quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

José Vilhena- Série 2 (3)


o chesterfield é capaz de aumentar para 3.80.


Em tempo de guerra não se conta apenas as espingardas, o pão, as couves, a água, a electricidade, os lençóis, o vinho, os cadáveres, etc, mas também esse bem essencial que dá pelo nome de tabaco. Numa das mais esplendorosas cenas desse bailado de almas penadas que é Die Ehe der Maria Braun (a pré-produção teve o seu começo no Estádio), Maria atira para cima da mesa um maço de tabaco Camel, provocando sagrado ataque de ansiedade à sua mãe. O afã com que esta vai buscar os fósforos, a crueldade da sua filha em apagar o primeiro quando este se apresta a tomar contacto com o cigarro, e novo histerismo da sua mãe e posterior deleite em dar a primeira passa é a prova de que em tempos de violência há coisas bem mais importantes do que ir para a fila do pão. Em Se Isto É um Homem, Primo Levi e seus amigos não faziam tráfico de pães ou de arroz nos campos que cirandavam bela vegetação esverdeada.

Em Tale of Cinema, do Hong Sang soo, outra maravilha* (a duas velocidades, como diriam os redactores daquela famosa revista de cinema francesa (ganda Mourinha)), não há guerra nem aparentemente falta de cigarros, apenas um conjunto de personagens oral e emocionalmente desarticuladas. Mas por entre os bairros de Seul e de fartos manjares e não menos vinhaça, há um maço de cigarros Marlboro que se torna peça dentro do filme. Uma das personagens até diz "sempre quis fumar um destes", e vai daí sorve aquilo como se não houvesse amanhã. É belo, senhor Fernando Póvoas. Tomai como mandamento os sábios conselhos de Sterling Hayden (genuflexão) naquele filme um pouco obscuro dos anos 50...

* sobretudo os zooms a despropósito, talvez para enviar para a cona da tia aqueles que, mal vendo um asiático a dar primazia ao "austero plano fixo", tratam logo de o equiparar ao Ozu.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

you tube...


...uma invenção orquestrada nos calabouços do Inferno. Até vão ao ponto de nem sequer apresentarem umas folhinhas de apresentação...

Bandidos!

o BEM e o MAL- 5 (de 5)- parte 2 (de2).

