segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Frames (23).


Recheado com ervilhas, azeitonas, tomate assado, carnes e diversas especiarias: marchava e bem. Lord of The Flies (1963). Peter Brook

Filme: 2/5 (Criterion #43)



1.Moira Shearer. 2.Anton Walbrook justifica a distinção de classes: o requinte gastronómico na é para todos. The Red Shoes (1948). Michael Powell & Emeric Pressburguer

Filme: 5/5 (Criterion #44. "Her cloud of red hair, as natural and beautiful as any animal's, flammed and glittered like an autumn bonfire. She had a magnificent body. She wasn't slim, she just didn't have one ounce of superfluous flesh."- Powell sobre Moira Shearer.)




1.Rodízio de cereais coloridos para começar bem o dia de labuta. 2.Julia Garner. 3.Kristine Froseth. The Assistant (2019). Kitty Green

Filme: 5/5 (Ao fim de uma vintena de minutos, perguntamos até quando irá The Assistant aguentar o registo entediante, meticuloso, detalhista e ferozmente anti-imediatista com que é encenado o trabalho diário de uma assistente de produção no escritório de um celebrado produtor cinematográfico. Eventualmente, o feitiço hipnótico dielmaniano terá de terminar, e quando damos por isso, o filme acabou. Estremunhados, temos de ir pesquisar sobre do "que é que o filme trata". Aparentemente, é "sobre o clima de assédio moral e psicológico que se vivia nos aposentos laborais do Harvey Weinstein". Desligados de tal insignificância, logo nos recordamos da Julia Garner a esforçar-se para, cautelosamente, retirar um brinco da alcatifa do gabinete do mogul.)




1.Linguagem corporal da família nuclear anglo-saxónica no cinema dos anos 20 do século XXI. 2.Carrie Coon. 3.Oona Roche. The Nest (2020). Sean Durkin

Filme: 3/5



1.Diane Lane. 2.Erin Gray. Six Pack (1982). Daniel Petrie

Filme: 2/5 (Santa Padroeira Diane #1.)



1.Diane Lane. 2.Christine Lahti. Ladies and Gentlemen, the Fabulous Stains (1982). Lou Adler

Filme: 2/5 (Santa Padroeira Diane #2. Dois anos antes de Streets of Fire, já Diane exercitava a sua excitante presença em palco, desta vez aos comandos de uma banda punk (um estilo musical muito honesto e íntegro, paremos de chorar por favor). Uma história clássica: Diane é uma jovem cheia de ideais e princípios éticos e morais inquestionáveis (dinheiro mau! fama má! pureza musical sempre! abaixo os mercados!) que é ajudada por um veterano musical, cujos ideais e princípios éticos e morais inquestionáveis (binho! cerveja! mais cerveja! adonde está o binho?? bagaço onde?) o impediram de atingir outras latitudes na história do rock. Mas eis que entra em cena o destino, mau como sempre: Diane e a sua banda tornam-se famosas, e a sua imagem de rebeldia juvenil torna-se uma sumarenta fonte de negócios para a produtora musical. Oh! Virgindade musical arruinada! Bolsos recheadinhos! Mas os calafrios não ficam por aqui. Com pingos que nos caiem dos olhos, contamos que Diane despe-se, entra na banheira, e eis que o...Ray Winstone- que por uma vez na vida parece ter menos de setenta e cinco anos num filme, embora mantenha o seu look de adepto bêbado do Leeds United- também se despe e entra na banheira com a Diane. É certo que o realizador tem o previdente bom gosto de nada mostrar, mas só de imaginar o elegante e vulnerável corpo de Diane a ser dedilhado pelas rústicas mãos alcoólatras de Ray deixa-nos capaz de fazer justiça pelos próprios pés, ou, de forma ainda mais extrema, de ler um...artigo inteiro da Isabel Moreira.)










