segunda-feira, 26 de março de 2012

hjdh.


Peggy Sue Got Married, maravilha de melodrama com 45º graus à sombra, prova várias cousas. Prova 1): a injustiça que é cometida sobre os anos 80 de Coppola por comparação com os esfuziantes e “adultos” “eram os anos 70” (papá!). À excepção do museu de cera Cotton Club, o homem só fez grandes filmes nos tristes anos 80 (Os estúdios! Maus! Não deixam os meninos fazer os filmes que querem! Vou dar com um pau nos estúdios! ), incluindo dois dos mais silenciosos e ignorados da sua carreira, o Gardens of Stone e o Tucker, o seu Citizen Kane em ponto pequeno, com um Jeff Bridges monstruoso. Prova 2): a Kathleen Turner, ainda que toda giraça e boazuda, parecia ter aos 31 anos mais vinte do que quando, quatro anos antes, deixou de verga tesa o William Hurt no Body Heat. Prova 3): o Nicolas Cage é o melhor actor do mundo a fazer de Elvis de terceira categoria, a meio caminho entre o dengoso e a mais pura chungaria. Prova 4): o Jim Carrey já era um génio. Prova 5): não há como o John Barry para transmitir toda a doçura do reaccionarismo nostálgico. Prova 6): é possível um filme sobreviver à passagem da filha do Coppola (papá, olha a minha nova malinha e o meu sapatito cor de rosa choque!). Prova 7): é sempre uma alegria quando os assassinos de Heysel Park são eliminados das provas europeias. O neandertalismo futebolístico deve ser banido, Prova 8 e última): mas será que ninguém corre com os Deolinda à pedrada? Muito obrigado e até um dia destes. A açorda que comi há escassas três horas estava muito boa. 

Rumble Fish, maravilha de sapateado noir com muitas sombras e com quase tantos planos de relógios e nuvens como o High Noon e os filmes do Van Sant juntos, prova várias cousas:

a prova 1 mantem-se inalterável. Na prova 2 substituir por "a Diane Lane, ainda que de formas gostosas e em poses lascivas em lingerie apropriada, tinha apenas dezasseis anos, apenas mais um depois de deixar o Matt Dillon de verga tesa no The Outsiders. Volta a fazer o mesmo". Prova 3 inalterável. Na prova 4 substituir por "o Mickey Rourke já foi um actor". Prova 5: "não há como o Tom Waits a servir cafés e cervejas com uma toalha ao pescoço para ficarmos convencidos que estamos a ver cinema". Prova 6 imaculada. Prova 7 mudar para "é sempre uma tristeza ver a cara do Sapunaru e do Janko em simultâneo". Na prova 8 acrescente-se "todo e qualquer artista da Flor Caveira". Que delícia de bolo de cenoura.

também...

...gosto muito daquelas pessoas que afirmam "não gosto nada dos filmes do Oliveira. Só do Aniki-Bóbó".

sexta-feira, 23 de março de 2012

instintos básicos.


Estava cheio de fome. Decidi procurar restos de mulherio pelas nauseabundas divisões da casa, mas tive pouca sorte; não restava mais do que umas carcaças semi-apodrecidas, intragáveis. Só me restava efectuar a outra coisa minimamente aceitável: fazer uma integral Verhoeven, desde os tempos de Cruyff e Neeskens até à era do Robben e do Sneijder. Por ordem cronológica. Só as longas-metragens. Gloriosa semana, que me ajudou a confirmar o mestre como um dos bens essenciais da actual sociedade humanitária. Um homem que proferiu frases poéticas como "tenho tanta violência na cabeça que por vezes penso que ela vai explodir" e "i love tits and asses!" e que, vista a sua obra de seguida, torna-se óbvio que Paul as tem respeitado com enorme dedicação. Corpos estrilhaçados, mutilados e o gostosinho com que os seus heróis rebentam as ventas alheias. Caralhos, mamas e conas à mostra, sem qualquer aditivo sensual. Bem badalhoco. As personagens fazem jus à loucura da carne do Jeff Goldblum cronenberguiano: atiram-se de frente, apalpam e apertam e gemem, não há quem gema tão javardamente como nos filmes do holandês. Não há recalcamentos por estas bandas: tudo visível, exposto, abençoadamente grotesco, sempre em contra-ciclo com as ideias de "austeridade" e "subtileza" como qualidades em si. E, ao contrário de um tarado dinamarquês, com espaço para a irrisão e sem aspirações a "Arte". Agradecido, Paul. Espero que continues a foder o "cu de oiro"* dos mandarins dos "valores" da "sobriedade" e da "moderação". Yummy yummy.

