sábado, 30 de novembro de 2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

só dá Argento (6 de não sei quantos)


E Dario, na sua demência, teve uma ideia: colocar, por debaixo dos olhos do espectador, alfinetes colados a fita adesiva, para o obrigar a não desviar o olhar perante o abundante jorro de gore. Por razão desconhecida, o processo jamais entrou em acção, mas Argento tratou de o incorporar no rejubilante e febril Opera, filme de contornos de pura ilógica (mesmo para o standard do cineasta), com um final, sobretudo, proveniente de um universo paralelo, cujo GPS estará algures entre o seu filme anterior, Phenomena, o Sound of Music e a casa de férias de Hitler na Baviera. Por entre o absoluto terror de ter de olhar ao de não puder olhar, Opera deve ser um dos filmes com mais close ups de olhos, iniciando-se tudo com um de um corvo, exemplo de bicharia justiceira e com amor pela ordem das cousas; na mais imaginativa e sensacional morte, Daria Nicolodi encosta um dos seus olhos a um buraco de fechadura, e depois é material que muuto justamente deveria ser lendário a nível das "histórias do cinema" (aliás, estamos a elaborar um projecto, intitulado "The Story of Film: let's make some name dropping", e que durará 25 horas, onde este momento em Opera será devidamente enquadrado com um excerto de um excerto de um excerto de um texto de Roland Barthes, singelamente intitulado "João Lopes"). E como perverso que é, Dario embrulha o horror num romantismo ingénuo (Cristina Marsillach, séxe e angelical- apenas beijinhos), o que resulta em grande fervor dramático, com grande relevo para uma banda sonora onde se alterna hard rock à Iron Maiden e épicas lullabys instrumentais de Simonetti e Wyman (cuzinho lambido, de bom grado) carregadas de luminosidade "inocente". E um filme onde uma das personagens tem de se passar por puta sádica para se salvar, passando por uma câmara que quase parte ao meio diversas personagens, tem de ter sempre qualquer coisa de especial. 


agora a sério:

- em quantos filmes entrou o James Franco nos últimos doze meses?

os ombros...


...de Vera Miles em Autumn Leaves, de construtor civil Robert Aldrich. Vertigo, com ela, não seria apenas e só "o melhor filme de todos os tempos", mas sim "a maior obra da história da humanidade". Mais fria e de recortes ainda mais misteriosos que a desengonçada Kim Novak. Mas para a história, entre outras cousas, ficará aquele espanto de olhar perante Norman Bates de cabeleira, como quem diz:" This is not happening! This is America!". Vive na California; esperemos que em constantes e reconfortantes chás com a Joan Fontaine.

Kings of the Road


terça-feira, 26 de novembro de 2013

voltamos dentro de momentos

Fernando: a técnica futebolística de uma idosa raquítica e com bicos de papagaio; mesmo os passes certos saem errados; recepção de bola ao nível do homem sem braços e pernas de Freaks; personagem de: Browning, extra como escravo sulista numa produção de grande orçamento do Selznick.

Licá: Lang, Kurtz e Arendt chorariam pelos verdadeiros horrores que passam por aqui: a bola, nos seus pés, não sai quadrada, antes em formas geométricas ainda não descortináveis pelo ser humano; a sua recepção de bola desafia as conhecidas leis da gravidade; dispara em correrias que só não param fora do estádio porque tem um chip no cérebro que dispara a tempo de o fazer parar; personagem de: Browning, extra como presidiário num dos filmes-prisão do Seagal ou do Van Damme.

Varela: o verdadeiro MEDO; Carpenter, Poe, Henry James, Lewton e outros mestres tremeriam de joelhos perante tamanha aparição; a sua mera entrada em campo dizima em segundos a sanidade mental de pessoas mais ou menos normais; o mero correr desfaz em papa seres humanos de barba rija; faz Licá parecer Murnau; personagem de: Browning, A Origem do Mal, A Origem das Espécies.

Ricardo: a caminho da glória dos seus três anteriores amos; a sua desorientação estará possivelmente relacionada com o desaparecimento das abelhas; falta-lhe ainda, por exemplo, a legitimada e consagrada ultra-malevolência de Varela, mas com pouco ou nenhum esforço atingirá os seus propósitos; não faz a mínima ideia do que é uma bola; personagem de: understudy de Varela.

Lucho: um digno exemplo de lustrosas relíquias do passado: longe vão os tempos da sua memorável estreia num River- Boca, em 6 de Março de 1911, e o seu auge, alcançado em plena Lei Seca, parece também já se dissipar mesmo na memória dos mais vetustos; um dia destes desfaz-se em pó no meio do campo; personagem de: filmes históricos de De Mille, George Romero.

