quarta-feira, 28 de outubro de 2015
terça-feira, 27 de outubro de 2015
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
Docks of New York (1928)
Já se está em pleno período de lavagem de olhos pré-visualização do próximo Malick, que, presumimos pelo trailer, estará bem recheado de "romantismos" à pita-que-sublima-o-facto-de-ter-a-coninha-com-cócegas-através-do--recurso-a-frases-e-jogos-de-palavras-"poéticas". E nunca ninguém disse que esta maravilha do Sternberg é "o mais belo dos filmes"? Nem que, provavelmente, foi uma das últimas obras-primas da maior década da "história do cinema" (um facto, nada de reaccionarismos)? Não? Então também não o diremos.
"merda enquanto arte"
Hard to be a God, de Aleksey German
Num sketch dos Gato Fedorento (período pré-palhaços do regime), o Ricardo Araújo Pereira é um Primeiro-Ministro profundamente abalado com os "acontecimentos da semana passada", tão abalado que nem encontra vocabulário para descrever os seus sentimentos de aflição. Vai daí, e para se exprimir, inicia uma dança tradicional do Zaire ou da Zâmbia. A mesma problemática poder-se-ia aplicar à minha situação perante os primeiros vinte e dois minutos de Hard to be a God, os únicos que vi de um filme que dura três horas (factuais, a nível mental durará umas quinze). Assim, não consigo identificar as palavras mais certas para descrever o "íntimo do meu ser" em relação a essa vintena de minutos, sendo que até ponderei a hipótese de filmar-me a cagar e colocar aqui o vídeo, uma das boas respostas possíveis perante o esterco (literal) sonoro e visual do filme do Aleksey. Mas isso seria parvo, por isso aqui vão umas atoardas avulsas:
- os dois mais miseráveis filmes estreados este ano (Mekong Hotel e o San Andreas) estão a anos luz da insuportabilidade física de Hard to be a God. E lembro: só foram vistos vinte e dois minutos.Isto em Guantánamo seria sucesso garantido.
- ainda bem que os EUA afirmaram-se a partir do Século XX (e ainda mais a seguir à WW2) como a maior potência cultural do planeta. Imaginamos os soviéticos como vencedores dessa contenda e temos tremores pelo corpo todo: Tarkovskys e sucedâneos enlatados de "cinema enquanto arte" (como este German, como aquele Loznitsa) como âncora de referência do cinema mundial.
- três dos mais luxuosos pedaços de imundície do cinema recente (o Faust do Sukorov, o filme do Serra e este Hard...) são um caso de relação feliz entre conteúdo e forma, pois ambas navegam nas mesmas águas inundadas de merda, sujidade, cagalhões em penicos, cagalhões na boca, lama, sujidade, porcaria, merda ao jantar, etc. O filme do Serra, só para se ter uma ideia do chavascal que por aqui vai, é o mais sóbrio dos três.
- estes vinte e dois minutos do Hard to be a God demonstram o que o velho e malvado Duchamp já andava para aí a dizer sobre a arte, ou seja: não existe. Daí que estas cagalhoadas sejam elevadas a estatuto "artístico", e um filme de uma adolescente japonesa a comer cagalhões saídos directamente do cu de um boi sejam apenas "lixo para mentes perversas".
- voz off arrastada, vozes adormecidas, câmara a agredir o espaço, merda no enquadramento, merda na câmara, merda por todo o lado: Hard to be a God em todo o seu esplendor rectal.
- tal como o Kurt Russel, no Death Proof, tem o seu "black book", eu tenho o meu "white book", onde assinalo "cineastas perigosos para a humanidade", trabalho que entregarei, antes de morrer, para a sociedade. Este German já lá está, juntando-se a ilustres como Serra, Winding Refn, Von Trier e o Sokurov do Faust.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
sábado, 17 de outubro de 2015
É fodido.
Then I was on shaky ground, two of my worlds were colliding, one that contained everything that was good and cool and one that contained principles. Or, expressed in a different way, what I wanted and what I believed in. I was no bloody eco-vegetarian, for Christ's sake! That wasn't what this was about. However, it was where I ended up if I followed the logic of my basic principles.
Knausgard, 4º volume.
Knausgard, 4º volume.
Babett
No primeiro de Maio do ano da
Graça de 2009, depois de verdadeiramente celebrar o dia e antes de o mesmo
terminar com petardos, confusão e polícia de choque, conheci a Babett, que
sabiamente me avistou no meio da multidão e ordenou a um amigo francês (estes
alemães…) que me fosse buscar à rua e levar-me ao primeiro andar de um qualquer
prédio da Orannienstr., onde conversámos e do qual viríamos a descer para
ficarmos num canto escuro do átrio do prédio a comer-nos. O interesse mútuo levou a uma troca de
contactos, que permitiu posteriores encontros, que por sua vez permitiram
aprofundar o conhecimento um do outro, resolver assuntos pendentes do referido
primeiro do Maio e, inclusive, após algum tempo, pasme-se, a visionamentos de
filmes em conjunto. No meu quarto, não antes de termos continuado a resolver
assuntos, mostrei-lhe o City Lights, do Chaplin, de quem lhe tinha falado
apaixonadamente várias vezes. Não conseguirei descrever com exactidão o
aborrecimento que lhe causou essa hora e um quarto, nem sequer me lembro do
título do filme alemão que ela trouxera consigo, uma comédia que ela não via
pela primeira vez e que lhe causou incontrolável riso, ao passo que a minha
incredulidade perante o que ocorria no ecrã se transformou rapidamente em sono, tendo-me virado para o lado e
dormido. Nos quatro meses da nossa breve relação, foram os únicos filmes que
vimos em conjunto. Ainda hoje me recordo desses quatro meses com doçura; se não
estava apaixonado, estava pelo menos certo de que a Babett era uma pessoa
encantadora, com a qual muito me divertia e com quem gostava de jogar tempo
fora. A nossa última noite, a minha penúltima em Berlim naquele ano, foi muito
bonita. De manhã, após um pequeno-almoço incómodo por sabermos que a despedida
nos aguardava, dissemos adeus com um abraço sentido e uns beijos desajeitados.
Ainda hoje a recordo com carinho e os nossos reencontros, principalmente o de
Agosto de 2013, outra vez em Berlim, são cúmplices. A Babett não é filha do
Bénard, mas é ainda assim muito especial.
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