* direitos desprotegidos.

"acordei alagado em suor".

Sonhei que a Kathleen Gomes ainda era crítica de cinema.

mítico.

Na passada Segunda-feira aconteceu História em directo. Anderson Polga tornou-se, pelo menos desde que me lembre, no primeiro jogador da bola a cumprimentar uma das meninas da liga que ladeiam os árbitros em justas mini-saias e sorriso automático. Então foi assim: o Polga cumprimenta o capitão do Gil Vicente, cumprimenta o árbitro, o bandeirinha e o outro bandeirinha e depois estica a mão para uma das misses. Embaraçado, retira a mão e pede-lhe a bola. Para não perder a face, volta a esticar a mão e apertou a de veludo da menina. Inconstitucional e bonito. O primeiro passo para acabar com uma etiqueta idiota e abrir as portas a dois beijinhos entre os capitães e as cuzudas.

domingo, 11 de março de 2012

entretanto, ainda junto à Gulbenkian...

...há um estaminé onde duas imperiais e um café custam dois euros.

O Robocop do José Padilha estreia a 9 de Agosto de 2013.

Gulbenkian, ontem, por volta das 15 horas.

Ah, a Gulbenkian. Espaço de repouso, de confraternização, de cultura, de masturbações nos arbustos. As gentes preparam-se para a ante-estreia mundial do novo documentário de João Mário Grilo, A Vossa Casa. Reparo na Teresa Villaverde em farrapos (coitadinhos dos realizadores portugueses, alguém que lhes abençoe a alma com meia dúzia de côdeas) e no José "cinco minutos de jazz" Duarte. Já na sala, fica-se com a sensação que a idade média da audiência deverá rondar os oitenta anos. Três vultos sobem ao palanque. Discurso do Presidente da Fundação. Começo a pensar se não será melhor desviar o Otamendi para a direita, ele jogou assim (e bem) no Mundial de 2010. Palmas. Agora, Maria Joãoão Seixas. Bonitas lâmpadas. Frescas estudantes de arquitectura rejuvenescem um pouco o lar de idosos. Palmas. Grilo entra em acção, munido de dois papéis. Profere palavras, disso não tenho a menor dúvida. Palmas. Luzes out. Começa a reportagem silenciosa de António Campos sobre Raúl Lino naquele mesmo espaço, 42 anos antes. O dr. Américo Tomás . Citroens quase em pé. Uma pequena maravilha de sete minutos. Entretanto, na sala, risos histéricos e telemóveis destravados. Ah, a Gulbenkian, local onde se elevam as mentes. Começa o filme do João. Atrás de mim e do comparsa de blogo, um casal masturba-se verbalmente. Os telemóveis continuam o seu concerto, e eis que entra em campo uma nova sinfonia: tosse. É tanta que fico a pensar se não fui parar a um romance de Flaubert. Interiormente, começa-se a desejar a morte apocalíptica desta gente, verbalizada mais tarde já ás portas da Cinemateca, onde uma mulher com sacos plásticos na mão se preparava para ver o seu oitavo filme do dia. O comparsa do blogo concordou com a morte de tão público filho-da-puta, ficando por decidir se com ou sem Sida. Um voto a favor e outro contra. Esclareceu-se, também, que a seguir à morte de cada aventesma o suplício iria ser ainda maior: ver um filme do Besson (pode ser o Leon, esse que quando um gajo diz que não gosta do Besson, surge a inevitável pergunta "nem do Leon?", "Não, pá, nem do Leon"). Vão cochichar e tossir e receber sms para a cona da vossa tia. 

o filme do Grilo é interessante, sobretudo porque a verborreia da sua narração é tão exasperante que todo o silêncio que se lhe opõe surge como um alívio espiritual. Ao menos podia-se ir buscar a voz da Agnés Varda, ou então a narração do Welles no Ambersons: é tão boa que serve para enquadrar qualquer coisa.

próxima indignação: velhos que no Pingo Doce saem do seu lugar na fila para se colocarem quase ao lado da pessoa que está à sua frente, para que esta se condoa da sua condição de velhos e as deixe passar.

sábado, 10 de março de 2012

os críticos do ipsilon têm agora as caras estampadas no quadro das estrelinhas. Já não podem dizer que "os críticos são todos iguais".