1.O sexismo patriarcal a fazer das suas logo nos créditos iniciais. 2.Não, não é um problema de letterboxing, é mesmo a forma que o patriarcado heteronormativo arranjou para apresentar uma importante personagem feminina: sem cabeça e com voluptuoso decote. 3.George Lazenby coloca a imprensa internacional em dia. 4.As supimpas refeições foram sempre um dos pontos altos dos filmes do Bond. 5.Belas a adormecidas: eis como os homens querem as mulheres. 6.Diana Rigg. 7.Lois Maxwell. 8.Catherine Schell. 9.Angela Scoular. On Her Majesty's Secret Service (1968). Peter R. Hunt

Filme: 3/5 (Os mesmos prazeres e deleites de sempre: os convívios de elegância sinistra com o vilão, que tem sempre ao seu dispor os melhores tintos e whiskies do mundo; o recurso de Bond à sua inteligência e aos gadgets de Q. para resolver situações delicadas; os suspiros de Miss Moneypenny, que em casa terá com certeza um vibrador com uma fita adesiva colada e nela escrita "James Bond"; os derretimentos físicos e psicológicos do mulherio- prontíssimo para a ovulação- perante Bond. Prazeres específicos deste filme: a primeira metade do filme passar-se em Portugal, num tempo em que redes de pesca e barquitos de madeira inundavam o Guincho (agenda: ir ao Guincho e comer um bocado da areia pisada pela Diana Rigg). As mesmas chatices de sempre: quando as coordenadas de Bond aceleram para olvidáveis perseguições entre heróis e vilões. Foi assim durante quarenta anos (1962-2002).)




1.Barbara McNair. 2.New York, New York. 3.Britt Ekland. Stiletto (1969). Bernard L. Kowalski

Filme: 4/5 (É como se a amoralidade do To Live and Die in L.A. fosse temperada com o internacionalismo exótico dos filmes do Bond. Tem os diálogos exposicionais que deve ter, e tudo o resto são olhares de contemplação, ação sem ação e relações interpessoais baseadas no mais estrito e genuíno sentido de sobrevivência. Com uma excpção: uma mulher que até ajuda o seu namorado mulherengo e traidor a fugir dos seus perseguidores.)



1.Doga Zeynep Doguslu. Ilayda Akdogan. Tugba Sunguroglu. Gunes Sensoy. Elit Iscan: cinco esplêndidas razões para a República da Turquia permanecer laica para todo o sempre. 2.Não sei o que é, mas descia para o bucho. Mustang (2015). Deniz Gamze Erguven

Filme: 2/5 (Coming of age na Turquia. Existem filmes que tão desesperada e forçadamente tentam passar a sua "mensagem" que, dependendo dos nossos humores e da coçeira no cú, a reação tanto poderá pender para as labaredas da irritação como para um regozijo de condescendência. Mustang cai na segunda categoria. Tudo está no seu devido lugar: homem patriarcal= mau! Esposa do homem patriarcal= cúmplice da malvadez do homem, e ainda por cima contenta-se em ser uma excelente cozinheira e em deixar os lençóis da cama limpíssimos e devidamente engomados. Muninas= vítimas das tradições patriarcais. Apenas querem abraçar não só a modernidade e as liberdades ocidentais como também os six packs definidos dos rapazes da aldeia. Não que estes estereótipos sejam os únicos méritos de Mustang. Com certeza que não. Quando Erguven deixa as miúdas a fazerem cousas de miúdas, sejam elas feitas na Turquia, no Chade ou nas províncias ultramarinas portuguesas, então o filme regala-se na sua própria leveza.)



1.Zoe Pastelle Holthuizen, Lou Haltinner & Yael Meier. 2.Luna Wedler. Blue My Mind (2017). Lisa Bruhlmann

Filme: 1/5 (Coming of age na Suiça. Existem quatro formas de filmar a transformação de uma adolescente de menina "normal" para sereia: 1) através dos desenhos animados; 2) através de uma comédia grotesca; 3) através de um horror épico-sinfónico, escola The Fly; 4) através de um hiper-realismo diarístico, entediante e progressivamente nauseabundo. Não pode é ser através daquela que é, justamente, a aplicada aqui: naturalismo vérité europeu.)





1.JoBeth Williams. 2.Glenn Close. 3.Mary Kay Place. 4.Meg Tilly. The Big Chill (1983). Lawrence Kasdan

Filme: 2/5 (Duas matérias adjacentes a um filme que não temos em grande conta: 1) as reuniões de antigos colegas do secundário deveriam ser um dos vários círculos infernais de Dante. 2) como deve ter sido belo ver os "ideais" dos "60's" serem esfrangalhados e cozidos em lume brando durante a década de oitenta.)



