quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

e mesmo depois disto...



...ainda não me desembaracei totalmente do sabor a peixe podre, da nojeira sensacionalista, do circo "experimental" e da diarreia  "técnica" do Leviathan

Baka!





Foi-se o Hisaishi, foi-se o lirismo, despediram-se os jogos lúdicos, acabou-se o melodrama e esvaziaram-se as elipses: Outrage e Beyond Outrage- sobretudo o primeiro- é o yakuza movie no estado mais escarnado, seco e brutal possível, sem qualquer caridade "humanística" a atravancar o caminho. Cada plano é uma escalada de agressões verbais e/ou físicas, onde nem sequer há espaço e tempo para "construções de tensão através da palavra" à lá Tarantino; bojarda atrás de bojarda e só respiramos para podermos agradecer tamanha violência. São dois filmes, na sua essência, de carácter meramente biológio, já que por estas bandas apenas se come, bebe, fode-se e dá-se vazão ao instinto assassino. Também gostámos muito que uma das personagens mais estúpidas fosse um negro, prova de que Takeshi é um escrupuloso respeitador dos direitos dos negros a serem idiotas e imbecis em filmes. E é nesta arena de pretos estúpidos, japoneses assassinos e comilões, mulheres reduzidas a bibelots e de vário metralhar, que um plano se destaca de todos os outros: é o primeiro de Outrage, que na sua "paz" e silêncio levam-nos ao engano e á ilusão. Entra já para a galeria de excelência do homem. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Viagem a Tóquio
O Gosto do Saké
Barbara
Noiva Prometida
Noutro País
A Rapariga de Parte Nenhuma
A Caça
O Profundo Mar Azul
Like Someone in Love
Guia Para um Final Feliz, Seis Sessões, A Essência do Amor, Fuga

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

50.

Pedir a alguém para nomear os seus doze cineastas preferidos é o mesmo que pedir ao Hugh Hefner quais as suas doze coelhinhas preferidas, ao Rocco Siffredi quais as suas doze partners que mais gosto deu enrabar e mijar ou perguntar ao Dr. Dias Loureiro quais os doze milhões que mais prazer teve em roubar. É parvo, é mesquinho e altamente castrador. Sendo assim, aqui vai:




e o resto, ao calhas

Luis Buñuel
Eric Rohmer
Abbas Kiarostami
Jean Pierre Melville
Brian de Palma
Yasujiro Ozu
Chris Marker
John Ford
Steven Spielberg
James Cameron
Victor Erice
Charles Laughton
Takeshi Kitano
John Carpenter
Stanley Kubrick
Lisandro Alonso
Martin Scorsese
Aki Kaurismaki
Dario Argento
David Lynch
Jacques Tati
Pedro Costa
Tsai Ming Liang
Leo McCarey
Orson Welles
Paul Verhoeven
Fritz Lang
Frank Borzage
Georges Franju
Agnès Varda
Chuck Jones
Bong Jon Hoo
Pedro Almodovar
Andre Delvaux
Wim Wenders (até 1984)
Seijun Suzuki
F.W. Murnau
Kenji Mizoguchi
Nicholas Ray
Don Siegel
Robert Siodmak
Michael Powell
David Cronenberg
Jafar Panahi
Jean Claude Brisseau
Luchino Visconti
Clint Eastwood