Chegados a metade do caminho, e já com o Castelo do Mal na mira, Sérgio, o Belo carinhosamente ordenou que os seus apaniguados ali parassem. Olhou à volta e respirou o silêncio das neblinas matinais. Ouviam-se grilos. O Mestre olhou em direcção de Green, o Paulo Branco e acenou com a cabeça. Este logo entendeu tal prática e da sua saca retirou um controlo remoto com uma antena de cinco metros de altura. Mexendo e remexendo em botões de diversas cores, Green, o Paulo Branco colocou o primeiro drone Straub E-A564 nos ares e pronto para a sua missão. Esperou a ordem do seu Mestre. Este contou mentalmente até cinco e depois sussurou: "deslarga-o!", e logo foi o Straub a caminho dos seus sucessos. Dez segundos depois explodia contra as fortificações do Mal, libertando logo ali gulosa fumaça. Festejou-se um pouco e logo foi dada ordem para o segundo ser lançado. Nova missão conseguida, e novos comoventes festejos. Estava-se nisto quando Leos, o Menino pediu permissão para ser o primeiro a invadir por terra os aposentos da crueldade. Sérgio, o Belo aquiesceu e lá foi Leos, o Menino muito ligeiro e contente. Já tinha ele partido há quarenta segundos quando Menino, o Napalm achou por bem perguntar a Sérgio, o Belo se não seria melhor auxiliar Leos, o Menino, pois não se sabia que cousas poderiam ali suceder. O Mestre sorriu e acenou a cabeça em sinal de aprovação. Menino, o Napalm logo se fez à aventura, dando bondosas chicotadas no seu cavalo que também bondosamente relinchava. À medida que se ia aproximando do Castelo, o cheiro a fumaça ia ganhando espaço nas suas narinas e o som de várias gritarias nos seus ouvidos. Passou a ponte levediça, saltou do cavalo e por entre pilhas de tijoleira rachada e intensa fumaça embrenhou-se nos corredores que davam para as masmorras. Lá chegado viu  aberta a porta da cela do menino Cinema Livre, este desmaiado no porco chão e Haneke, o Montanhês a ser agredido na cabeça pela coronha da pistola de Leos, o Menino. Este deu pela presença de Menino, o Napalm e parou um pouco o justo castigo, gritando que "a vitória está garantida, caralho!". Haneke, o Montanhês escorria sangue e com dificuldade se levantou. Para espanto de Leos, o Menino , o prevaricador começou a esboçar um sorriso por entre a boca moribunda. " Patético, patético menino...", disse Haneke, o Montanhês e dois segundos depois Leos, o Menino sentia uma espada a entrar pelas costas e a sair pela barriga. Esguichou um litro de sangue pela boca e sentiu uma voz junto ao ouvido:" agora vai ter com a ilha e o cemitério...". Menino, o Napalm puxou a espada para cima e abriu ao meio Leos, o Menino que logo deixou cair os vários orgãos vitais. Menino, o Napalm com o sapato esborrachou um pouco mais a cara de Leos, o Menino e depois foi ajudar Haneke, o Montanhês. "Irmão, companheiro...é melhor sairmos daqui antes que mais estragos te façam". Deram um abraço de pura maldade e preparavam-se para sair dali quando viram Cronenberg, o Carnudo à sua frente. " Junta-te a nós, junta-te ao Lado Mau", disse Haneke, o Montanhês e Cronenberg, o Carnudo parecia não estar ali, petrificado que estava. Neste rame-rame se estava quando do nada apareceu Ferrara, o Onanista que lançou uma faca na cabeça de Haneke, o Montanhês, que logo deitou dois litros de sangue pela cabeça e morreu. Menino, o Napalm estupefacto ficou e um segundo depois levava com um tiro no coração, projectando-o de encontro à parede. Dois litros e meio de sangue deitados à rua. Ferrara, o Onanista aproximou-se e ouviu palavras sibilantes da desgraçada boca de Menino, o Napalm. Ajoelhou-se e encostou o ouvido à boca mas muito pouco percebia. "Que dizes, malfeitor?". "0 4:44 é estrume...". Ferrara, o Onanista sacou do punhal e e com inusitada sensibilidade espetou-o no olho esquerdo de Menino, o Napalm que esperneou e morreu. Ferrara, o Onanista levantou-se e deu um estalo em Cronenberg, o Carnudo, chamando-lhe coninhas e outras apetitosas blasfémias. Assim se ia quando deram diante de si com Lars Von, o Marteleiro que se preparava para os fuzilar com uma fisga atómica. "E depois vou dar cabo das vossas putas!", acrescentou, mas logo levou com um tiro pelas costas. Era Scorsese, o Traidor. "Bem sabia que ainda eras dos nossos", disse Ferrara, o Onanista. Abraços e carinhos entre todos. "As vossas mulheres...", ainda estrebuchava Lars. Scorsese, o ex-Traidor perdeu a paciência e pontapeou a cabeça daquele até não restar pouco mais que papa Cerelac. Logo ali veio o resto da tropa dos Cavaleiros do Bem, com Ferrara, o Onanista a contar as novidades a todos, para gáudio da malta e em particular de Sérgio, o Belo, não sem antes olhar para o corpo de Menino, o Napalm e murmurar "foi assim que me pagaste...". Tarantino, o Analógico, esfuziante de alegria, procurou Mauzão Digital e encontrou-o na sua privativa casa de banho de cócoras e semi-nu. "Por fim, belzebú!", e rasgou a espada na barriga de Mauzão que imediatamente se fez em pedaços. Cortou-lhe a cabeça e desceu até ás masmorras, onde já se colocava menino, o Cinema Livre numa maca. "Eis uma das cabeças do MAL!", gritou Tarantino, o Analógico e houve vivas e abraços até ficarem cansados de tanta comemoração. Arrumadas as coisas, prontos estavam para regressar. Saíram dali em pouco tempo e atrás só se via fumo e um castelo estourado. Era a vitória.

