ar e os ressentimentos para os esgotos. Assim tudo decorreu até ás duas da manhã, altura em que os deuses fizeram a sua aparição nos céus. Deus Lang, Deus Monteiro, Deus "O Bénard", Deus Ernst, Deus Murnau, Deus Rohmer, etc, num belíssimo concerto de saudações recíprocas. Os deuses sorriam com a vitória das suas gentes. São João Lucas começou a descer das alturas, para histerimos da população. Choros e desmaios. Mulheres a rasgarem as suas vestes e a puxarem os cabelos. São João Lucas aterrou. Fez-se silêncio. São João Lucas despiu as calças. São João Lucas colocou-se de cócoras. São João Lucas fabricou um pequeno esgar de esforço. São João Lucas largava mais uma belíssima boutade. São João Lucas vestiu as calças e começou a voar para de onde veio. As pessoas não aguentaram mais. Houve rebentamento de aleluias e exclamações de gartidão para os céus. São João Lucas, lá de cima, abençoava o seu povo. A sua boutade estava fresquíssima no olfacto de todos. Tesse, o Idiota mandou os medos para os galhos e abocanhou com aprumada bondade a boutade do seu santo. Logo se juntaram variados meninos, cada qual reclamando para si o maior bocado de boutade. Depressa os seus lábios e dentes ficaram imersos em boutade. Um espectáculo de luz e cor e Bem para terminar em beleza uma festa sem igual. E assim terminam estes sucessos.
Como escrevemos no início da publicação destes manuscritos, não sabemos se tais acontecimentos ocorreram e se sim em que época. Contudo, e atendendo a que estamos na presença de autor(es) com preiclitante formação cerebral, somos levados a acreditar que tais narrações tinham o seu quê de muita verdade, pois imaginação seria algo que não abundaria no interior dos escrevinhadores. Mais escrevemos que foram encontrados outros manuscritos, onde, de forma avulsa, eram narradas acções ou acontecimentos bizarros, retratos de uma época onde se vivia muita turbulência. Homens que mal conseguiam fazer amor com as suas esposas devido a pensarem 24h por dia no "mundo em transformação", homens de barba rija que dormiam com película debaixo da almofada com medo que a roubassem, mulheres tão perturbadas que juravam ter visto carros a falarem entre si dentro de uma garagem, e mais outros que o pudor nos desaconselha a revelar, foram alguns dos casos que descobrimos nesses outros manuscritos, que aqui não foram publicados por se revelarem narrativas isoladas e talvez, essas sim, um pouco exageradas para os nossos propósitos. A sua importância deriva do facto de ser mais uma acha na fogueira de um tempo que deve ter sido muito problemático, e que nós, felizmente, temos sido poupados a tais infortúnios. Graças a Deus.
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