Leonor Seixas


Acabado de rever o INLAND EMPIRE (em muito mais alta conta, e da qual serão dados desenvolvimentos nos próximos meses), tratei logo de exercitar a mente, mormente nestes propósitos: está na altura da punhetinha. Coloquei no google "Leonor Seixas" e deparo-me com informações saborosas, nomeada no segmento "Leonor Seixas aparece nua em Putas Marcianas". Que propósitos infernais vinham a ser estes, pensei eu, e tratei de investigar de forma apaixonada tal assunto. Logo fiquei a saber que Putas Marcianas era uma curta metragem de 2011, de José João Silva. Sucessos ainda mais vantajosos: Putas Marcianas está disponível no Vimeo na sua total e gloriosa duração. Lá me embrenhei. E começa a aventura pelo maravilhoso mundo de José João, a prova viva de que Ed Wood encontrou um corpo em que pudesse continuar a viver. Começa com um genérico em que o título do filme surge em separado, intercalado pelos credits, onde destacamos "Maquilhagem/Cabelos". Terminado tal repasto, o primeiro plano do filme anuncia logo os seus mandamentos: cuzão de Leonor em destaque, numa citação que nos parece descarada do primeiro e único plano de jeito do Lost in Translation, e aqui surge a oportunidade para o nosso primeiro devaneio patriótico: o rabo da Leonor pede meças e até nos parece bem mais frondoso que o da Scarlett. Corte. Um zoom de dois quilómetros e dez segundos na direcção de uma praia, surgindo-nos espantoso diálogo de dois paneleirões. Pareceu-nos o Portinho da Arrábida. Guiraudie está em todo o lado. Surge a Leonor, em bikini. Em contra-picado, desfocada, pedindo um cigarro. As mamas, mesmo em desfoque, parecem doutro planeta, algo que se confirmará para nosso descanso minutos depois. Há um enquadramento em que José corta a cabeça à nossa deusa, numa manifesta vontade de quebrar regras de enquadramento. Ou então é para nos mostrar o que realmente queremos ver, embora isso seja muito redutor, porque a Leonor é lindíssima. É a partir deste ponto que qualquer sinopse sobre Putas Marcianas torna-se absolutamente inútil perante tantos e tão saborosos maravilhamentos. Desde planos em que a acção é cortada a meio, até outros em que a câmara é tombada e assim vamos indo, outros em que a iluminação está ao nível de um espantoso filme caseiro em dia sem electricidade, passando por fatos marcianos na Serra da Arrábida, uma cena de foda ao ralenti entre a Leonor (que aqui ainda mostra mais do que as portentosas tetas de que dispõe) e um dos gayzões e em que o background sonoro é o som de uma hospedeira a informar os passageiros das medidas de segurança, e mais, mais, muito mais. É, além disso, um glorioso inter-rail turistico, pois vamos da Tabacaria do Rossio até ao Diário de Notícias em menos de cinco segundos, e mal refeitos disto, já estamos na Arrábida outra vez. E a tentativa de reconstituição, com outra bela rapariga em cuecas e mamalhal desprovido de suporte, do momento em que um dos homossexuais viu pela primeira vez a Leonor? (o tal plano em contra-picado/desfocado); o Augusto M. Seabra que não veja isto, senão ainda pára de queimar cuecas em ritual satânico contra o de Palma, e trata logo de enveredar uma fatwa contra o pastiche Vertiginiano de tal cena. Terminamos em tom de lamento e em modo, uma vez mais, patriótico: o que tem de fazer a nossa bonita Leonor, que vive há uns anos em Los Angeles, para ter oportunidade num qualquer filme mainstream americano? Nem pensamos em qualquer cousa de significativo, pode ser um Fast and Furious 11 ou 12. Se qualquer gaja de qualquer nacionalidade já por lá passou, porque não dar oportunidade a quem realmente merece? Até podia fazer de peruana, assim a versão feminina do Joaquim de Almeida. Ou então, ainda melhor: Argento, porque não vens aqui pescar? Já estamos a imaginar a Leonor como polícia, dobrada pela Jasmine Trinca, e que vive com a Daniela Ruah, e em que a Daniela Ruah é chacinada por um gajo/gaja de luvas, que no fim viriamos a saber era a Catarina Wallenstein, danada de ciúmes, num panteão lusófono de sexiness e beleza sem paralelo. Era, pelo menos, o que eu faria, se me calhasse o euromilhões; com split screens, cabeleiras louras, cigarros, grandes planos de olhos e tudo. Para depois o Augusto M Seabra queimar mais um saco cheio de cuecas em novo ritual malévolo, antes de ir mudar a chupeta do Tocha. 