Antero Henrique: desde pequeno que sonha com defesas de nove milhões para cima e avançados de -9000 euros; só atinge um orgasmo quando se imagina a rubricar um contrato de um defesa central de nove milhões; quando era mais novo, as suas irmãs traquinas, para o chatearem, colocavam posters de Cruyff e Gerd Muller no seu quarto, levando-o a ter pesadelos; prefere ver trocas de bola entre Varela, Ricardo, Kelvin e Licá a jantar com a Scarlett Johansson; personagem de: "Tio Patinhas e os avançados".

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

como eras grande, Wim






nada temos contra quem gosta de pescada cozida, mas...

Gostamos de coisas seguras, de saber que há tradições, costumes e regras imutáveis. Por isso, conforta-nos saber que em 2.5 textos de três sobre blockbusters, João Lopes faz uma referência ao Jaws. Vamos já especular o que escreverá Big John aquando da estreia de José Padilha's Robocop:

Que aconteceu ao cinema de grande espectáculo de Hollywood, senão uma mera repetição de fórmulas gastas e onde os efeitos digitais se sobreposeram à dimensão humana? Não nos levem a mal: nada temos contra blockbusters e suas especificidades narrativas, aliás, um filme como Jaws, de Steven Spielberg, demonstra como é possível conciliar uma inegável escala épica de acontecimentos com um luminoso retrato humano. No limite, e em boa verdade, e parafraseando Deleuze...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

sá dá Argento (5 de não sei quantos)


Não sei se observar o rosto da Jennifer Connelly em Phenomena dará anos de vida a qualquer homem ou a qualquer mulher apreciadora de women of the same sex, mas que fará este filme do Argento ser imperdível só por isso já não temos dúvidas. Há uma sequência de grande beleza em que a Jennifer segue uma mosca-guia (a bicharia em Phenomena, por entre macacas altruístas e diversos insectos, é amigável e contacta por telepatia, ideia aflorada no Profondo Rosso) por entre um vale, e se é certo que só o Dario para dar credibilidade poética a um episódio de tamanho potencial ridículo, o que é verdadeiramente notável é que poderíamos estar a ver a Jennifer a fazer qualquer coisa em Phenomena, desde andar atrás de gambuzinos ou a votar PSD. Quando, perto do final,  a sua cara fica refastelada em merda ou em lama, podemos dizer que não só continua bonita como essa graciosidade facial ainda sai mais reforçada. Com grande esforço se pode referir a existência de outras cousas, como a faceta de profunda vigília do filme e respectiva carga hipnótica, para além da óbvia confirmação que Argento masturba-se a imaginar adolescentes americanas em grandes trabalhos numa Europa soturna e psicopata. E torna-se claro que, para a Jennifer não gostar disto, só poderá ter havido grande falta de tacto e bom senso de Dario e provavelmente do fantasma de Mario Bava, que com as suas luvas, as suas navalhas, e um dildo...







el gato


Entrada directa para o top-17 da década passada.

notícias de 2013










Post Tenebras Lux começa com uma sequência de maravilhamento infantil pelas "coisas lindas" da natureza, com os rebordos do enquadramento em permanente blur, algo que vai estar sempre em evidência até ao fim, não se sabe porquê. Depois aperece um demónio com uma caixa de ferramentas. E depois começa o filme. E quando começa o filme, o Reygadas quer criar mood, que fazer o "espectador pensar", perdido num puzzle de sequências com vagos pontos de contacto entre elas, para mostrar que a narrativa tradicional é uma filha da puta que só os imbecis poderão abraçar. Há gordos e caralhos de gordos (já em Batalla en el Cielo os havia, isso é fetiche, Carlinhos?), pinheiros a cair, assaltos, e uma gaja que não quer apanhar no cu. Não passa nada da cabeça do Reygadas para o espectador, ou seja, eu. Não é tão irritante como esperava, apenas tão indiferente como olhar para um quadro preto exposto numa floresta negra à meia noite sem lua no céu (apesar das duas primeiras sequências).

A melhor actriz do mundo mete-se no colete de forças de Camille Claudel e depara-se com um maralhal de deficientes, desdentadas e directores de prisão que parecem mortos-vivos. Filme de grande solidão e de não poucos silêncios, quase sempre a fazer do rosto da Juliette a chama dos seus encantos. Rosto que serve para um ou outro momento discutível, quando o Dumont enquadra Claudel com um plano fixo de uma das desdentadas-tolinhas lá do sítio. A empatia surge no filme, com um diálogo entre as necessidades mundanas de Claudel e as correntes divinas do seu irmão. Pão e lareira vs Deus Nosso Senhor. Escusado será dizer por quem torcemos.