Depois de ver a fantasia do menino Nicolas, há que lavar os olhos. Nem é necessária muita água e o sabonete da melhor qualidade; até um Nolan basta. Se, contudo, quiser eliminar toda a porcariazinha dos seus lindos olhos, é aconselhável que opte por medidas mais seguras e higiénicas. Sabonete Hellman, modelo The Shooting. Ao fim de setenta e sete minutos, recuperará o olhar brilhante de outrora, é garantido. Pela sua íris passará um "árido e infinito deserto", a escassa misericórdia da mãe natureza pelas vinganças humanas, o Nicholson antes de ser cabotino e, está claro, Warren Oates, um dos actores fetiche de Hellman e de um outro bêbado que também começava a pregar marteladas no caixão westerniano. Um barbudo com uma perna partida, perdido no meio da "paisagem inóspita", come uns caramelinhos. Silhuetas deixadas ao relento, em planos filmados do céu. Dizem que é "existencial" e "nihilista" e, quiçá, "feminista". Isso não sei, mas que é do vergamalho, disso não tenho dúvida. 

Menos sofisticado e consensual é o sabonete Walter Hill, versão Streets of Fire, data de 1984. Poderá causar-lhe urticária as rugosidades pulp da coisa, mas se se deixar abandonar, terá a face mais fresquinha que um bebé acabado de lavar pelas suaves mãos da sua mãe teenager. Desde uma brutal sequência de abertura, onde Diane Lane+ pop de estádio dos anos 80= agradeço por não ter tomado aqueles comprimidos ontem à noite, até ao final, onde o Cowboy parte para a Covilhã, a sua carinha será regada ininterruptamente com diálogos saídos de um Hammet em cenários retro-presente-futuristas, Ry Cooder a bombar (aprende, ó Nicolas), o William Dafoe que ainda está mais pavoroso do que no Wild at Heart, e ainda a Diane Lane a estourar o libidinómetro. Esta guloseima cartoonesca é o filme que o noitibó do Tony Scott nunca conseguiu fazer. Agora vá chafurdar no "Super 8".

terça-feira, 6 de março de 2012

o sonho molhado do menino Nicolas.


São nove da noite em Copenhaga e faz tanto frio. O menino Nicolas veste o pijama, lava os dentes e mete-se dentro da cama, aconchegadinho nos seus lençóis polares. Em pouco tempo, começa a sonhar. Sonha com um homem solitário, que conduz carros, com luvas. Impecavelmente vestido, com blusão e sempre bem penteado, este homem é terno e carinhoso com a girl next door e impiedoso e cruel com os seus inimigos. Antes de esmagar o crânio de um dos bandidos, beija, em super-slow motion e em bonitos bordados de luz, a girl next door (a "fôfa Carey Mulligan", como diria, anos mais tarde, um dos reputados críticos portugueses, Sérgio Santos). Mistura sobrenatural de Terminator, the man with no name, Jesus Cristo e modelo publicitário, não há quem o vença. São 21:03 em Copenhaga e Nicolas continua a sonhar. Agora com a girl next door. Loirinha, frágil, de sorriso pronto a vender, em contraste com todas as outras mulheres que aparecem no seu sonho, todas elas de carnes abundantes e aspecto de degeneradas. O mundo é mau! A girl next door sabe que terá sempre ali um robô para a defender das malícias alheias. 21:04. Muita música. Quase todos os momentos oníricos estão preenchidos com música. Muito cool. O menino chora e as calças começam a ficar húmidas. 21:06. Carros, choques, olhares vazios, música, mais carros, mais olhares vazios, mais música. 21:08. Nicolas acorda, com a cara salpicada de lágrimas e o pijaminha mijado. Levanta-se, e antes de se ir limpar, vai anotar o seu bonito sonho no seu diário, prometendo a si mesmo que quando for grande irá realizar um filme baseado nos seus devaneios. É o que acontece. Muita gente gostará do filme, outros nem tanto. Há até os mais invejosos e carrancudos, que chamam ao menino Nicolas nomes feios, como Melville em cuecas, Mann de sofá, Tarantino de pijama, Kitano de peúgas e Walter Hill sodomizado. Infelizes, dirá o agora homem Nicolas, que numa certa noite voltará a registar um dos seus sonhos, agora com um pastor alemão de óculos escuros que salva uma cadela frágil e sensível das garras de um néscio Dobermann. Com banda sonora dos Air.

de um gajo que não está choné.




Vóvó, tenho aqui uma pequena inxignificânxia escrita para colocar no blogo sobre a piquena grande excepxionalidade do Le Genou d'Artimide. Não podes fazer isso, meu filho. Ó Vóvó, porque não? Tenho mesmo de explicar, tolinho? Tenx xim, vóvó! Então tu não sabes que na blogosfeira lusitana só se podem publicar coisas sobre o Straub num determinado sítio? Naum xabia, vóvó! Qual é? O dias felizes, safadinho. Ah! Mas ixto que extou a excrever agora mexmo já não conxtitui apropriaxão de território privado, vóvó? Hum...não tinha pensado nisso, meu filho. Tenho xusto, vóvó! Vá, não tenhas medo. Que belas fatias de marmelada.

Brenda Blethyn= trinta salinas de Aveiro.


Já não via esta grandeza há catorze anos. Lembrava-me de muita estima pelo filme. Agora de que a última meia-hora fosse filme de terror, isso não, não me lembrava.

segunda-feira, 5 de março de 2012

'tá tudo choné.


Para um filme resistir aos histrionismos "artísticos" da insuportável Keira Knigthley é necessário que tudo o resto esteja submetido aos desmandos do silêncio: vozes, gestos, paisagens e sons derivados, conflitos, movimentos de câmara, montagem. O Fassbender bem tenta dissuadir a petiza das suas macaquices, mas a insolente, sem pinga de vergonha, ainda aprecia os ensinamentos manuais do mestre. Belíssimo charuto.




sábado, 3 de março de 2012

algures no inferno...

...há aproximadamente hora e meia.

Max: Alfred! Alfredo! Cucú...onde estás? Raio do badocha...deve estar a aprontar alguma. Alf...
Alfred: BÚ!
Max: Ai mãezinha! Onde estavas?
Alfred: Ehehe...ali, atrás daquele arbusto, pronto para dar-te susto. Já sabes que eu sou assim.
Max: Bem sei, bem sei. Vamos sentar-nos ali naqueles bancos. Ah, assim está melhor.
Alfred: Pois está. E está fresquinho e tudo.
Max: É bem verdade. E parece que vai continuar. Olha, hoje recebi um pedido estranho de um pobre coitado lá de cima.
Alfred: Conta lá isso, amor.
Max: O sujeito pediu-me para que eu intercedesse para que o seu clube da bola ganhasse a outro clube da bola.
Alfred: E então?
Max: Eu intercedi, pois está claro. O triste vê a minha trilogia de duas em duas semanas. Que podia eu fazer? Mandá-lo para a cona da mãe dele?
Alfred: Que rude que és, querido.
Max: É assim que gostas, porque te queixas? Ouve...já arranjaste aquilo que te pedi?
Alfred: Não...elas não falam comigo...depois de tudo o que lhes fiz...
Max: Putéfias é o que são. Vá, não chores. Depois vamos ver o Robocop do José Padilha.
Alfred: Sniff. Prometes? Agarradinhos?
Max: Claro, já te faltei em alguma coisa? Bom...quanto ao que eu pedi...vou pedir ao Fuller para tratar disso.
Alfred: Esse bruto!
Max: Bom homem. Agora baixa a cabeça e não digas nada...vem ali o chefe.

dois vultos aproximam-se.

Ford: Boa noite.
Max: Boa noite, meu senhor.
Alfred: Boa noite, meu senhor.
Ford: Estás a chorar, pipas?
Alfred: Não é nada, meu senhor.
Ford: Bom, não quero cá dessas caralhadas. Algum de vocês tem lume?
Max: Eu só tenho cigarros, mas nada de lume, meu senhor.
Alfred: Também não, meu senhor.
Ford: Caralho. Bom, Sergei...vai ao tasco do Peckinpah e traz-me um isqueiro. Quero um clipper, 'tás a ouvir?
Sergei: Sim, patrão!
Ford: Corre, porra! Já!
Sergei: Aí vou eu, patrão!
Ford: Toino. Ah...deixa-me sentar um bocadinho. Está fresquinho, não acham?
Max: Também reparámos nisso, meu senhor.
Ford: Bem bom. Agora desfrutemos o silêncio.

seis minutos e vinte e quatro segundos depois.