De noite houve grande festa na Aldeia do Bem. Sérgio, o Belo tinha encomendado quinhentos Frangos da Guia para todos. Muito vinho e sumos e leite cremes. Meninas formosas beijavam e acarinhavam os Cavaleiros, prometendo-lhes devidas recompensas quando a noite fosse mais alta. Algumas levavam fotografias de Anna Karina e Stalin e pediam autógrafos aos seus ídolos, que muito agradavelmente os davam, interrompendo a jantarada se tal fosse preciso. Depois do palco houve balarico gostoso, com Bob Dylan e Marante em emocionante dueto, "The Times are not changing", e todos dançavam e se divertiam. Não poderia haver alegria maior. As assustadas pessoas da Aldeia do Mal pediram autorização para se juntar ao festival do Bem e tal foi dada com espantoso contentamento de todos. Os xailes pretos foram atirados para o ar e os ressentimentos para os esgotos. Assim tudo decorreu até ás duas da manhã, altura em que os deuses fizeram a sua aparição nos céus. Deus Lang, Deus Monteiro, Deus "O Bénard", Deus Ernst, Deus Murnau, Deus Rohmer, etc, num belíssimo concerto de saudações recíprocas. Os deuses sorriam com a vitória das suas gentes. São João Lucas começou a descer das alturas, para histerimos da população. Choros e desmaios. Mulheres a rasgarem as suas vestes e a puxarem os cabelos. São João Lucas aterrou. Fez-se silêncio. São João Lucas despiu as calças. São João Lucas colocou-se de cócoras. São João Lucas fabricou um pequeno esgar de esforço. São João Lucas largava mais uma belíssima boutade. São João Lucas vestiu as calças e começou a voar para de onde veio. As pessoas não aguentaram mais. Houve rebentamento de aleluias e exclamações de gartidão para os céus. São João Lucas, lá de cima, abençoava o seu povo. A sua boutade estava fresquíssima no olfacto de todos. Tesse, o Idiota mandou os medos para os galhos e abocanhou com aprumada bondade a boutade do seu santo. Logo se juntaram variados meninos, cada qual reclamando para si o maior bocado de boutade. Depressa os seus lábios e dentes ficaram imersos em boutade. Um espectáculo de luz e cor e Bem para terminar em beleza uma festa sem igual. E assim terminam estes sucessos.

Como escrevemos no início da publicação destes manuscritos, não sabemos se tais acontecimentos ocorreram e se sim em que época. Contudo, e atendendo a que estamos na presença de autor(es) com preiclitante formação cerebral, somos levados a acreditar que tais narrações tinham o seu quê de muita verdade, pois imaginação seria algo que não abundaria no interior dos escrevinhadores. Mais escrevemos que foram encontrados outros manuscritos, onde, de forma avulsa, eram narradas acções ou acontecimentos bizarros, retratos de uma época onde se vivia muita turbulência. Homens que mal conseguiam fazer amor com as suas esposas devido a pensarem 24h por dia no "mundo em transformação", homens de barba rija que dormiam com película debaixo da almofada com medo que a roubassem, mulheres tão perturbadas que juravam ter visto carros a falarem entre si dentro de uma garagem, e mais outros que o pudor nos desaconselha a revelar, foram alguns dos casos que descobrimos nesses outros manuscritos, que aqui não foram publicados por se revelarem narrativas isoladas e talvez, essas sim, um pouco exageradas para os nossos propósitos. A sua importância deriva do facto de ser mais uma acha na fogueira de um tempo que deve ter sido muito problemático, e que nós, felizmente, temos sido poupados a tais infortúnios. Graças a Deus.

domingo, 20 de janeiro de 2013

José Vilhena- Série 2 (2)


exemplo prático e cristalino da existência do MAL.



AM: Eu discordo absolutamente dessa filosofia. Para mim, existe uma questão teórica interessante aqui que tem a ver com a relação entre a tecnologia e o objecto fílmico. Parece-me que ter um fetiche por película é um erro, porque esta é apenas uma tecnologia temporária cujo intuito é trazer o filme até nós. Aliás, trata-se da pior tecnologia alguma vez inventada: dez bobines, pesadas, difíceis de manejar, inflamáveis… O som é outra questão muito importante. Em muitos cinemas com projecção analógica a qualidade de som é muito fraca e não consegue transmitir toda a potencialidades sonoras da banda sonora. Quando vejo filmes antigos em DVD finalmente consigo ouvir o som muito melhor do que em cópias de 16mm, desgastadas por terem sido transportadas por esse mundo fora. E não concordo com esse argumento de que os realizadores queriam que víssemos o seu filme apenas em película… Penso que isso é completamente irrealista e pouco prático. É elitista de uma forma negativa. Eu não sou contra o elitismo necessariamente, mas esta ideia de que só podemos ver os filmes de Max Ophüls em cópias em película 35mm de há cinquenta anos parece-me uma idiotice. Para mim passar um filme antigo para DVD é a evolução natural da tecnologia funcionar. Estamos a dar ao filme um novo suporte, uma nova base tecnológica. E as bases tecnológicas estão sempre a mudar. Não podemos ficar congelados no tempo e dizer que são a película e a projecção as únicas bases tecnológicas válidas. Ao final de contas a minha teoria sobre isto é que o que realmente interessa é o filme que fazes na tua cabeça, aquela que te lembras. O filme que podes projectar vezes e vezes tem conta na tua memória. E não interessa se é uma cópia em 35mm com riscos ou outra coisa qualquer. Porque o que te lembras é sempre o filme perfeito. A tecnologia no teu cérebro é a única tecnologia final nesta constante mutação de suportes. A tecnologia do cérebro é a melhor [desde que o teu cérebro trabalhe (risos)]. No meu leito de morte quero ser capaz de recordar os melhores filmes que vi e é muito mais importante do que dizer: “leva-me a uma cinemateca antes de morrer”. O filme mais belo é aquele que transportas dentro de ti.