Pain and Gain é o mais próximo que Michael Bay estará de fazer um filme para maiores de nove anos ou para quem tenha q.i superior a 15. Uma espécie de prolongamento da inesquecível sequência do Boogie Nights em que o mesmo Wahlberg, o John C. Reilly e o Thomas Jane se enfiam na casa do Alfred Molina, com uma tensão e um humor a raiar o negro que jamais suspeitariamos que o Bay fosse capaz de manejar. O arsenal habitual está lá, mas esse nunca foi o grande cancro do Michael: a ausência de tempos mortos ditada pelo estilo Bay, algo como um TGV sem travões, faz grandes encantos por aqui, a que se poderia acrescentar o diálogo surdo entre o american way of life (que Bay eleva em todos os seus filmes) e uma sua crítica, algo que suspeitamos que tenha escapado ao próprio gajo. Dwayne Johnson é Deus.

The Lone Ranger seria entretenimento meramente comestível e sem grande dano para a saúde, senão tivesse Depp e um genérico final que é uma maravilha. É verdade que já vimos este Depp naquela coisa dos piratas e nuns quantos Burtons, mas o que é bom nunca cansa, e antes ver esta repetição eterna a saborear pela primeira vez qualquer coisa que tenha Joss Whedon no nome. Quanto ao genérico final, e que dura aproximadamente onze minutos (cada vez mais longos, autênticas curtas-metragens), é já o mais belo do cinema americano desde o do Gran Torino. Depp é Deus.

Há filmes tão miseráveis que é com grande prazer que escrevemos sobre eles. Man of Steel tem dois dos maiores cagalhões do cinema actual nos seus comandos, e o que podemos dizer que é nenhum deles deixa por cu alheio as suas credenciais. O filme é meramente uma merda até ao último terço, com desvirtuação da mitlogia supermaniana para se mostrar que no cinema dos blockbusters também há lugar para estas "inovações"; até aflige a ausência de qualquer tipo de irrisão nisto. Mas é a partir da luta final entre o homem de aço (inútil Henry Cavill) e o Zod (Michael Shannon é Deus) que o nosso coração brilha de alegria perante tanta nojice filha da puta: 20 minutos (ou três horas, não importa) de pancadaria ininterrupta ditada por uma montagem de alguém que faz o Bay ou o Tony Scott parecerem meros aprendizes de Bresson, sem qualquer plano que tenha um grama de peso, meu filho da puta Snyder e meu cabrão Nolan, não há quem vos faça a folha? E o plano do Superman depois de enviar para os anjinhos o Zod, um grito de desespero e de sacrificio, ui, tanto peso na alma e tão torturado que ele é? E, ainda pior, o que fizeram à Diane Lane, com uma maquilhagem fantasmagórica de prisoneira numa cela para lesbianas? Filme bom para jovens passarem por eruditos e dizerem, enfatuados, "eu gosto é de filmes complexos, como o Man of Steel" .Sois uns filhos da punheta.

O George Costanza dizia que numa reunião de trabalho era capaz de ter uma ou duas observações, mas que no final estavam enterradas num vasto oceano de banalidades e gaffes. The Innkeepers quase consegue tal desiderato, e só não o alcança na plenitude, porque os seus bons momentos são tão bons que quase fazem esquecer toda a porcaria inane que por ali vai, desde uma Kelly McGillis saída de um manicómio a comédias completamente descabidas, passando por esse verdadeiro horror que é o momento em que a Sara Paxton vê o seu colega punheteiro em plenas cuecas, cheias de sumptuosa nanha, desconfiamos. Mas há por lá, também, a Sara Paxton sozinha no hotel a tentar captar sons do além, lembrando-nos o Travolta do Blow out, ou a Sara e o punheteiro na cave, em que o Ty West nos dá a não-ver um dos grandes não- contracampos dos últimos tempos, para grande terror do punheteiro de óculos (o do filme, não eu). Ty West, dá para ver, é alguém com certo talento para estas ambiências de medo, mas que se deixe de comic reliefs e demais caralhadas. 