Here comes Randy. He's alone. What's his problem?


Código Hays:

Don'ts and Be Carefuls:

[...]

11. Sympahty for criminals

[...]

Parece-me evidente que se The Tall T tivesse sido realizado uns quinze anos mais tarde, jamais o Buddy teria permitido que o Richard Boone tivesse dado a meia volta final. E se fosse nos dias de hoje, então, tal questão nem se colocaria, pois o homem seria impedido de filmar por se recusar a vergar à "câmara-parkinson". 

GTA Vice City


Como diria o fabuloso Sérgio Santos: O amor é lindo.

E uma mulher com baton vermelhão e ligas ainda mais, acrescentarão os pecadores.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Miguel Marias, Senses of Cinema

C) Very good films seen for the first time, made since 2008
Promised Land (Gus Van Sant, 2012), Age Is… (Stephen Dwoskin, 2012), Història de la meva mort (Story of My Death, Albert Serra, 2013), Like Someone in Love (Abbas Kiarostami, 2012), Nugu-ui ttal-do anin Haewon(Nobody’s Daughter Hae-won, Hong Sang-soo, 2012/3), San zimei (Three Sisters, Wang Bing, 2012), Before Midnight (Richard Linklater, 2013), Muisteja (Pieni elokuva 1950-luvun Oulusta)/Minnen (En liten film om Uleåborg på 1950-talet) (Remembrance: A Small Film About Oulu in the 1950s, Peter von Bagh, 2013), Ohjaaja matkalla ihmiseksi-Mikko Niskasen tarina (The Story of Mikko Niskanen, Peter von Bagh, 2010), Jean-Luc Godard: Le Désordre exposé (Céline Gailleurd & Olivier Bohler, 2012), L’Inconnu du Lac (Stranger by the Lake, Alain Guiraudie, 2013), La Vie d’Adèle: chapitres 1 et 2 (Blue is the Warmest Colour, Abdellatif Kechiche, 2013), Eloxio da distancia/Elogio de la distancia (Praise of Distance, Felipe Vega & Julio Llamazares, 2008), We Are What We Are (Jim Mickle, 2013), Cinco elementos sobre cualquier universe (Ideas sobre paisaje) (Mercedes Álvarez, 2010), Celluloid Man (Shivendra Singh Dungarpur, 2012), Flight (Robert Zemeckis, 2012), My Son, My Son, What Have Ye Done (Werner Herzog, 2009), La casa Emak Bakia (Oskar Alegria, 2012), Saddle the Wind (José Oliveira, 2013)

le beau Serge

Acabado de ver o mediano/medíocre Gravity (tanta sopinha, santo Deus), tive de ir lavar os olhos com um texto de Sérgio Santos, o homem que faz as mais interessantes críticas de cinema neste país (quer dizer, é o meu preferido, o que pode não significar, necessariamente, que seja o mais interessante do país. Mesmo sendo). Recomendamos vivamente. Aqui está, por exemplo, sobre Conto de Verão, do Rohmer:

Comentário : Este filme faz parte de um conjunto de quatro filmes que compõem os contos das 4 estações, todos realizados por Eric Rohmer. Este “Conto de Verão” é um simpático filme sobre um homem que terá 3 lindas mulheres a seus pés e que terá que optar por uma delas. Desconhecia todos os atores do filme e fiquei satisfeito com as interpretações do personagem principal e das 3 moças. Amanda Langlet e Gwenaelle Simon são duas raparigas muito atraentes e muito bonitas. Gaspard é um homem de uma indecisão bestial, confesso que fiquei fascinado com o seu final. O filme tem muito de cinema e a realização é excelente, com uma maneira de filmar e um ritmo parecido com a famosa trilogia de Richard Linklater. Neste filme, não faltam raparigas de bikini, praias e muita diversão, tudo coisas tipicas do Verão. Mal posso esperar para ver os restantes contos.


ou sobre Clockwork Orange:

Comentário : Apesar de não gostar muito do cinema de Stanley Kubrick, tenho que confessar que gosto muito de 3 filmes seus : “De Olhos Bem Fechados”, “Barry Lyndon” e este “A Clockwork Orange “. Este último é um filme muito bom. É curioso vermos como uma pessoa muda tanto. O filme é uma obra prima do cinema, apesar de não ser o melhor de Kubrick. O filme tem uma excelente banda sonora, planos de camara espectaculares, boas interpretações e um poderoso argumento. No entanto, não gostei de algumas coisas, por exemplo, as vestes dos 4 criminosos são ridiculas, principalmente Alex que fica ainda mais ridiculo com aquelas pestanas postiças. O filme levanta a questão : podemos combater a violência com mais violência ? Aparentemente, com Alex isso funcionou, ou talvez não. Já vi este filme algumas vezes e é sempre um prazer vê-lo. No entanto, na minha opinião, a maior obra de Stanley Kubrick continua a ser “Eyes Wide Shut – De Olhos Bem Fechados”. Classificação : 4.

ou então sobre o Romeu e Julieta do Lurhmann:

Comentário : Publico o meu comentário a este filme, porque foi o primeiro que vi no cinema, completamente sozinho. Na altura, tinha 16 anos e ainda me lembro que foi em Maio de 1997. Senti-me a pessoa mais responsável do mundo, foi um dos dias mais importantes da minha vida e tomei-lhe o gostinho. Ainda me lembro que foi nos Cinemas Palmeiras, que entretanto já encerraram portas à alguns anos. Na altura e porque era um rapaz romântico (ainda sou), adorei o filme, embora achasse que havia um certo exagero no modernismo. Adorei os diálogos e gostei de ver a bonita Claire Danes vestida com umas asas. Havia uma canção que eu fixei na minha mente, chamava-se “Kissing You” e era cantada pela Des'ree, uma canção linda. Daquele tempo, ainda considero o Amor como o melhor sentimento que existe, seja sentido de que forma for. Foi também neste filme que descobri Leonardo DiCaprio, mas mal sabia eu que o rapaz já fazia filmes em criança. Na altura, se tivesse o hábito de classificar os filmes, tinha-lhe dado um 5, mas vou ter que lhe atribuir um 3. Ainda assim, é um filme bonito que é um verdadeiro hino ao Amor. Classificação : 3.


terminamos com um belíssimo texto a Enter The Void, filme que só eu e o Sérgio gostamos, o que certamente terá que ver com os planos de câmara bem "apetitosos":