1.Margarida Marinho. 2.Anamar. Uma Vida Normal (1994). Joaquim Leitão

Filme: 3/5 (O que quer o Joaquim de Almeida neste filme? Obviamente, "uma vida normal". A mesma que o Tim Roth busca no Sundown: sol, praia paradisíaca, sopas e descanso, e ainda uma bela mulher como companhia. A diferença é que o Tim experiencia mesmo a sensação de uma vida em câmara lenta, enquanto o Quim apenas a poderá imaginar. Quem, depois deste filme, também devia ter-se reformado para uma ilha celestial com cocos e ninfetas indígenas como parceiras era o Joaquim Leitão, pois foi este o seu último trabalho antes de assinar o pacto de superstardum diabólico com a SIC, que lhe deu a possibilidade de enveredar na carreira como autor das telenovelas Adão e Leva e Tentações. Xô, Satanás!)


Putedo. Shalala Lala (2000). Adam Neutzsky-Wulff

Filme: 5/5 (Quando o Francis Fukuyama escreveu o seu artigo "O Fim da História" no Verão de 1989, em plena época da desintegração do "comunismo" europeu, nas vésperas da queda do muro e na antecâmara do fim da URSS dois anos depois, jamais poderia pensar que a pax euro-americana seria abalada a partir dali. Imponente economicamente, socialmente avançada, tecnologicamente impressionante, militarmente sem adversários de relevo- com o principal derrotado (para sempre?) e um outro que ainda assustava pouco-, o Ocidente caminhava triunfalmente pelos oceanos da prosperidade sem que nada nem ninguém conseguisse parar essa marcha da riqueza. Santa ingenuidade. Não é preciso recuar até ao último dia 24 de Fevereiro, nem ao avassalador crescimento a todos os níveis do "outro adversário que ainda assustava pouco" em 1989 para chegarmos à conclusão de que estes trinta e poucos anos não foram um passeio de rosas e bombocas para o grande hemisfério ocidental. Atentemos nos seguintes dez acontecimentos: guerra dos bálcãs 1992-1995; 9/11/2001; diversos atentados terroristas islâmicos na Europa; Benfica em três finais europeias (embora perdendo-as todas); diversas chacinas escolares nos EUA; Roe Vs Wade revogado; invasão do capitólio em 2021; imigração ilegal; Christophe Honoré torna-se realizador de cinema; crescimento galopante do preço dos maços de tabaco. Contudo, e com algum tremor de mãos, guardamos o 11º acontecimento para o fim, aquele que poderia ter afundado a Europa em rios de indigência e mau gosto senão tivesse havido uma chamada de consciência de todo o povo europeísta: o euro-pop de ambiências tecno-pimba-electrónicas. Como todo o nosso ser desaba ao rememorar os pesadelos sonoros e imagéticos dos 2 Unlimited, da Whifgield, dos Acqua, da Cascade, dos nossos Santamaria, do Scatman John ou da Corona. Nada destes artistas, no entanto, consegue chegar ao mundo de bruxaria vulgar que enfeitiçadamente os Vengaboys conseguiram conjurar durante alguns anos. O seu primeiro single, Parada de Tettas, deu o mote e Shalala Lala seria o canto do negro cisne. Como descrever este mundo? Anões, mamas, fardos de palha, mamas, anões a verem mamas, lutas dançarinas entre tiroleses, mamas nos anões, palha nas mamas, cus de palha, anões de palha, mamas dançarinas, lutas de palha, polícias nazis: um dos espetáculos mais decadentes da civilização ocidental desde o The Night Porter. Do mesmo país de onde surgiram estetas como Vermeer, Rembrant, Van Basten ou Bergkamp, nasceram estes flautistas delicodoces que quase levaram um continente inteiro à ruína musical. Felizmente que tal não sucedeu, os postulados no artigo de Francis permaneceram intactos, e o bom gosto melódico e literário chegou ao continente europeu no dealbar dos anos 2000, com os Coldplay, os The Muse, os Franz Ferdinand ou os Arctic Monkeys. O fim.)

Sem comentários: