sexta-feira, 4 de julho de 2014

Algumas coisas

1 King Triplex. Tenho saudades de alguns rituais, principalmente aqueles necessários à sessão da meia-noite. Nomeadamente, o de regressar a casa: sair da sala, quase sempre muito vazia, andar a pé até ao carro em ruas sempre silenciosas e conduzir até casa, numa primeira fase de volta ao subúrbio, mais tarde, de volta ao centro da cidade, sempre com passagem obrigatória pelo Técnico, esperando encontrar o semáforo vermelho para melhor observar as putas. E vem aí Agosto, que era o meu mês preferido para lá ir à noite.

2 Everyman, Philip Roth – releitura. Dizem da última fase de Roth ser uma fase em que o homem cagava livros por assim estar obrigado contratualmente. Eventualmente. Ainda assim, esta história do ser guiado pelo corpo – quer guiado pelas tentações enquanto capaz disso (“Models didn’t all have to be needle-thin in those days, and even before he spotted her by her glide and saw the sheaf of golden hair down her back, he identified her as his very own treasure, the white hunter’s prize, by the weight of her breasts inside her blouse and the light heft of the behind whose little hole had come to afford them such delight”), quer arrastado pela sua decadência (“But now, instead of ending it continued; now not a year went by when he wasn’t hospitalized. (…) The year after he had carotid surgery he had an angiogram in which the doctor discovered that he’d had a silent heart attack on the posterior wall because of an obstructed graft. (…) A year later he had another angioplasty and another stent installed in one of the grafts, which had begun to narrow. The following year he had to have three stents installed at one go (…)” – and so on, acrescento eu) – guiado pelo corpo, dizia eu, até à solidão final (“The worst of being unbearably alone was that you had to bear it – either that or you were sunk. You had to work hard in order to prevent your mind from sabotaging you by its looking hungrily back at the superabundant past.”) é das coisas que mais me entraram nas entranhas. Em breve, também eu me mandarei ao Knausgaard.

3 Um filme visto em quase um mês. Quero lá saber de filmes. “Jungle Fever”, do Spike Lee, que penso ter visto na década de 90 numa noite na SIC. Lembrava-me lá eu que depois do Fassbinder e antes do Haynes, também o Spike Lee tinha querido refazer aquela maravilha do Sirk, “All That Heaven Allows” (que maravilha, a cópia em 1080p, mais do que as cores, as sombras…), vide as folhas outonais pós-genérico e o travelling descendente em direcção à rua, às casas. Eu que gosto muito do Spike Lee e acho que não se lhe dá o valor devido, encontrei este filme desajeitado e bruto, sem a necessária subtileza requerida e, se não me engano, à terceira obra, ainda uma falta de capacidade de cortar muito do que não interessa. Annabella Sciorra, outra maravilha.

4 General D. Não conheço a sua música, não conheço, senão uma música aqui e outra ali, o hip-hop, o rap. Português ou não. Mas o único ípsilon (Vasco, um abraço) que comprei em muito tempo foi aquele em que foram à procura do General D e I’m a sucker for gajos que têm um trabalho importante numa determinada área e que desaparecem sem deixar rasto, ninguém sabe deles e, uma vez encontrados, dezenas de anos depois, falam-nos de trabalhos, empregos, família e filhos. Estive lá no Intendente, meramente por acaso, e entre tentativas de conversas com amigos, a minha audição periférica registava um concerto cheio de emoção, gente a subir ao palco e a prestar homenagem. Pareceu bonito. Num café do largo, 10cl de CRF num copo de plástico custavam 2€.

5 Bola. Daqui a pouco continuarei a torcer pela segunda casa – Deutschland vor, noch ein Tor. Não deixa de ser irónica a mais ou menos violenta “caça ao alemão” que se faz por aí. Melhor 11 até agora e cheio de esquecimentos, provavelmente: Navas, Lichtsteiner, Thiago Silva, Kompany, Holebas, Lahm, James, Messi, Muller, Benzema, Robben. Desilusão do Mundial: cobertura de Napalm. Um gajo até se vai esquecendo que bola a sério só começa a 10 de Agosto. Talisca. Foda-se.


6 Rui Tovar. Vi-o no início de Junho, no Monumental. Ia eu ver o belíssimo filme do Gonçalves, estava o Tovar à entrada do sítio, à conversa com outro homem, e escutei-lhe isto: “a Sagres já não tem aquele sabor de antigamente.” Faz essencialmente falta ao Eurosport, agora está lá aquele gajo com sotaque francês, que fartote.