A luta contra estes bandidos tem de ser corajosa e sistemática, mas não desprovida de bondade, amizade e muito amor. Não podemos, todos nós, grandes e belos defensores das poeirentas bobinesezzz e da "magia da tela" (por vezes a nossa única amiga, se excluirmos a mão direita)  ficar indiferentes a estes flautistas de hamelin que nos iludem com cânticos mefistofélicos dessas coisas do "mundo em transformação". Vou já buscar meia dúzia de paus. Afiados.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

José Vilhena- Série 2 (1)


Jack Palance...


... em Panic in the Streets, do Kazan. Desglamourização até ao possível da figura do "vilão". Com "forte presença" e repleto de manigâncias psicológicas, mas oportunista, cobarde e ignorante do que o rodeia. No fim, é uma barata acossada e tonta a fugir das autoridades. Estaria bem num filme do monóculo Lang.

o BEM e o MAL- 5 (de 5)- parte 1 (de 2).

...literalmente. Menino, o Napalm tinha-se borrado nos coeiros, pestilando os aposentos. Nestas condições acordados foram os Cavaleiros, marcava o relógio cinco da matina. Sérgio, o Belo, já com as vestes de batalha no corpo, bondosamente despertou os seus filhos, e todos foram instruídos a vestirem os trajes de guerra. Estremunhados assim o fizeram, e dito e feito estavam a rezar em frente a um ícone de São João Lucas. Lágrimas de emoção corriam nas faces de uns tantos. Comidos os ovos e os chouriços preparados bondosamente por Coppola, o Bezanas, foram saindo solenemente para a neblina matinal. Andavam já na rua alguns comerciantes da Aldeia do Bem, que muito espantados ficaram com tão invulgares práticas. Gomes, o Musical esclareceu o que se passava, e logo tais propósitos foram correndo de boca em boca até o centro da Aldeia ficar bem composto de gentes. Mulheres de xaile branco choravam e pediam protecção dos deuses e doces meninas davam beijinhos nos cavaleiros, que muito felizes ficaram com tais prebendas. Com os seus típicos andrajos e cajado, Seixas, o Sábio, exclamava a inglória de tal missão, pois "há muito que o menino Cinema Livre já bateu com os costados na parede. Ides em vão, senhores!". Todos fizeram orelhas moucas e Sérgio, o Belo esclareceu a estratégia de combate. Os Cavaleiros do Bem muito atentos o ouviram e gritaram vários hurrahs. Três Drones Straub E-A564 estavam junto dos cavalos dos Cavaleiros. Examinados todos os apetrechos, iniciaram a marcha em direcção às terras do Mal, que distavam de dois mil e trezentos metros. Atrás deles, havia sinfonia de gritos, choros e angústias. Uma menina beijava um poster do The Deer Hunter. "Vamos apanhá-los de calças na mão...", dizia de si para si Sérgio, o Belo, pois muito optimista estava. Entrementes...