Sergei: Patrão!
Ford: Acordem, porra. O Sergei chegou. Trazes o lume?
Sergei: Não, patrão. O Peckinpah foi com o Sam e o Nick à caça de perdizes.
Ford: Ai a puta da minha vida...fedelhos insolentes, foda-se!
Max: Vem ali o Lang, pode ser que ele tenha lume.
Lang: Ora viva. Hoje ganhou a corrupção. É a vitória da imoralidade, do Mal, dantesco.
Ford: Já deliras? E lume, tens?
Lang: Não, dei o último fósforo ao Stroheim. Deliro, chefe? Não viu aquela pouca vergonha do terceiro golo? Foi tudo planeado. Admita que foi!
Ford: Não te admito esse tom, ouviste? E o pénalte do Cardozo, hem? Duas vezes a bola com a mão!
Lang: Ai é? E o Janko a tentar foder o Maxi? Não viu?
Max: Acho que fiz merda...
Ford: Vi. O Pasolini já meteu no you tube.
Max, Alfred, Sergei, Lang: todos a rir.
Ford: Mandei-vos rir? Caluda. Vamos embora.
Max: Adonde, chefe?
Ford: Sigam-me que já vos mostro. Vai haver morteirada se aqueles três fedelhos não estão ao meu lado dentro de uma hora.
Lang: Chefe...posso tratar do Von Trier quando ele cá chegar?
Ford: Não. Já encarreguei a Ida Lupino disso.
Lang: Ui, tá fodido.
Alfred: Fodeu geral.
Max: Antes ele do que eu.
Lang: O Mal ganhou, chefe. Admita!
Ford: E o pénalte do Cardozo, pulha?? Bom, chegámos.

sexta-feira, 2 de março de 2012

carta aberta a Deus.

Caro Max Monteiro,

Estáis, com certeza, neste exacto momento refastelado num qualquer sofá luxuoso à beira de um lago luxuriante, esperando a todo o momento os jaquinzinhos fritos com arroz devidamente malandrinho diligentemente trazidos pelo criado Vasconcelos. Chupas portugueses suaves enquanto o diabo esfrega um olho, e lês o policial Hoderlin com a tranquilidade dos afortunados. Daí consegues ouvir o Derek Jarman, esse não talento, a ser enrabado pelo Rock Hudson no meio dos frondosos arbustos. Não te quero incomodar muito, e bem sei que uma vez, na entrevista a um jornal desportivo que o pudor ensina a não mencionar, disseste que "eras dos três grandes", e já para não referir a tua desgraça clubística no Recordações. Mas, Mestre, Barão dos barões, tende piedade da minha simplória condição humana, e arvoreia qualquer processo que faça o grande FCP de sair hoje vitorioso naquele antro, senhor, amo, mesmo com o Sapunaru, o Maicon, o Cebola ou o Djalma, suplico-vos. Se assim o fizerdes, prometo, pela sua majestosidade e glória, que jamais voltarei a proferir ou a escrever quaisquer  injúrias soezes contra os filmes da filha do Coppola, contra o Honoré, o Noé, os Scott, o recente Van Sant, o Tree of Life, o Tarkovsky, o Payne, entre outros. É uma tarefa hercúlea para mim, bem sei, rapaz de fraca ponderação, tal como a tua não o é menos; só de imaginar o Nolito com o Sapunaru pela frente dá-me um engasganço no prepúcio. Mas com muita vontade e "espírito de sacrifício", Rei dos Gelados e dos brochins mandarins, vamos conseguir cumprir as nossas missões quase impossíveis, De Palma o guarde. Virgem Santíssima.

quinta-feira, 1 de março de 2012

nutritivos.


Dois belos espécimens de domesticidade invadida por uma série de trabalheiras. Em Tokyo Sonata, o "flagelo do desemprego", em Benny's Video, "a nefasta influência dos media na sociedade". Ambos mantendo sempre uma relativa distanciação aos seus personagens: planos médios e marcha lenta no seu ritmo, ou como a pedantaria gosta de afirmar, "formalismo rigoroso". O que interessa aqui, verdadeiramente, é a comida. Teruyuki Kagawa, no filme de Kurosawa, mete quarenta kilos de arroz na boca, mais uns condimentos que desconheço. Arno Frisch, no do barbudo, reparte pizzas, come iogurtes depois de completar os "deveres escolares", enfarda torradas. Os directores de som fizeram um belo trabalho. Kagawa despeja mais uma tonelada de arroz pela garganta, e agora é Frisch que responde com um belo triturar de pão com manteiga. Sempre em "formalismo rigoroso" (não há, felizmente, nenhum plano de skates com filtros). Não chega perto da selvajaria do Ferreri, mas serve muito bem os propósitos gustativos. Fode-te cinema, viva as propriedades alimentícias. Gostei do Hugo.