Comentário : Antes de mais, quero aqui dizer que tive a sorte de visionar a versão extensa do filme com cerca de 160 minutos e não a versão de 135 minutos que deambula pelas salas de cinema nacionais. Depois quero dizer que, ver este excelente filme, foi uma das mais magnificas experiências cinematográficas que alguma vez tive, trata-se de um dos melhores filmes que vi este ano, apesar do filme já ter sido feito em 2009. O cinema de Gaspar Noe (com somente 3 obras no seu reportório) é assim, ou se odeia ou se ama. Pessoalmente, já tinha amado o seu segundo filme (Irreversible) e amei igualmente este “Enter The Void”. Este tipo de cinema experimental e super alternativo, em especial este “Enter The Void”, não é para a maioria do publico, é um tipo de cinema muito raro, arriscado e caminha em terreno pantanoso. Ouvi relatos de conhecidos meus que viram pessoas a sairem da sala de cinema, durante a projeção. O filme está filmado todo ele de forma muito peculiar e nunca antes vista, sendo os primeiros 25 minutos de fita, mostrados sob o ponto de vista de Oscar, ou seja, as imagens apenas mostram o que o protagonista está a ver, a tal ponto que a imagem até pisca, fingindo serem os olhos dele. A ação do filme não é linear nem cronológica, vai deambulando entre épocas, entre o que se vai passando depois da morte de Oscar e aquilo que de mais importante se passou no seu passado, e nesta época os principais focos são a excelente relação de cumplicidade entre Oscar e a sua irmã Linda; o brutal acidente que os dois irmãos presenciaram em crianças que vitimou os seus pais e que lhes provocou um trauma profundo e, por último, realça também alguns momentos da infância de Oscar e Linda, originando bons momentos de ternura. Outro destaque para a excelente fotografia, para os apetitosos planos de camera, todo o filme parece uma trip de duas horas e meia. Um último destaque para as cenas de sexo, muitissimo bem filmadas, repletas de angulos de filmagem únicos, por vezes, me perguntava como é que o realizador conseguiu filmar certos planos, por exemplo, sempre que nos mostrava as imagens vistas de cima sobre a cidade ou a forma como invadia os quartos do hotel do amor e penetrava directamente nas relações amorosas dos casais. Uma obra única, sem igual, mais do que um filme obrigatório, “Enter The Void” é uma obra prima do cinema alternativo. Classificação : 5.



segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Fora de campo

Não é sem emoção que chego ao pico dramático de "Angels With Dirty Faces", Curtiz de 38. Cagney, no corredor da morte a dizer que não ao pedido do seu amigo de sempre, o padre de Pat O'Brien, o de se mostrar com medo de morrer, impedindo a sua glorificação enquanto gangster por parte dos adolescentes lá do bairro. Na última vez que vemos Cagney, este tem ainda estampado no rosto o despeito, a confiança, a coragem.


Até que, com Cagney já fora de campo, começamos a ouvi-lo: diz que não quer morrer, que não o matem. Ora, podemos muito bem pensar que no plano acima, naqueles olhos, está o Cagney brincalhão do resto do filme e que aceder ao pedido de O'Brien foi sempre sua intenção. Mas nessa magnífica sequência que é a da sua execução (sombras, um homem a chorar, música de nos elevar ao céu, pessoas observando impassiveis, o carrasco de rosto opaco) há um plano que me deixa alerta:


Terá Cagney feito maravilhosamente a encenação do medo que não sentia, agarrando-se ao máximo aos objectos para atrasar a sua morte? Ou, o que prefiro pensar, é o pudor de Curtiz que, ambiguamente pondo o rosto de Cagney fora de campo, desmistifica o herói, dá-nos o seu arrependimento, permite-lhe a paz e tira a dirty face deste anjo?

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Leviathan: o triunfo do "sensorialismo", do "hyper-realismo", da filha do putismo e dos cinemas- GO-Pro e smartphone.


Vai ser um prazer "destruir" este filme com alguma da linguagem mais viperina que já se viu neste blogo. Só para começar: o rasto de prestígio, prémios e cabeças de lista de tops que esta lixeira a mar aberto tem granjeado vem provar que não foi o cinema que acabou, mas o próprio mundo, e nós continuamos iludidos a pensar que estamos em grande paz. Agora, vamos escrever um pouco sobre um gajo chamado Zé Mário (nome fictício) e um porco.