Um homem com h grande define-se em certos momentos, e um deles, e talvez um dos mais difíceis, é admitir que gostou (e não pouco) de um filme da filha do Coppola. O seu cinema de pochette e sapatinho tem aqui o seu verdadeiro ponto de equilibrio natural, pois não há quase mais nada que pochettes, pulseiras, sapatinhos, fúteis betinhas, casacos, etc. A sua recusa em escavar as razões do comportamento desta pitolândia é outro grande plus, bem como o carácter repetitivo do filme, passado ora entre roubos ora em esfuziantes clubes nocturnos ao som de ritmos da moda. É uma maravilha de superficialidade e de amoralidade que é sempre bem-vinda nos nossos corações. Emma Watson é Deus.

The Conjuring, colheita James Wan, sucede ao inane Insidious, e sucede bem. Filme com a originalidade de uma fotocópia 456 de um documento do Ministério das Finanças, e nós ralados: barulhos de portas, caves, relógios grandes, mulheres vestidas de noiva (obs: em Innkeepers também há e em Insidious também havia fantasmas de noivas; será uma espécie de horror subsconciente pelo casamento?), bonecos de ventríloquos e demónios com voz à Bruno de Carvalho (nunca há demónios com, digamos, a voz da Joan Fontaine), mas com o método slow-burning sempre criteriosamente mantido em tonalidades bem dignificantes para os nossos neuro-transmissores. O payoff é rotina, mas até lá há uma paciência que apreciamos, apesar dos clichés (inevitáveis, diga-se). Lilly Taylor é Deus e Vera Farmiga é Deus.

Hannah Arendt é um bom filme para o António Guerreiro fazer textos no ipsilon. É  a banalidade do mal transformada em banalidade no cinema, um cinema inerte e de escuteiro meirim muito bem comportado e respeitoso. Não é um telefilme completamente inútil, pois ficamos a saber que a Hannah apanhava palmadas no cu e recebia visitas nocturnas de um entesado e pervertido Heidegger (numa série de nulos flashbacks). Aquilo que já se sabia sobre o caso Arendt -Eichmann-judeus raivosos fica-se a saber na mesma, sem qualquer contraponto cinematografico que justifique este tempo perdido. Resta-nos Barbara Sukowa, sozinha, a fumar. Há nesses momentos mais vida que nos outros minutos todos juntos. 

Seth Rogen, Michael Cera, Jonah Hill, foda-se. Até apanho lepra só de ver esta maltosa, que nem consegue ser contrabalançada pela presença do grande Franco, da Rhianna e da Emma. Punhetas, charros, peidos, gajas boas, punhetas, mais charros, drogas, punhetas, peidos: é o costume, apenas travestido pela imbecil iconografia do fim do mundo. Já no céu, há punhetas, charros, cocaína, gajas boas e peidos. A única coisa boa nisto é dar-nos a possibilidade de imaginar estes caralhos (à expecção do Franco) todos a serem vítimas de um verdadeiro fim do mundo e a levarem grande sumiço. Sobretudo o Rogen e o seu "sorriso melancólico". James Franco é Deus, Rhianna é Deus, Emma Watson é Deus.


sábado, 9 de novembro de 2013





só dá Argento (4 de não sei quantos)


Tenebrae it's a sexiest novel. Why do you despise women so much?, pergunta uma jornalista ao escritor Peter Neal. Sexiest? No, i don't think it's sexiest, responde Peter. Argento a ver-se ao espelho, e muito contente com o que vê, a justficar-se, na medida do possível, para as groupies de Sontag e companhia. E depois, já de consciência bem tranquila, vem festim, um glorioso festim de purificação e expurgação de comportamentos nada dignificantes: putas, lésbicas, cleptomaníacas, miúdas de mini saia, filthy slim perverts, tudo atirado para o mundo dos mortos, para bem de um mundo melhor e mais cristão (o cristianismo é atirado varias vezes para a arena em Tenebrae). Assassínios com um requinte de paciência e malvadez que deixaria maravilhados os nossos quatro amigos de Saló; e a banda-sonora dos Goblin? Meus filhos, atirem-me com o cd para a campa: sintetizadores-maravilha, vocoderes repetitivos e infernais, cavalgadas electrónicas a destruirem tudo pelo caminho. As cores primárias (à excepção de uns sapatos vermelhos de puro simbolismo putedo-onírico-freudiano) deram lugar ás cores claras, à luz das ruas e dos apartamentos, a um espaço urbano sem bruxas e coisos. O plano final de Daria Ncolodi é o material de que os bonitos sonhos são feitos. Uma pessoa até dorme melhor depois de ver e rever isto. 

TENEBRAE, o mais belo dos filmes:











Grazie, Dario

boas colheitas