...à mesma hora que o Bem iniciava a sua marcha, no Castelo do Mal ignoravam-se os propósitos do inimigo e todos dormiam com o demónio no corpo. Haneke, o Montanhês, acordou e decidiu espairecer a sua maldosa e nojenta consciência. Afiando facas, que mais tarde planearia usar no desnudado e massacrado corpo do menino Cinema livre, subiu até à torre de menagem e assim aspirar toda a maldade dos terrenos circundantes. Estava muito feliz mas depressa torceu o nariz, pois começou a chover "chuva torrencial". Estranhas manchas ao longe chamaram-lhe a atenção. Olhou, olhou, olhou e aterrado ficou. Desceu à bruta pelas íngremes escadas até cair aos bocados no chão. Tresloucado muito estava, e assim foi para o quarto do Senhor Académico. Sem licença arrombou a porta do aposento, qual touro, e avisou o Senhor do que aí vinha. Este perguntou-lhe que pesadelos eram estes, e Haneke, o Montanhês disse que era tudo bem real. Nestas aventuras se encontravam, quando um estouro de todo o tamanho abalou o Castelo até aos poços dos infernos. "Estão a cair-nos Straubs em cima, Senhor!", dizia Mauzão Digital, que ali se tinha juntado em trajes menos próprios. Novo estouro e paredes desfeitas e tijolos pelo ar. Muita fumaça nos corredores. Os três a custo saíram dos aposentos do Senhor Académico, cambaleando pelo "rasto de destruição" circundante. Winding Refn, o Piloto já jazia em postas. Noé, o Discoteco tinha sido projectado do seu quarto para a sala de estar, com a cabeça em parte incerta. "Apanharam-nos de calças na mão!", gritava Mauzão Digital, perguntando ao Senhor Académico que se haveria de fazer. Este estavam petrificado e sem mugir. Haneke, o Montanhês deu-lhe duas berlaitas na cara para o despertar. Foi nessa altura que reparou que o seu Senhor tinha falecido. Haneke, o Montanhês chorou muito e Mauzão Digital puxava os cabelos em pânico. Novo rebentamento e estilhaços a voar. Hologramas Wachowski desfeitos ao meio. Haneke, o Montanhês, desligou-se das lágrimas e decidiu-se a ir para as masmorras infernais: " Vivo é que não o apanham, seus filhos da puta!", vociferava. Lá chegado, quase teve um ataque de coração...

sábado, 12 de janeiro de 2013

a propósito de qualquer cousa.



Metade deste blogo presta valorosa homenagem a Anna Faris, uma das cidadãs da Aldeia do Bem.

o BEM e o MAL- 4 (de 5)

...corriam rumores inquietos para o espirito de todos. Mauzão Digital dirigiu-se tarde e a más horas para os aposentos do Senhor Académico. Bateu com os nós dos dedos na porta mas não obteve nem ai nem ui. De mansinho a abriu e reparou que o Senhor Académico, prostrado e em transe, rezava em frente a um ícone de São João Delannoy. Acabado o ofício, Senhor Académico olhou surpreendido para Mauzão Digital e questionou-o sobre que estranhos sucessos o levavam ali a tão inusitadas horas. Este, sofregamente e limpando a testa com um pano gorduroso 4k, disse que Noé, o Discoteco, lhe tinha dito que cirandavam notícias sobre um possível ataque surpresa dos inimigos. O Senhor Académico riu-se a bom rir e disse a Mauzão Digital que não se inquietasse, pois "esses filhos da puta nem sabem o que os espera". Aconselhou Mauzão Digital a ir descansar para os seus aposentos e para não apoquentar o coração com tais disparates. Mauzão despediu-se e apanhou Noé, o Discoteco no corredor, dando-lhe sonoro e malévolo raspanenete sobre tãos desnecessários alarmismos. Noé aquietou a repreensão, e foi andando pelo castelo. Dentro em pouco estava nas masmorras, onde viu Haneke, o Montanhês sentado numa cadeira com pregos virados para cima e a ler artigos da Film Comment em direcção do menino Cinema Livre. Este gania e pedia clemência, mas sem sucesso. Noé, o Discoteco abandonou tais crueldades e caminhou em direcção à torre de menagem, onde Lars Von, o Marteleiro, olhava para as estrelas. Cumprimentou e sentou-se ao pé deste e começaram a discorrer sobre o que fariam depois da grande vitória que se avizinhava. Lars Von, o Marteleiro disse que a sua ambição era violar e massacrar qualquer mulher de qualquer idade da Aldeia do Bem. Noé, o Marteleiro aquiesceu e delirou, pedindo-lhe autorização para ser ele a filmar em 8k tais desventuras. Autorização concedida, voltaram a olhar para o céu. Noé, o Marteleiro desviou então um pouco os olhos para Lars Von e sentiu desejo de o abraçar e de lhe dar um beijinho, mas a resistência do pudor e das vergonhas não permitiu tais desmandos. Lars Von, o Marteleiro ignorava tais propósitos, pois imaginava se naquelas estrelas para onde olhava também existiriam mulheres para violar, torturar, decapitar, assassinar, queimar, cortar, esfrangalhar e abusar. Pensou alto e murmurou "hummmm...". Nestas condições ia a noite em terras do Mal. Por outro lado, nos domicilios do Bem...