O Zé vive para os lados da Nazaré, mas como tem aqui na terreola família chegada, passa por cá umas duas semaninhas no Verão e uns dias no Natal. No Verão passado, o Zé disse, a mim e a quem por lá estava, que ia comprar uma "daquelas câmaras que parece que estão coladas ao corpo". Alguém avisado, que não eu, disse:" Ah! Uma Go-Pro". E depois outra pessoa, pouco avisada e que por acaso era eu, acrescentou que "já que tens um quintal por lá, coloca a câmara num dos porcos para vermos como é". E o Zé lá foi, voltando há dias para aqui. Então o Zé, que também gosta de bodyboard, mostrou-nos no seu laptop "impressionantes" imagens da Go-Pro "colada ao corpo" enquanto fazia bodyboard. E eu, espantado com tal espanto, afirmei que aquilo ainda era melhor que o Point Break, ao que o Zé acrescentou, "sim, e também faz lembrar aquele filme de surf com o Keanu Reeves!". Depois acabavam as imagens marítimas e aparecia uma algaraviada suína com o enquadramento ao nível da lama e da palha e dos restos de merda de galinha e patos e música insultuosa e soez como pano sonoro. "Não me diags que colocaste mesmo a câmara no porco?". "Ah pois!". E lá se viam "enquadramentos" à chapada, câmaras ao roliço, onde havia grande dificuldade em saber sequer por onde andava o porco. Estranhamente, esqueci-me de avisar o Zé Mário de que isto deveria ser enviado para qualquer festival "independente" ou "documental". Com um bocado de sorte, ainda passava pelos olhos da Brenez, que afirmaria, entusiasmada e antes de ir mudar o penso, "de que estas imagens são o contraponto sujo e imundo ás técnicas artificiais e sépticas dos dias de hoje. Agora calem-se, que vou ver um filme grego de 1645, para ver se o coloco no meu top de 2014". Agora voltando aos filhos da puta:

Sim, vocês, Lucian Castaing-Taylor e Véréna Paravel, seus labregos. Nem sei por onde começar. Bom, pode ser pela "mensagem" que vocês pensam que estará soterrada na vossa imunda tralha audiovisual. Salta logo à vista a ladaínha do "ai o homem, tão predador e maquinal, bla bla bla". Isto enquanto na rodagem do filme comiam carapaus fritos. Depois a montagem do filme, que parece ter sido deixada a cargo de um macaco deficiente e desprovido de visão. E se o ilusório desleixo da montagem (planos que se seguem a outros sem critério algum, mas isto é "experimental, meus senhores!") já seria motivo para tu, Lucien, seres violado por quatro elefantes, e tu, Véréna, seres violada por mim (com uma Go-Pro na minha testa, relembrando o saudoso Strange Days), o que mete ainda mais urticária é como tudo é feito com o cuidado de encher de efeitos e "sopa" a mente do espectador, para o "imergir" num repugnante mar de "sensações". Porque é que não enfiam as vossas Go-Pro nos vossos olhos do cu, aquando da caganeira, para assim, sei, lá, a Brenez, enquanto muda o tampão, afirmar, peremptória, que "estas imagens destroem de forma subliminar a correlação de forças existentes entre a realidade e a ficção. Agora calem-se, que vou ver um dos primeiros filmes caseiros do Thomas Edison, para ver se o coloco no meu top de 2014". Aliás, voltando à "sopa": isto não é só "sopa"; é sopa, é nestum, é duzentos caldos verdes com um kilo de chouriça em cada um, é sopa da pedra, etc. E a "recusa em estabelecer espaço e tempo, para assim castigar, e bem, o espectador, que ficará desorientado?". AHAHAHAHAH. Boi e vaca: isso é só masturbação. Se querem aprender alguma coisa sobre "desorientação", vejam o Aliens do Cameron. E aqueles close-ups inanes nas caras e ombros dos pescadores, a mostrar o "suor" e a "máquina" em andamento? Para estes dois, tudo é lixo: pessoas, peixes, caranguejos, gaivotas, tudo como prato para grande espectáculo de "realismo" e "tema". Véréna, usas ligas? Que diria o velho Franju do Le sangu des bêtes deste pedaço de poia? Que dirá o barbudo Brakhage  do The Act of Seeing with One's Own Eyes? Para juntar na mesma cómoda dos Reygadas, Von Triers, do Faust, do Grandmaster, dos Refns e de toda essa escória "sensorial" que me tem assaltado à mão desarmada nos últimos anos.