sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Transit, Christian Petzold.



Câmara-Parkinson? Não. Num tempo em que deficientes motores como os Safdie são elevados aos píncaros de uma grande arte, ainda é bom saber que restam uns quantos que resistem ao "vale-tudo-cinematográfico". É o melhor do filme, sobretudo os enquadramentos no quarto onde vivem a Nina...perdão, a Paula Beer e o namorado/amante/amigo colorido. Isso e o azulão do mar marselhês. Bela cidade. Andámos mais lá num dia do que na última meia dúzia de anos. 

Hoje, num mundo atolado em fascismos evidentes e outros latentes, onde o populismo e a demagogia da extrema-direita levam para maus caminhos uma incauta população repleta de medos e inseguranças, onde Bolsonaros, Trumps, Dutertes, Orbans, Abascais (mas nunca Maduros e Ortegas...), entre outros maus fígados, aproveitam-se da falta de memória e da inacreditável estupidez humana para conseguirem os seus malévolos intentos, resta ao cinema, uma arte social e indelevelmente sintonizada com as problemáticas geo-políticas do mundo, denunciar, de forma mais alegórica ou mais directa, todos estes e outros bandidos do mesmo quilate. Ontem os refugiados do nazismo, hoje os refugiados magrebinos, amanhã os pobres imigrantes muçulmanos que nem sequer têm um sabãozinho para construir uma bomba caseira. Quê? Oportunismo político? Seu fideputa. Acusações que só poderiam provir de um facita. Sim.

Uma narração insuportável, demonstrativa, mero ruído sonoro, com ares de transmitir uma maior "profundidade" ao périplo da personagem principal? Sim

Paula Beer como doppelganger da Nina Hoss? Sim

Um actor principal com o carisma de um leitão no espeto ? Sim

Sempre teremos "Wolfsburg", "Gespentser" ou "Jerichow"? Sim