...revigorava-se a mente e a musculatura após o jantar preparado por Coppola, o Bezanas. Todos os Cavaleiros do Bem se encontravam na sala de cinema, onde se alimentavam com diversa docaria: Vertigo, L' Atalante, Le mépris, The Searchers, Sunrise, Tokyo Story, e para espanto de todos 4:44 constituíram o caldeirão da noite e da madrugada, e quando tudo terminou os Cavaleiros estavam prontos para mil batalhas. Depois de abraços e beijinhos, houve um momento de algum agravo. Cronenberg, o Carnudo, perguntou a Sérgio, o Belo porque estava ali no cardápio 4:44 e não o seu último filme. Os rostos tornaram-se sombrios e havia temores no ar. Tomando as rédeas da situação, e provido que era de espirituosismo, o Mestre disse bondosamente:" A limusina não cabia na magia da tela". Houve uns segundos de silêncio e depois rebentamento de riso, com vários dos Cavaleiros caídos no chão em corropio de gargalhos. A boa disposição era total, e Sérgio, o Belo abraçou e deu um beijinho em Cronenberg, o Carnudo para que não se embaraçasse com coisa pouca. Findas as pantominas, o rosto do Mestre tornou-se sombrio e disse que ia abordar um assunto da maior gravidade. Disse então que sabia por fonte segura que certas informações tinham chegado ao inimigo e que por tal razão havia um espião naquelas bandas e que por esse motivo pedia a todos os que ali se encontravam a colocarem os telemóveis num saco e a dormirem ali mesmo na sala do cinema, como cautela e prevenção. Mais disse ainda que os planos seriam alterados na manhã seguinte e que "aquela cáfila nem sabe o que a espera". Todos olharam para todos e obedeceram ás palavras do Mestre. Este agarrou na saca com os telemóveis, despediu-se de todos, fechou a porta e correu o robusto ferralho. Os Cavaleiros agarraram nas mantas e puseram-se nos seus devidos lugares para a viagem dos sonhos, cada um deles imaginando que ratazana andaria por ali. Ferrara, o Onanista apagou a luz e dentro em pouco ressonanços da mais cristalina bondade traziam ao aposento um belo aroma musical. Começava a cheirar a Napalm...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

texas style.


Nada melhor do que iniciar o ano com o discreto charme da parvónia. Killer Joe, onde Friedkin faz o seu melhor filme em vinte e sete anos, e em que volta a mostrar que é o grande patife do actual cinema amaricano. Entre a mais descabelada agressividade (visual e de relacionamentos) e momentos intimistas (tão intimistas que por vezes se aproximam dos contornos hieráticos), mas sempre com inigualável cheiro a gasolina, perversidade e corrupção. Há momentos de um abençoado "mau gosto", sobretudo um e que está inserido nos alucinantes vinte minutos finais, onde McConaughey, no limite ou para lá do cabotinismo, que se foda, vai meticulosa e insidiosamente dando cabo da saúde a um núcleo familiar que é tão unido como os continentes africano e americano. E que dizer da Gina Gershon? Já não a via, salvo a memória não me falha, desde o Face/Off. Vou tentar arranjar imagem do seu primeiro plano neste filme e colocar como wallpaper.

o Bem e o mal- 3 (de5)

Em homenagem ao bondoso nosso Senhor Andre, façamos um minuto de silêncio em sua virtuosa homenagem. As palavras, de uma impressionante austeridade, provinham do Mestre dos Cavaleiros do Bem, de seu nome Sérgio, o Belo. De porte gargantuesco (2, 10m por 120 kgs), irradiava da sua figura uma proveitosa bondade e sabedoria para todos os que o rodeavam, e que por ali se encontravam na mesa, a saber: Gomes, o Musical, Cronenberg, o Carnudo, Coppola, o Bezanas, Tesse, o Idiota, Ferrara, o Onanista, Green, o Paulo Branco, Tarantino, o Analógico  e mais duas cadeiras vazias. Terminada a sessão de homília, Sérgio, o Belo, reparou gostosamente nos lugares por preencher, imaginando que patifarias estariam agora a fazer os faltantes. Deu ordens a Ferrara, o Onanista, para os ir buscar, e logo depois ficou a admirar com toda a sua natural bondade e perfeição os seus filhos. Daí reapareceu Ferrara, o Onanista, com dois pirralhos pelos colarinhos, nem mais nem menos do que Léos, o Menino e Menino, o Napalm. O Mestre questionou-os sobre o que andaram a aprontar e Léos, o Menino explicou de sua justiça, queixando-se da falta de fellatios por parte de Menino, o Napalm, e que assim não seguia os virtuosos exemplos dos outros meninos da Aldeia do Bem, pois todos eles já lhe tinham feitos fellatios. Sorrindo, o Mestre pediu a Menino, o Napalm para esclarecer tais aventuras, ao que ele fez, dizendo que o que interessava era a beleza do gesto, logo ali exemplificando um fellatio, para grande contentamento de todos, sobretudo de Ferrara, o Onanista, que alto e bom som disse que "isto sim, isto é que é um fellatio!". Léos, o Menino não achou graça e disse que se Menino, o Napalm não lhe fazia um fellatio então tinha de assistir a uma sua conferência de imprensa. "Com óculos escuros e cigarro?", perguntou assustado Menino, o Napalm. "Sim", respondeu Leos, o Menino. Logo se ajoelhou Menino, o Napalm e começou a dar show de bondade no outro menino, com todos a baterem palmas. Despejada a bondade de Leos, o Menino para cima de Menino, o Napalm, houve sonoros assobios e cânticos de louvor por parte de quem ali se apresentava, para embaraço de Menino, o Napalm que logo foi a correr para a aconchegante figura de Sérgio, o Belo, não sem antes se limpar com toda a propriedade. Este disse que não chorasse, e que na semana seguinte iriam à praia. Menino, o Napalm ficou surprendido mas muito contente, logo sugerindo também a ida de Deus Monteiro e de Bénard da Costa. Sérgio, o Belo ali se prontificou para acolher a tais desejos, mas ressalvando que "não é Bénard da Costa. É "O Bénard"", para concordância de Menino, o Napalm, que prometeu não cometer mais vil erro. Foi para o seu lugar, apagaram-se as luzes, e iniciou-se o ritual dos 40 segundos de Bondade. "Amour", de Haneke, o Montanhês, surgiu na tela gigante logo despertando impropérios de uma comovente bondade, sobretudo os provindos de Tesse, o Idiota, que louco de tanto Bem saltou a mesa e começou a dar murros na tela, ao que teve de ser interrompido por Green, o Paulo Branco, que ao mesmo tempo que segurava um braço do Idiota dava com uma bandeira do Benfica nas diabólicas imagens que por ali se passavam. Findo o ritual, acenderam-se as luzes e seguiu-se a sessão mais esperada por todos os Cavaleiros, aquela em que iriam ouvir as palavras do dia do seu Senhor, da sua Candeia, da sua Força, nem mais nem menos do que o padroeiro São João Lucas. Todos de cabeça baixa e rezando, ouviram as Suas Palavras e que foram Estas, e que ainda hoje provocam arrepio na espinha a quem Elas ouve: "São neste momento vinte e três horas e cinquenta e nove minutos e vinte e cinco segundos. ". Léos, o Menino logo desvaneceu, Tarantino, o Analógico chorava, Menino, o Napalm afirmou que mais belas Palavras jamais tinham sido proferidas, Gomes, o Musical dizia que era por Isto que se merecia viver, e Sérgio, o Belo, afirmou que tanto conhecimento deveria estar impresso a fogo numa tábua, tarefa que incumbiu, para mais tarde, a Cronenberg, o Carnudo. Mal refeitos de tanta emoção, iniciaram a actividade comensal, não sem antes o Mestre ter agradecido a Coppola, o Bezanas por tão doces iguarias, ao que este fez uma reverência para o Mestre. Pouco tempo ia na degustação quando Tarantino, o Analógico perguntou se podia ser ele a dar cabo do Mauzão Digital. Sérgio, o Belo uma vez mais sorriu, e disse que a seu tempo todos esses pormenores seriam discutidos, mas que "agora é tempo de fartura! Comamos!", e logo ali se reiniciou a alegria para todos. Entretanto, no Castelo do Mal...